Apesar da combinação de produção e preços recorde, os produtores de soja de Mato Grosso amargaram uma queda de rentabilidade no ciclo 2012/13, que termina oficialmente no fim do mês.
Em média, os sojicultores do médio-norte de Mato Grosso embolsaram R$ 900 por hectare depois de pagar todas as despesas operacionais, uma queda de aproximadamente 10% em relação à safra anterior, estima a consultoria Agroconsult. Os resultados foram afetados pelo desempenho das lavouras, prejudicadas pelo excesso de chuvas entre janeiro e fevereiro. "As margens seriam recorde, não fosse a queda da produtividade", afirma André Pessôa, sócio da Agroconsult.
Segundo ele, o rendimento médio das lavouras na região ficou próximo de 50 sacas por hectare na safra atual, ante 54 na anterior. A redução significa uma perda de receita de quase R$ 200 por hectare aos preços de hoje.
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os produtores mato-grossenses ampliaram em 12% a área plantada, mas a produção cresceu apenas 7,7% neste ano devido a uma queda de quase 4% na produtividade.
Os números indicam ainda que os produtores perderam na estratégia de comercialização. De acordo com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), quase metade da produção foi vendida até junho de 2012, quando os preços da soja para entrega em março deste ano ainda oscilavam na faixa de US$ 13,50 por bushel (cerca de R$ 60 por saca de 60 quilos) na bolsa de Chicago, muito abaixo dos picos ao redor de US$ 17 por bushel (R$ 75 por saca) atingidos em agosto.
Mesmo assim, os produtores de Mato Grosso não têm do que reclamar. O rendimento de R$ 900 por hectare representa uma margem bruta de quase 65% em relação ao custo médio de produção, estimado pela Agroconsult em R$ 1.400 por hectare. A conta não considera despesas como o preço do arrendamento da terra e a depreciação de tratores e colheitadeiras.
Já os produtores da região Sul só têm motivos para comemorar. Segundo a Agroconsult, a renda bruta dos produtores no Paraná cresceu 74% neste ano, para cerca de R$ 1.500 por hectare. Trata-se de um retorno de 115% sobre os custos diretos de produção, estimados pela consultoria em cerca de R$ 1.300 por hectare.
Na região de Londrina, o rendimento sobre o custo operacional chegou a 139%, o maior do país, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Mesmo colocando-se na conta o custo total - que leva em conta itens como depreciação e o custo de oportunidade da terra - o lucro chegou a 64% do capital investido.
Assim como em Mato Grosso, a principal variável para a rentabilidade no Paraná foi a produtividade. Segundo a Agroconsult, no ano passado, os produtores paranaenses colheram apenas 41 sacas por hectare por causa de uma severa estiagem; neste, foram 56. A diferença corresponde a uma receita adicional de quase R$ 750 por hectare, aos preços de hoje. A produção total do Estado deve crescer 44,9%, para 15,85 milhões de toneladas.
Segundo José Aroldo Gallassini, diretor-presidente da Coamo, a maior cooperativa do país, com sede em Campo Mourão (PR), os agricultores cooperados embolsaram cerca de R$ 30 por saca de soja em 2012/13, de um preço médio de venda de R$ 52. Esse cálculo também desconsidera despesas com o arrendamento da terra e a depreciação de máquinas. A Coamo contabilizou neste ano uma produção recorde, de 3,6 milhões de toneladas. Em 2011/12, sob o impacto de uma grave seca, foram 2,6 milhões.
"A rentabilidade foi muito boa, e os agricultores aproveitaram para se capitalizar. Isso permite que eles comprem à vista a maioria dos insumos para a safra 2013/14", destaca Gallassini. O presidente da Coamo acrescenta que a taxa de inadimplência dos produtores que se financiam por meio da Credicoamo, o braço de financiamento da cooperativa, "é praticamente zero", outro reflexo da renda elevada.
Marcelo Garrido, economista do Departamento de Economia Rural (Deral), ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná, pondera que a rentabilidade final da safra 2012/13 ainda pode mudar nos próximos meses, já que um terço da soja colhida no Estado ainda não foi comercializada. Entre os cooperados da Coamo, cerca de 45% da colheita ainda não foi vendida.
Ou seja, uma parte relativamente importante da renda ainda sofrerá os efeitos da variação dos preços durante os próximos meses. Historicamente, os preços da soja tendem a subir entre julho e agosto diante da redução dos estoques no Brasil e das especulações em relação ao clima e ao tamanho da produção nos EUA.
Entretanto, o cenário pode ser diferente neste ano, uma vez que parte da área que seria plantada com milho nos Estados Unidos pode migrar para a soja devido ao clima, que atrapalhou o plantio dos milharais. "Neste momento, o que temos são rumores de 1 milhão a 1,5 milhão de acres a mais para a soja, o que pode trazer maior pressão aos preços", disse Garrido.
Veículo: Valor Econômico