O saldo de empregos (relação entre contratações e demissões) na indústria têxtil e de confecção nacional contabilizou um aumento de 115% no primeiro quadrimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2012. O movimento vai na contramão da produção, que registrou uma retração de 8,06% no comparativo com o mês de março de 2012, além de uma diminuição de 7,11% no acumulado de janeiro a março deste ano.
As informações, compiladas pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), apontam uma melhora tímida do setor, que tenta se reerguer após dois anos difíceis.
Segundo o diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi), Marcelo Prado, o crescimento do saldo entre contratações e demissões, apesar de positivo, não pode ser considerado um grande resultado, pois o aumento parte de uma base baixa, ou seja, não há uma melhora realmente significativa.
Em abril de 2012 o saldo ficou em 3.140, enquanto neste ano, o índice atingiu 5.315, uma elevação de 69% segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
"É importante ressalvar que o número apontado ainda é muito pequeno, por isso, a análise tem que ser cuidadosa", disse Prado. Segundo o especialista, a melhora no quadro de funcionários e as novas contratações podem ser explicadas pelos lançamentos de novas coleções na ponta final da cadeia, no varejo.
"É natural que os índices da indústria têxtil e de confecção melhorem nessa época do ano, onde novas coleções são lançadas, e as fábricas, consequentemente, precisam de mais mão de obra", ressaltou Prado.
De acordo com o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, também é necessário levar em consideração a questão da sazonalidade, assim como a queda no índice de produção.
Para ele, não é possível assegurar que o bom resultado obtido no primeiro quadrimestre se mantenha até o final do ano, pois essa questão está relacionada com o momento econômico enfrentando pelo Brasil, além dos índices de produtividade do setor.
Se a situação da economia nacional piorar ou a capacidade produtiva do setor não evoluir, afetando ainda mais a competitividade, é possível que aconteçam mais demissões, como as observadas nos últimos anos.
"Os fabricantes estão investindo em um processo contínuo de formalização, retenção de mão de obra e contribuição patronal para a Previdência, no entanto, os resultados não serão positivos se a produção e a competitividade não aumentarem", disse.
Vale ressaltar que o Ministério Público do Trabalho (MTP) tem autuado com firmeza as empresas do setor têxtil que não cumprem as regras trabalhistas, principalmente os casos de oficinas clandestinas com trabalhadores em situações análogas à escravidão.
Em relação ao tripé de ações tomadas para melhorar a gestão das empresas do segmento, Pimentel explica que a contribuição patronal para a Previdência Social, que no ano passado somou R$ 800 milhões (0,8% do faturamento) ajudou na contratação de mais funcionários para a indústria de confecção.
Segundo Prado, do Iemi, espera-se que a produção da indústria têxtil e de confecção em 2013 cresça em torno de 2%. "Este ano está mais tranquilo pois as variações, principalmente com relação ao custo das matérias-primas, estão mais tênues", disse.
Depois de dois anos ruins, com a importação favorecida pela taxa de câmbio, Prado acredita que a indústria brasileira precisará investir em diferenciais e inovação para competir com os produtos estrangeiros e atrair a atenção das empresas nacionais.
De acordo com os dados divulgados pela Abit, as importações de produtos têxteis e de confecção aumentaram 9% no primeiro quadrimestre desse ano em comparação com o mesmo período do ano passado, contabilizando US$ 2 bilhões movimentados nos quatro primeiros meses de 2013.
Já as exportações cresceram 7,2% no mesmo período de comparação, somando US$ 433 milhões movimentados entre janeiro e abril desse ano.
Sinditec
O Polo Tecnológico da Indústria Têxtil e de Confecção dos Municípios de Sumaré, Santa Bárbara d' Oeste, Nova Odessa, Hortolândia e Americana, criado em 2002, também sofreu com a queda no número de vendas em 2012.
Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de Americana, Nova Odessa, Santa Bárbara d' Oeste e Sumaré (Sinditec), Dilézio Ciamarro, as empresas instaladas na região (1.165 no total) demitiram 20% dos funcionários no ano passado.
"Em 2012, tivemos uma retração de 20% da mão de obra, mas nesse ano já conseguimos recuperar essa perda contratando mais", disse. Atualmente, 31.500 pessoas trabalham no setor têxtil da região e o maior desafio está na especialização dos novos funcionários, pois os demitidos migraram para outros setores, como metalúrgicas e siderúrgicas.
Veículo: DCI