A queda da confiança do consumidor brasileiro registrada nos últimos seis meses, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), é um dos principais desafios do varejo para o segundo semestre. Um dos pontos positivos é que o crédito continua em alta e a solução é o incremento das promoções sazonais, de acordo com varejistas e especialistas ouvidos pelo DCI.
Segundo pesquisa recente da Nielsen, as classes C e D, que hoje representam quase 70% dos consumidores brasileiros, são mais suscetíveis às promoções. "Em supermercados, por exemplo, a abrangência dessas classes soma mais de 70%, e boa parte dessas compras é feita com promoções que elevem o custo-benefício da compra", disse Antonio Negrão, coordenador do núcleo de varejo da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Segundo o professor, as classes emergentes apostam em promoções em função da administração mensal da renda. "Isso gera uma busca constante de promoções. Há muitas famílias que fazem suas compras mensais de supermercados, por exemplo, em duas ou três redes, para encontrar os melhores preços", completou.
Para Nelson Barrizzelli, especialista em perfil do consumidor e professor da Universidade São Paulo (USP), o incentivo da compra com promoções é eficaz.
"Promoções do tipo 'leve mais e pague menos', 'compre agora e ganhe desconto' são as que mais seduzem esse consumidor", detalha o acadêmico.
Na avaliação de Antonio Negrão, a alta nas vendas com promoções relâmpagos, dessas que duram algumas horas, pode ser de até 60%. "Esse tipo de incremento, principalmente em supermercados, tem apelo muito forte e resultado eficaz", define.
Para as outras áreas do varejo, a aposta em promoções também não é descabida. Segundo Alexandre Guttierez, sócio da rede mineira de beleza Bella Dona , o incremento nas vendas chegou a 30% ao mês com as promoções. "Começamos a fazer um dia temático por semana, para impulsionar a compra com o desconto", disse ele explicando que as promoções que mais tinham retorno eram quando o consumidor ganhava desconto na compra de um segundo item.
O executivo, que conta com três unidades na região metropolitana de Belo Horizonte, afirmou ainda que uma alternativa é fechar acordos com fornecedores, para que eles também repassem a mercadoria com preços promocionais. "A cadeia toda precisa trabalhar junta para atrair o consumidor. Quando aparece um produto novo, ou uma marca nova, nós temos contato com indústria, para que eles façam preços promocionais, para que passemos ao consumidor final e assim ampliar as vendas".
Entre as lojas de departamento, a Semann, também voltada para a classe emergente e que atua no varejo e no atacado, tem investido em variedade de produtos e brinquedos para registrar alta nas vendas. "Teremos muitas opções para o comércio enfrentar períodos não sazonais, aumentando suas opções e rentabilidade", diz Marcelo Mouawad, diretor comercial da distribuidora.
Segundo o executivo, entre as apostas para o incremento nas vendas estão os produtos licenciados "Monstros Universidade, Galinha Pintadinha e Monster High", detalha o executivo. Já na linha de pelúcia ele ressalta a Boo, personagem do Monstros S/A, que é uma licença exclusiva da empresa. "Nossa ideia é criar um mix de segmentos, como papelaria e brinquedos, cosméticos com papelaria, bebês e supermercados, entre outros, fazendo com que uma área crie sinergia com a outra", comenta Mouawad.
Entre as redes médias de supermercado, a aposta em promoções também é opção. A rede supermercadista Confiança, aposta no incremento das vendas de itens para festa junina ao longo deste mês, e o investimento em promoções também foi uma saída. "Produtos como amendoim, canela em rama, canjica, cravo, farofas, fubá, mistura para bolos e milho para pipoca são os mais comercializados durante as festividades", diz Carlos Spoldaro, gestor de compras do Confiança. Segundo o executivo, a perspectiva é uma alta de 20% nas vendas entre junho e julho.
Pesquisa
Segundo a pesquisa de tendência de consumo do brasileiro, realizada pela consultoria Nielsen, as marcas que abaixaram os preços dos produtos têm mais chances de aumentar os lucros.
O balanço, que analisou o comportamento do consumidor em 2012, afirmava ainda que das marcas líderes de mercado que abaixaram os preços no varejo, 51% conquistaram a classe C no ano passado. Entre as classes D e E, as ofertas beneficiaram 57% das marcas.
"Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) apontou que ano passado 65% das categorias do varejo fizeram promoções esporádicas e o crescimento médio nas vendas foi de 20%", afirmou Negrão.
"Em caso de ações como venda de eletrônico, com pilhas de produtos no meio da loja e descontos acima de R$ 50 reais a alta é ainda maior", finaliza o professor.
Indicador
A pisada no freio das compras do brasileiro também foi verificada pelo IBGE. Na última semana o instituto apontou esfriamento nas compras, ao registrar que, nos primeiros três meses do ano, a variável de compras ficou praticamente estável em relação aos três últimos meses do ano passado, com alta de 0,1%. Na mesma análise, o Produto Interno Bruto (PIB) do período teve alta de 0,6% .
"Há diversos fatores que explicam essa desaceleração do consumo, como a inflação em alta. A massa salarial real está sendo corroída", afirmou em nota oficial, Rebeca de La Rocque, especialista do IBGE.
O estudo também apontou que o ritmo menor de crescimento do crédito para pessoa física e a volta gradual do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), segundo o IBGE. Na comparação entre os três primeiros meses do ano e o mesmo período de 2012, o instituto apurou que o consumo teve alta, com elevação de 2,1%. Segundo o IBGE, este foi o 38º crescimento consecutivo nesse tipo de comparação.
Veículo: DCI