Estoques fartos ainda barram recuperação de preços do café

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A persistente trajetória de queda das cotações internacionais de café norteou discussões em dois importantes eventos realizados ontem na capital de São Paulo. E tanto no seminário "Perspectivas para o Agribusiness em 2013 e 2014", organizado pela BM&FBovespa e pelo Ministério da Agricultura, quanto no 5º Fórum Coffee & Dinner, promovido pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CeCafé), predominou o sentimento de que é pequeno o espaço para reações significativas no curto prazo, dados os atuais fundamentos globais de oferta e demanda que norteiam a direção dos preços.

Durante o seminário, o diretor comercial da Exportadora de Café Guaxupé, João Carlos Hopp Junior, resumiu bem esse pessimismo. Para ele, o mercado global de café pode demorar pelo menos dois anos para se ajustar e produzir um novo ciclo de alta. Segundo ele, a commodity só deve efetivamente começar a se recuperar a partir de setembro de 2015, quando terá início o período de entressafra da entressafra da temporada 2015/16.

O problema, disse, é que o Brasil enfrenta dificuldades para enxugar seus estoques diante do fraco desempenho das exportações. A empresa, uma das maiores tradings do segmento no país, estima que o Brasil vai encerrar a safra 2012/13, em 30 de junho, com mais de 13 milhões de sacas de 60 quilos em seus armazéns, o que significa um aumento de quase 8 milhões de sacas em relação ao fim do ciclo anterior.

"Para trazer esse estoque para um nível considerado altista, de aproximadamente 4 milhões de sacas, teríamos de exportar 44 milhões de sacas na safra 2013/14", afirmou ele. As exportações da safra 2012/13 são estimadas em 31 milhões de sacas, 1 milhão a mais que em 2011/12, mas 4 milhões a menos do que no ciclo 2010/11. Para a nova safra, Hopp projeta embarques de 39 milhões de sacas, suficientes para reduzir os estoques domésticos para aproximadamente 9 milhões de sacas.

A queda das exportações, observou o executivo, deve-se sobretudo ao aumento da produção mundial. Na safra 2012/13, estima, o mundo produziu um superávit de 10,9 milhões de sacas, depois de gerar um excedente já grande (6,2 milhões de sacas) na temporada anterior. "A grande surpresa foi o Vietnã, que aumentou muito a sua produção de café robusta e inundou o mercado nas últimas temporadas", observou.

De acordo com o especialista, esse superávit deve ser praticamente zerado na safra 2013/14, com a redução da colheita brasileira (ano de baixa produtividade no ciclo bianual dos cafezais), mas deverá voltar a crescer na safra seguinte (ano de alta produtividade do ciclo brasileiro). "O ajuste deverá vir apenas na safra seguinte [2015/16], quando projetamos um déficit de 6,8 milhões".

Hopp pondera que o cenário baixista não deverá provocar uma retração da área plantada com café no Brasil. "Dois ou três anos de preços ruins não são suficientes para fazer o verdadeiro produtor de café desistir da cultura. Esse é um investimento de longo prazo", ponderou. Em 2013/14, estima, o Brasil deverá colher 55 milhões de sacas, ante 59 milhões na safra anterior.

Hopp disse, ainda, que os preços não deverão recuar muito além dos patamares atuais. "Os fundos já estão vendidos em quase 8 milhões de sacas de café na bolsa de Nova York, o que é uma posição muito grande. Quando eles liquidarem essa volume, os preços vão reagir".

Desde 3 de maio de 2011, quando bateram recorde, os futuros de segunda posição de entrega do café arábica negociados na bolsa de Nova York cederam 58%. Em 2013, a commodity acumula baixa de 12,4%, para o menor nível 29 de setembro de 2009. Para a safra 2013-14, prevê o diretor da Exportadora de Café Guaxupé, o preço do café deve oscilar entre R$ 270 e R$ 290 por saca no mercado interno, com picos de R$ 300 a R$ 330 na entressafra.

No fórum do CeCafé, Carlos Brando, consultor da P&A Marketing, observou que, nesses tempos de incertezas globais no campo econômico-financeiro, os grandes destaques do mercado de café são as monocápsulas e o solúvel, impulsionados pelos preços mais baixos. Assim, a espécie robusta, de qualidade inferior a do arábica - que lidera a produção e as exportações brasileiras -, se valorizou e ampliou o desafio do Brasil.

Mas, mesmo que o sentimento geral seja negativo para os preços do arábica no curto prazo, há quem esteja mais otimista. Para Judith Ganes-Chase, presidente da J. Ganes Consulting, os estoques são menores do que indicam a maior parte das estimativas, o que pode abrir as portas para uma valorização.



Veículo: Valor Econômico


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