Em meio à repercussão da queda nos índices de aprovação de seu governo, a presidente Dilma Rousseff anunciará amanhã, no Palácio do Planalto, uma linha de crédito para a compra de eletrodomésticos dedicada especialmente aos beneficiários pelo programa Minha Casa Minha Vida. "A ideia com isso não é melhorar o PIB (Produto Interno Bruto), é melhorar a urna mesmo", disse um senador da base do governo.
Uma pesquisa do Datafolha divulgada no sábado mostra que o número de eleitores que consideram o governo ótimo ou bom caiu para 57%, em comparação aos 65% registrados em março. Além disso, 51% das pessoas ouvidas afirmaram acreditar na tendência de aumento da inflação e 36% na alta do desemprego, resultados maiores, respectivamente, seis e cinco pontos percentuais em relação à consulta anterior.
Os números, no entanto, não surpreenderam o Palácio do Planalto, porque pesquisas para uso interno já demonstravam queda na popularidade de Dilma em consequência, sobretudo, do aumento da inflação. Essa avaliação pode ter contribuído para a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC) de aumentar, em sua última reunião, a taxa básica de juros do país, a Selic, em 0,5 ponto percentual — agora, em 8% ao ano. Os dados preliminares podem ter pesado também para a medida de ampliação do consumo de eletrodomésticos. O Minha Casa Minha Vida tem cerca de 1 milhão de casas entregues e igual número de unidades contratadas.
Para o economista Silvio Campos Neto, da Consultoria Tendências, a relação entre a redução da popularidade e as decisões econômicas do governo — principalmente a elevação dos juros — é inegável. Ele prevê mais duas altas de 0,5 ponto na Selic, nas reuniões de julho e agosto. Depois, a taxa deve ser mantida em 9% até o fim de 2014. "O desejável seria levar a inflação para mais perto do centro da meta, de 4,5%, o que não vai acontecer. Mas, pelo menos, ela ficará abaixo do teto (de 6,5%)", previu. Para a Tendências, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar o ano em 5,6%.
Campanha
O governo também trabalha com um cenário para este ano de inflação sob controle e pequena elevação do PIB. Para um técnico do governo, a segunda parte é um problema menor do que parece. Pelo menos do ponto de vista político. "Pode ser até mais favorável para a reeleição da presidente, porque as pessoas tendem a conservar o que têm. Com a inflação sob controle e o PIB em alta, as pessoas poderiam ser mais ousadas, buscar algo diferente."
Parlamentares da base governista ouvidos pelo Correio afirmam que outro fator pode estar em jogo para reduzir a popularidade do governo: com a antecipação da campanha, os eleitores tendem a ficar mais rigorosos em suas avaliações. Os que votam com a oposição, deixam de registrar opiniões favoráveis ao governo. Assim, o índice de aprovação fica mais próximo do número de pessoas que efetivamente pretendem reeleger Dilma Rousseff. De acordo com a pesquisa do Datafolha divulgada no fim de semana, ela sairia vencedora da urnas no primeiro turno.
Veículo: Diário de Pernambuco