Dona das marcas Barbie e Hot Wheels, a Mattel, maior fabricante mundial, quer mudar sua imagem de importadora
Empresa diz que produzir a linha para bebês sairá mais caro do que importar, mas custo não será repassado
Maior fabricante de brinquedos do mundo, a Mattel está iniciando a produção nacional de sua linha para bebês Fisher-Price, hoje importada da China.
A medida faz parte da estratégia da companhia de mudar a sua imagem no país. "Queremos ser o maior fabricante de brinquedos do Brasil", afirma o presidente da Mattel no país, o mexicano Ricardo Ibarra.
A empresa, que até então fabricava no Brasil apenas quebra-cabeças e jogos de cartas, em parceria com Grow e Copag, é vista como importadora pelos concorrentes locais e nem faz parte da Abrinq, associação do setor.
Na ponta do lápis, fabricar Fisher-Price no Brasil não faz sentido: o custo de produção será maior do que na China, mesmo com o imposto de importação, de 35%.
"Custa mais caro produzir aqui, mas estamos dispostos a fazer o que for necessário para nos adequarmos às regras locais. O Brasil é um país que pune a importação", afirma Ibarra.
Ele não revela, contudo, quão mais cara é a produção local. "Nossa visão não é a de maximizar lucros no curto prazo e, sim, garantir presença de longo prazo no país."
VICE-LÍDER
Praticamente irrelevante há uma década, o Brasil é, desde o ano passado, o segundo maior mercado para a Mattel no mundo.
A linha Fisher-Price chega às lojas neste mês e será produzida de forma terceirizada pela Líder Brinquedos.
Neste primeiro momento serão produzidos apenas três brinquedos de encaixar ou empilhar, os mais básicos. O restante da coleção continuará vindo da China.
Segundo Ibarra, a adequação da fábrica da Líder aos padrões globais de qualidade da Mattel levou 16 meses de trabalho conjunto. "É uma transferência de tecnologia para a indústria nacional, que pode se beneficiar com a introdução de novas práticas de manufatura e de trabalhar com melhores fornecedores."
PRODUÇÃO LOCAL
A Mattel espera vender 200 mil brinquedos Fisher-Price "made in Brazil" neste ano.
A empresa já contabiliza outros 3 milhões de produtos nacionais, vendidos no ano passado, e que saíram das fábricas da Grow e da Copag.
A parceria com a Grow começou em 2012. Das fábricas da empresa saem quebra-cabeças com imagens de Barbie e Hot Wheels, entre outras, desenvolvidos pela Mattel exclusivamente para o Brasil.
A parceria com a Copag já tem mais de quatro anos e envolve o jogo de cartas Uno.
Apesar do grande volume, jogos de cartas e quebra-cabeças são produtos de baixo valor: custam entre R$ 5 e R$ 20. A conta da fabricação nacional da Mattel não inclui produtos licenciados, que estampam as marcas da empresa e são produzidos e distribuídos por terceiros.
Ibarra afirma que planeja produzir localmente brinquedos de maior valor, como bonecas Barbie e carrinhos Hot Wheels, mas não dá prazo.
"Não há capacidade instalada na indústria local com condições para produzirmos esses brinquedos, mas trabalhamos para isso e procuramos os experts locais."
O executivo diz, no entanto, que não está nos planos ter fábrica própria. "Nunca falamos nunca para nada, mas não é nosso modelo de negócios." A Mattel tem 45 fábricas pelo mundo, mas só nove são próprias.
LICENCIAMENTO
Fabricar e vender brinquedos é apenas uma parte das atividades da Mattel, que lucra alto com o licenciamento das marcas Barbie, Hot Wheels, Monster High, Polly e Max Steel.
"Somos uma companhia de marcas, mais do que uma indústria de brinquedos", afirma o presidente.
"Mesmo nos licenciamentos, nós nos envolvemos em todas as etapas do desenvolvimento dos produtos para garantir que a marca seja exibida de forma adequada, em linha com os princípios da companhia", diz Ibarra.
Só no Brasil, a empresa tem 80 parceiros, com os quais trabalha das mais variadas formas.
Alguns fabricantes, como Caloi, Grendene e Regina Festas, também exportam produtos licenciados da Mattel. "Nossas marcas são até exportadas. Não podemos ser chamados de importadores."
A Mattel faturou US$ 6,4 bilhões em 2012, sendo US$ 1 bilhão na América Latina. A empresa não divulga números separados para o Brasil.
Globalmente, as vendas da Mattel cresceram 2% no ano passado. No Brasil, o crescimento passa de dois dígitos, segundo o presidente da empresa no país.
Veículo: Folha de S.Paulo