Força carioca

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Apesar da diversidade de tipos, o feijão-carioca domina o mercado brasileiro por cozinhar rápido e produzir caldo de espessura média

A preferência da maioria dos brasileiros pelo feijão- carioca, que representa cerca de 85% do mercado, contribui para que o preço dispare em momentos de safra reduzida, como o atual.

"É o grão preferido pelo consumidor. Do ponto de vista dos preços, é uma armadilha estarmos presos a essa variedade", diz Alcido Wander, pesquisador da Embrapa.

Preferido nas lavouras por ser mais resistente a pragas, o carioca conquistou também espaço nas mesas em função do seu cozimento fácil (em média, 20 minutos na panela de pressão).

Além disso, sua casca fina, que produz caldo de espessura média, tende a agradar mais paladares.

"Os grãos são porosos, hidratam com facilidade na hora do cozimento", explica Alisson Chiorato, pesquisador do IAC (Instituto Agronômico de Campinas).

A variedade foi descoberta por acaso pelo IAC em 1970 em uma fazenda do interior paulista. É plantada e consumida só no Brasil.

É diferente do feijão-preto, por exemplo, que é importado facilmente da China e da Argentina para suprir a demanda nacional (cerca de 10% do mercado de feijões).

No caso do "carioquinha", que, aliás, não faz jus ao apelido já que no Rio perde para o preto em preferência, não há a alternativa de importar.

O nome dessa variedade foi dado em função da raça de porcos carioca, que era criada na fazenda onde se descobriu o grão. Com listras, como esses animais, o feijão foi batizado assim.

DUPLA NACIONAL

Hoje enraizada no cardápio do brasileiro, a dupla arroz com feijão se formou a partir da chegada da corte portuguesa ao país, em 1808.

"O arroz, que já era um hábito português, foi incluído na alimentação das tropas e se espalhou pelo Rio de Janeiro", explica o sociólogo Carlos Alberto Dória.

Antes, o feijão era comido com farinha. A pesquisadora Paula Pinto e Silva conta que há relatos de colonizadores do século 17 que indicam que os indígenas já usavam vários tipos de feijão.

Em produções modestas, a diversidade segue. Para além do domínio do carioca e do preto, ainda são consumidas, especialmente no meio rural, variedades --muitas vezes, nem catalogadas-- que preservam os sabores regionais.

"Mas boa parte desses tipos não passa pelo comércio. As grandes redes de supermercado não apresentam mais que dez, em média", diz Dória, que já pesquisou as opções disponíveis nas centrais de abastecimento das grandes redes.

Para ele, apesar de pouco expressivas em quantidade de produção, as variedades resistem em função do seu papel social. "O feijão funciona como uma bússola social. Situa a gente no ambiente familiar, na nossa região", diz.

Entusiasta da diversidade de feijões, a chef Morena Leite serve feijão tropeiro com quatro grãos (vermelho, verde, preto e de corda) no bufê do restaurante Capim Santo, em São Paulo.

"A gente tem que aprender a brincar com os tipos para fazer novas receitas", diz ela que, no lugar de embutidos como bacon e linguiça, coloca polvo, lula e camarão no prato.



Veículo: Folha de S. Paulo


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