Membros do governo federal assinalaram ontem que o próximo pacote para o setor agrícola será mais animador do que o do ano passado. O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Neri Geller, atestou que o Plano Safra 2013/2014 terá mais verbas disponíveis aos produtores com relação ao período 2012/2013 e deverá atender "mais de 80% das demandas do setor". No plano para a safra 2012/2013, foram acessados até agora R$ 96 bilhões dos R$ 115 bilhões disponibilizados até junho. O secretário esteve ontem em um evento em São Paulo organizado pela BM&FBovespa para discutir as perspectivas para o agronegócio na próxima safra.
Segundo Geller, o governo pretende trabalhar com três eixos de política agrícola no próximo ano: crédito, comercialização e venda. Ele ressaltou que, para garantir o eixo da comercialização, é preciso avançar nos investimentos em armazenagem e em logística em geral, mas não adiantou qual será a verba alocada para o Plano Nacional de Armazenagem, que será anunciado junto com o Plano Safra. Por enquanto, o mercado trabalha com a possibilidade de um pacote de R$ 730 milhões para o próximo período.
O secretário detalhou apenas que o plano concederá linhas de financiamento diretamente aos produtores para que eles contratem, a juros e prazos diferentes dos previstos nos demais investimentos, armazéns e silos da indústria fornecedora. "A questão da logística tem complicado a comercialização, mas está começando a avançar. Entendemos que temos que nos concentrar na questão da logística", afirmou.
Geller advertiu que a indústria de silos e armazéns terá que se preparar, porque atualmente a demanda já está aquecida. Segundo o secretário, os fornecedores de armazéns têm demorado de três a cinco meses para iniciar as entregas aos produtores, diante de um déficit de armazenagem de 35 milhões de toneladas, que estão concentrados principalmente nas fronteiras agrícolas que com duas safras seguidas.
O secretário executivo do Mapa, José Gerardo Fontelles, ressaltou que o grupo tripartite formado para a elaboração de políticas de logística e infraestrutura, composta por membros de sua pasta, do Ministério dos Transportes e da Secretaria dos Portos, está se reunindo toda semana em Brasília para elaborar políticas conjuntas para o setor.
Para o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Carvalho, o valor ideal no Brasil para o investimento em infraestrutura seria correspondente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB), o que no ano passado equivaleu a R$ 88 bilhões. "O Brasil investe 0,36% do PIB em transporte de carga e logística. A Índia investe 7%", compara Carvalho.
Outras políticas
As reivindicações dos produtores para maior cobertura do seguro rural também devem ser atendidas, ao menos em parte. O vice-presidente de agronegócios Banco do Brasil e presidente do conselho de administração da Bolsa Brasileira de Mercadorias, Luís Carlos Guedes, afirmou ao DCI que "o governo vai ampliar significativamente os valores" do seguro para as culturas de soja, milho, algodão, trigo, arroz, uva e maçã, que tradicionalmente recebem 90% da verba de todo o seguro rural. Com mais verbas, Guedes espera que também aumente o valor da produção destas lavouras.
O aumento da verba e da área segurada foram dois pleitos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que pede que o governo destine R$ 860 milhões nesta safra, contra os R$ 400 milhões do último período, que seguraram 6 milhões de hectares.
Além do seguro rural, o secretário de Políticas Agrícolas do Mapa sinalizou que o governo pretende intensificar as políticas de preço mínimo para apoiar a comercialização. Dentro desta ferramenta, a prioridade será o algodão, cujo preço mínimo atualmente é de R$ 44,60 a arroba e que deve ser reajustado já no próximo Plano Safra, segundo Geller. Os baixos preços praticados no mercado têm deprimido a cultura, que recuou 36,4% em área plantada e 32,8% em produção, segundo os últimos dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Além do algodão, ele indicou que o preço mínimo do milho safrinha também deverá ser reajustado.
Geller informou ainda que o novo Plano Safra incluirá um novo programa de inovação tecnológica para tornar mais acessível as inovações técnicas aos pequenos e médios produtores que possuem menos capitais, principalmente da Região Sul do País. Ele não citou valores nem quis detalhar quais culturas serão mais beneficiadas, mas deu o exemplo da avicultura sulista, que segundo ele possui déficit na adoção de tecnologias de produção.
O secretário acrescentou que o governo continuará e ampliará o Plano ABC, um programa de estímulo à produção de baixo carbono criado em 2010. Na safra 2012/2013, os produtores acessaram até este mês R$ 936 milhões, de um montante de R$ 3,4 bilhões disponibilizados para o período.
Veículo: DCI