Clima, falta de mão de obra e redução da área de cultivo são motivos do aumento de 30,1%
Tendência é de o preço do feijão começar a cair já nas próximas semanas, de acordo com especialistas
Depois do tomate e da cebola, o feijão deve ser o próximo alimento a puxar a inflação. Segundo o IEA (Instituto de Economia Agrícola), órgão ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, a saca de 60 quilos do feijão subiu 30,1% neste ano no campo, passando de R$ 166,77 em janeiro para R$ 216,95 em maio, e o aumento deve atingir o consumidor. Na Ceasa (Centrais de Abastecimento) de Campinas, o quilo do tradicional feijão carioquinha registrou alta de 18,7% no acumulado do ano, saltando de R$ 4,80 para R$ 5,70 o quilo.
Técnico de mercado da Ceasa Campinas, Márcio de Lima confirmou que o preço do feijão teve aumento expressivo no campo, mas que demorará um certo tempo para chegar até as prateleiras dos supermercados. Além do clima, ele cita outros dois fatores que podem ter pesado na expansão do preço: a diminuição das áreas de cultivo do feijão e a falta de mão de obra, problema que afeta todas as culturas no campo.
“Realmente teve uma alta significativa. E se sobe no campo o atacadista já repassa o aumento. Mas essas variações grandes demoram a chegar ao consumidor. Isso pode ter acontecido pela queda de produtividade causada pelo frio e pela chuva, diminuição da área de plantação e falta de mão de obra”, explicou Lima. De acordo com ele, embora o feijão não seja o carro-chefe da Ceasa, o órgão comercializou no ano passado 285,5 mil quilos do grão, o que corresponde a uma média de 23,7 mil quilos por mês.
Proprietário de um box na Ceasa de Campinas, Luis Beleli afirmou que de fato houve aumento no preço do alimento comprado do produtor. No entanto, ele acredita que a tendência é de o preço do feijão começar a ter queda já nas próximas semanas. “Houve alta nos últimos três meses, mas agora o preço estacionou e a tendência é baixar”, destacou Beleli.
Política de estoque
O economista e professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas, Cândido Ferreira da Silva Filho, criticou a falta de uma política de estoque para garantir que o preço não tenha aumento na época de entresafra, e ao mesmo tempo dê garantias ao produtos no período da safra, quando o preço no campo despenca. “O feijão é um alimento de primeira necessidade, e esses produtos agrícolas dependem principalmente do clima e da safra. O governo precisaria ter uma política de estoque para garantir a oferta, o que seria bom para o consumidor e o produtor”, comentou Silva Filho.
O economista explicou que, embora o feijão não tenha um peso muito grande no índice de inflação, o aumento no preço para o consumidor traz um efeito imediato. “A influência do feijão é pequena na inflação, mas é um produto básico e que está na mesa de todo brasileiro. Se subir de preço, a sensação de prejuízo é muito grande. A população deixa de consumir outro produto, mas mantém o feijão porque está acostumada”, ressaltou Silva Filho.
Veículo: Todo Dia - Americana/SP