Adi Godrej, dono de um dos maiores grupos de bens de consumo da Índia, tem um plano que chama de "10/10": fazer seus negócios crescerem dez vezes em dez anos, o que significa elevar o faturamento para US$ 33 bilhões em uma década.
Em entrevista ao Valor, o industrial indiano, com fortuna estimada em US$ 9 bilhões e apontado como o sexto homem mais rico da Índia, disse que para alcançar seu objetivo vai acelerar a expansão para outros países em desenvolvimento, por meio de aquisições.
Por isso, voltou a ter interesse em investir no Brasil, um dos maiores mercados do mundo para cosméticos, uma de suas áreas de negócios. "Estamos em discussões com algumas empresas no Brasil e espero em algum momento passar à fase de negociação", disse.
Em 2009, Godrej já tinha decidido adquirir uma empresa no Brasil. Conta que não conseguiu a "oportunidade correta" no país e acabou comprando companhias na Argentina, Uruguai e Chile. "Se temos interesse nesses países, imagine no Brasil", disse.
"Mas adquirir companhias no Brasil é difícil, além da 'due diligence' tem questões de garantias. E quando se compra um negócio no Brasil as dívidas passadas são transferidas diretamente para o novo proprietário, o que não ocorre em outros países", acrescentou.
O grupo Godrej é um dos mais conhecidos da Índia, com quatro empresas cotadas na bolsa e mais de uma dúzia de subsidiárias. Sua família fundou a companhia em 1897 e começou a ganhar dinheiro em 1920 com a produção de sabão à base de óleo vegetal, em vez de usar sebo animal, que fez sucesso entre os hindus vegetarianos.
Desde então, a Godrej Industries se tornou um conglomerado que emprega 28 mil pessoas, com negócios que vão de cosméticos, químicos, máquinas de lavar, geladeira, inseticidas, engenharia industrial, agronegócio (óleo de palma, alimentação para animais etc), além de ser um dos maiores no mercado imobiliário.
Estima-se que cerca de 500 milhões de indianos usam cada dia seus produtos. Para ele, a receita é simples: produtos bons com preços acessíveis. "Nosso produto para tingir cabelos é bom e custa 10% do equivalente da L'Oréal", exemplifica.
Aos 70 anos, cabelos pretos e sempre elegante, Godrej coloca na conversa ênfase no negócio de tingir cabelos. Conta que praticamente só usa seus próprios produtos, o que levou um jornal indiano a chamá-lo de "bilionário de classe média". Diz que em sua mansão em Mumbai, os móveis, fechaduras e até cofre de segurança vêm todos de suas fábricas.
Godrej disse ao Valor que sua fortuna fica em torno de US$ 9 bilhões, o que é mais que o dobro dos US$ 4 bilhões que a Forbes dizia que ele tinha em 2009, quando deu a primeira entrevista ao jornal, à margem do Fórum Mundial de Economia, em Davos (Suíça).
Mas o empresário se apressa em dizer que está tudo investido no conglomerado familiar. E que uma de suas tarefas ultimamente é justamente buscar levantar capital para crescer no exterior.
"Queremos crescer, daí porque precisamos investir e adquirir empresas", afirmou. Além da Índia, o grupo está instalado na Indonésia, Vietnã, Bangladesh, Sri Lanka, África do Sul, Moçambique, Quênia, Nigéria, Argentina, Uruguai e Chile.
O plano "10/10" começou em 2011, quando o faturamento alcançou US$ 3,3 bilhões. No ano passado, pulou para US$ 4 bilhões, dos quais 25% vem das operações no exterior. O empresário acha que o crescimento mais rápido virá provavelmente do mercado internacional, já que as chances para aquisições parecem melhores fora da Índia. No momento, tem US$ 500 milhões para investir este ano.
Ele coloca fé no negócio com geladeira com bateria por US$ 60, que está aperfeiçoando para ganhar o mercado indiano e depois expandir em países de renda baixa na África e Ásia, por exemplo.
Godrej foi presidente da Confederação das Indústrias da Índia no ano passado e ganhou o prêmio de empreendedor do ano na Índia este ano, atribuído pela consultoria Ernst & Young. E deixa claro que não só ele, mas vários grupos indianos decidiram se globalizar.
"Claramente, temos estratégia e forte confiança no crescimento mundial", afirmou. Cita o caso do grupo Tata, que adquiriu a Jaguar, símbolo da riqueza britânica, além de siderurgias, entre outros negócios, e é hoje o maior empregador do Reino Unido, antigo colonizador.
Mas pondera que, no momento, não só a economia global está numa situação delicada, como a Índia só cresceu 5% em comparação à média de 8% dos últimos anos. Ele acredita, porém, que os bens de consumo continuarão tendo demanda elevada.
Para Godrej, dentro de 20 a 30 anos a India poderá superar de vez a China como o maior motor de expansão mundial. "É a demografia, somos um país jovem, enquanto na China vai ter mais custo de aposentadorias."
O empresário indiano mostra-se otimista com os negócios, mas acha que os governos continuam atrapalhando. "O maior desafio para os empresários é que governos em diferentes países não dão atenção para reformas que são necessárias. Há políticos demais, mas pouquíssimos homens de Estado", afirmou.
Para o futuro, Adi Godrej diz contar com seus três filhos para continuar os negócios. Mas insiste que a regra é dura na família: só entra na companhia quem é bem qualificado. Diz que felizmente, seus três filhos são bem preparados. E conta que uma filha tem MBA em Harvard, o segundo MBA na Universidade de Columbia (EUA) e o terceiro na Universidade de Brown (EUA).
Veículo: Valor Econômico