A queda das cotações das principais commodities nos mercados internacionais continua a manter os preços de itens como a soja e o milho em baixa. A expectativa dos economistas é que os produtos agrícolas registrem a quinta deflação consecutiva em maio, o que manterá o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP - M) próximo da estabilidade. Em média, 12 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data projetam alta de 0,04% do índice neste mês, ante avanço de 0,15% em abril. As estimativas para o IGP-M, que será divulgado hoje pela Fundação Getulio Vargas (FGV), variam entre queda de 0,01% e avanço de 0,08% no mês.
Para Luis Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que tem peso de 60% no IGP-M, deve ter registrado deflação de 0,20% em maio, queda mais acentuada do que a retração de 0,12% observada um mês antes. Na avaliação do economista, as baixas dos produtos agropecuários devem ter se intensificado no período, enquanto os produtos industrializados subiram em torno de 0,5%.
Para o IPA-Agro, o economista projeta queda de 2,35% neste mês, ante deflação de 1,82% em abril. Se confirmado este resultado, será a quinta deflação consecutiva dos preços agropecuários. Para Leal, o comportamento desses itens no atacado refletiu, no início do ano, a valorização do real e, mais recentemente, a queda das cotações de commodities como a soja e o milho no mercado externo. Aves e suínos também passaram a contribuir para o resultado negativo, principalmente porque insumos usados na ração desses animais tiveram queda importante de preço desde o início do ano.
Para Leal, os produtos agropecuários só passarão a subir a partir do fim de junho. Embora a perspectiva seja de preços de commodities ainda em trajetória suave no exterior, Leal lembra que o dólar está se valorizando contra uma cesta de moedas, inclusive o real, o que pode mitigar esse efeito. Em sua avaliação, portanto, o cenário externo tem efeito neutro para a inflação doméstica.
Para Andrea Damico, economista do Bradesco, é mais provável que este movimento de reversão da trajetória do IPA-Agro só comece a ocorrer em julho. A economista projeta deflação de 2,19% dos preços agropecuários em maio. Entre os destaque de baixa, além dos grãos e das carnes, Andrea cita os alimentos in natura, como o tomate, que também estão começando a mostrar comportamento mais favorável.
Os produtos industrializados, por sua vez, seguirão pressionados pelo minério de ferro. Os economistas não esperam que a commodity repita a alta de 8,33% observada em abril, mas avaliam que este ainda será o item a dar a principal contribuição positiva para o IPA.
Andrea projeta avanço de 0,60% do IPA-Industrial, ante alta de 0,54% há um mês. Além do minério, a economista do Bradesco avalia que os alimentos industrializados, que estavam em deflação, já caminham para campo positivo e vão contribuir para a aceleração do índice no atacado na passagem mensal.
Para Leal, do ABC Brasil, o reajuste dos remédios também pesará no resultado. No atacado, os medicamentos vão contribuir para que os produtos industriais repitam a alta de 0,5% observada em abril, mesmo com a desaceleração esperada para o minério de ferro. O impacto desse reajuste também será sentido no varejo e explicará parte do avanço de 0,38% do Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M), que tem peso de 30% no IGP-M. Leal ainda enxerga outras pressões sazonais, como em vestuário.
Os alimentos, por sua vez, não vão mais ser o vilão da inflação e devem subir menos do que o índice geral, diz. Em abril, o IPC subiu 0,60%, puxado principalmente pela alta de 1,26% de alimentação.
Andrea, do Bradesco, projeta alta de 0,33% do IPC-M e também avalia que os alimentos terão papel significativo para esse movimento. "A deflação de alguns produtos no atacado, como o tomate, devem chegar ao varejo, o que está ajudando nesta desaceleração", afirma.
Já divulgado, o Índice Nacional de Custo da Construção subiu 1,24% em maio, ante 0,84% no mês anterior. O resultado foi bastante influenciado pela alta de 1,88% da mão de obra no período, em função do reajuste salarial dos trabalhadores de São Paulo, principalmente. O resultado, avalia Leal, surpreendeu e adicionou cerca de 0,04 ponto porcentual à sua projeção. O INCC tem peso de 10% no IGP-M.
Veículo: Valor Econômico