Graças à flexibilização da entrada de produtos na Argentina pelo governo daquele país em abril, o volume de exportações das empresas do Grande ABC mostrou reação. As vendas dos sete municípios ao mercado externo cresceram 22% de um mês para o outro e, com isso, no acumulado do primeiro quadrimestre somaram US$ 2,07 bilhões, 3% mais que no mesmo período de 2012. Isso significou uma reversão de sinal, já que, neste ano até março, as encomendas ao Exterior vinham em queda de 3% ante o trimestre inicial do ano passado.
Os números, divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, mostram a melhora na relação com nossos vizinhos. Como exemplo, nos três primeiros meses do ano, o faturamento obtido por companhias de São Caetano com produtos enviados para esse mercado mostravam recuo de 17% frente a igual período de 2012. No quadrimestre, a retração passou a ser de apenas 2%. A Argentina representa mais de 80% das encomendas são-caetanenses ao mercado internacional. No caso de São Bernardo, em que o peso é de 48%, havia pequena queda nos envios no trimestre, que agora se tornou expansão de 11%.
A melhora na liberação de mercadorias na alfândega surpreendeu positivamente empresários da região. Para o diretor adjunto da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Caetano, William Pesinato, a notícia é bem-vinda. “A Argentina, pelo jeito, anda precisando de produtos”, disse.
A explicação para a mudança de humores do governo da presidente Cristina Kirchner é simples, segundo especialistas. “Havia a expectativa (daquela administração federal) de que haveria o ingresso de divisas provenientes da soja e do milho (itens exportados)”, afirmou o presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro. Porém, ele ressalta: “Os preços (desses itens agrícolas) estão caindo. Eles vão ter de fechar (a fronteira) de novo”. Enquanto os exportadores brasileiros perderam espaço nas vendas para os nossos vizinhos, os chineses ganharam mercado. E por que isso ocorre? “A China empresta dinheiro para a Argentina (comprar produtos)”, observa.
Além disso, nossos parceiros no Mercosul ainda não liquidaram pendências com credores internacionais desde que pediram moratória (em 2001). Por isso, dificultam o pagamento para os exportadores brasileiros de manufaturados (como veículos e autopeças), que são o forte das indústrias do Grande ABC. A região tem entre os principais itens exportados chassis de ônibus e caminhões – representam juntos 20% das encomendas externas de São Bernardo –, e carros médios (que, por sua vez, são 20% das exportações de São Caetano).
Por outro lado, a valorização do dólar ajuda as empresas que vendem ao Exterior, já que aumenta a rentabilidade dos produtos – as companhias ganham mais em reais com o mesmo valor do item em dólar. A coordenadora de exportações Isabel Okamoto, da Tito Global Trade, assinala que quando a taxa cambial piora, os clientes seguram um pouco as encomendas. A alta da moeda norte-americana, que estava em R$ 2 no início do mês, chegou ontem a R$ 2,12. Porém, a tendência de apreciação não deve se manter, avalia Castro. “O governo está mais preocupado em conter a inflação”, cita o dirigente da AEB.
Grande ABC segue com deficit comercial no quadrimestre
O Grande ABC segue com deficit comercial, ou seja, com importações maiores do que as exportações no primeiro quadrimestre. O saldo negativo chega a US$ 276 milhões. Além disso, a entrada de produtos de outros países vem se acelerando: cresceu 25% nos quatro meses iniciais deste ano ante mesmo período do ano passado.
O cenário da região reflete o que acontece em todo o País, pelo que os sete municípios representam como importante polo exportador, avalia o professor de Economia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Francisco Funcia.
Se analisados só os produtos manufaturados (das indústrias de transformação), o Brasil também tem deficit comercial: neste ano até abril chega a US$ 37 bilhões, depois de fechar 2012 com US$ 94 bilhões. O último ano de superavit, nessa área, foi em 2006 (US$ 5 bilhões de saldo positivo). “Isso aconteceu quando o real começou a se valorizar”, afirmou o presidente da AEB, José Augusto de Castro.
Veículo: Diário do Grande ABC