O setor de logística listado na Bolsa de Valores de São Paulo é a alternativa de preços aos investidores em relação a alta das ações das empresas do setor de varejo e de serviços nos últimos anos.
"Por mais que algumas companhias de serviços e de varejo estejam muito bem, não é interessante pagar o preço de ação com múltiplos de 20 anos o lucro", afirmou André Gordon, sócio da GTI Administração de Recursos, após participar do seminário Macro Minds 2013, promovido pelo Centro de Estudos de Finanças da Fundação Getúlio Vargas, na última sexta-feira, em São Paulo.
Gordon citou o caso da Kroton Anhanguera, cujo preço da ação atingiu 30 vezes o Ebitda, o lucro antes de impostos, taxas, depreciação e amortização da companhia. "A empresa está bem e tornou a maior em educação com mais de 1 milhão de alunos, vendi os papéis, entendo que se o MEC aprovar mais cursos a distância ou cair o número de matrículas existem riscos", alertou.
Como alternativa aos preços dos papéis de varejo e serviços, o executivo apontou as perspectivas para o setor de logística. "Haverá um volume de investimentos muito grande para a infraestrutura nos próximos anos, com a possibilidade de surgir novas empresas e abertura de capital na Bolsa de Valores", aponta.
Ele diz que há oportunidades de negócios para investidores, fundos de private equity e fundos de pensão nas concessões rodoviárias, ferroviárias, aquaviárias, dutoviárias e aéreas que estão programadas para o segundo semestre de 2013. "Serão leiloados 159 novos terminais portuários", quantificou o executivo.
Para justificar a recomendação nas já listadas, Gordon lembrou que as ações do segmento de logística foram muito descontadas por questões regulatórias, mas que afinal o governo federal percebeu a necessidade do capital privado para a expansão do setor. "O risco regulatório já foi testado".
No estudo apresentado no seminário, a GTI mostrou que os preços das ações de logística estão mais atraentes em relação aos demais setores da economia brasileira. "O múltiplo do mercado brasileiro é de 11,4 vezes o Ebitda, na média é barato, mas há setores que subiram muito e outros que estão depreciados", argumentou.
Por esse critério, os setores de TV a cabo, telecomunicações, saneamento, elétrico, bancos, siderurgia, mineração, siderurgia, petroquímico e construção civil estão abaixo da média.
Enquanto os preços mais altos das ações são encontrados nos setores de papel e celulose, TI (leia Totvs), agribusiness, serviços de saúde, consumo, alimentos e bebidas, educação, transportes, varejo, industriais, shopping centers, serviços diversos e serviços financeiros, acima da média.
Na análise individual, as empresas de logística apresentam a seguinte relação preço da ação em relação ao Ebitda - CCR em 10,9 vezes, Log In em 10 vezes, Tegma em 9,2 vezes, Ecorodovias em 8,3 vezes, Wilson Sons em 7,4 vezes, Santos Brasil em 7,1 vezes, Arteris em 7 vezes, Triunfo em 6,2 vezes e Júlio Simões Logística em 4,7 vezes o Ebitda.
Entre os papéis mais negociados do Ibovespa, o estudo da GTI apurou preços atraentes em Petrobras,Vale e Itaúsa. "O caso da Petrobras é o mais interessante, o valor está próximo de 5 vezes, muito barato. O motivo é que o governo não sabe comunicar, mas desde de que a Graça Foster assumiu, o investidor está retomando a confiança, ela já conseguiu três aumentos, e a última ata do Copom [Comitê de Política Monetária] tem a previsão de mais um aumento dos combustíveis", exemplificou Gordon.
O executivo lembrou que o investidor deve olhar os papéis para o longo prazo. "A Petrobras já está produzindo em 10 campos do pré-sal, e o custo está em torno de US$ 40 por barril, é um feito extraordinário em 3 anos e meio de exploração. O preço internacional está em US$ 90", citou.
Outro exemplo citado pelo executivo é da Itaúsa. "Está negociando abaixo de 8 vezes o lucro", argumentou Gordon, comparando a distorção com demais bancos e o próprio Itaú.
Entre as valorizadas pelo investidor, que ele identificou como "queridinhas do mercado" as ações da Ambev, Natura, BRFoods, Renner e M. Dias Branco. "Ainda existem múltiplos aceitáveis em Magazine Luiza e na indústria de fraldas Providência".
O gestor da Fama Investimentos, Maurício Levi, disse que não observa mais a volatilidade do Ibovespa para orientar suas análises. "Temos que sair do macro e ir para o micro. Há grandes oportunidades fora da onda macro", argumentou Levi. Questionado se a redução da expansão monetária nos Estados Unidos poderá afetar a Bolsa brasileira, Levi disse que sim. "Os fundos de pensão terão que ir para ativos de risco para cumprir suas metas atuariais", apontou Maurício Levi.
Veículo: DCI