Em um relatório com poucas novidades, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reiterou ontem o cenário de recomposição da oferta e queda dos preços dos grãos para a safra 2013/14.
Como esperado, o USDA reduziu sua previsão para a produção mundial de soja, milho e trigo, mas os cortes foram considerados tímidos e não ameaçam a perspectiva de crescimento em relação à safra 2012/13.
De acordo com o órgão, a produção mundial de milho pode chegar a 962,6 milhões de toneladas, uma redução de 0,34% ante a estimativa divulgada em maio. A projeção para os estoques finais também caiu, 1,8%, para 151,8 milhões de toneladas. Ainda assim, trata-se de um aumento de 11,4% na produção e de 22,1% nos estoques, quando comparados aos da safra anterior.
A questão mais relevante, agora, é o que vai acontecer com a produção nos EUA. Como o cultivo atrasou, em virtude do excesso de chuvas entre abril e maio, avalia-se que parte da área que seria destinada ao grão foi transferida para a soja - ou mesmo tenha sido abandonada. De acordo com Stefan Tomkiw, do Jefferies Bache, em Nova York, acreditava-se que de 1 milhão a 1,5 milhão de acres passariam do milho para a soja, mas agora as apostas foram reduzidas para um intervalo entre 500 mil e 1 milhão de acres [202,34 mil a 404,69 mil hectares]. "Acho que o restante dos produtores de milho recorrerá ao seguro de produção", disse.
Ontem, o USDA reduziu em 0,95%, a 355,7 milhões de toneladas, sua estimativa para a nova safra americana de milho. Ainda assim, o número indica um aumento de quase 30% ante a colheita anterior e 6,9% sobre a produção recorde de 2011/12. Contudo, o ajuste refletiu um corte na produtividade esperada, e não na área. Ou seja, baseou-se na projeção de plantio divulgada em 31 de março, que será revista no fim deste mês. "O relatório de 28 de junho certamente trará uma redução na área", afirmou Tomkiw.
O USDA também previu que os estoques americanos de milho somarão 49,52 milhões de toneladas ao fim da safra - 3% abaixo da estimativa de maio, mas 153% maiores que o volume remanescente da safra anterior. O ajuste foi menor do que o esperado pelo mercado - analistas ouvidos pela Dow Jones Newswires haviam antecipado um corte de 12%. Em reação, os preços do milho negociado em Chicago caíram 2,5% nos contratos para entrega em dezembro.
O relatório do USDA foi praticamente neutro para a soja. De acordo com o USDA, o mundo deve colher 285,3 milhões de toneladas no próximo ciclo, apenas 200 mil a menos do que o previsto em maio. O volume representa, porém, um crescimento de 6,6% ante a safra anterior.
O órgão manteve em 92,26 milhões de toneladas a projeção para a produção americana, aumento de 12,4% ante a safra anterior. Também foram mantidas as previsões para a produção de Brasil (85 milhões de toneladas) e Argentina (54,5 milhões), que só começam a plantar a nova safra no último trimestre.
O USDA também reduziu, em 1,69%, para 73,69 milhões de toneladas, a projeção para os estoques finais mundiais da safra 2013/14. O corte deveu-se a um ajuste nos estoques remanescentes da safra passada, reduzidos em 1,93%. Apesar disso, o volume ainda representa uma alta de 20,4% ante o de 2012/13.
O mercado de soja praticamente não se moveu após a divulgação dos números. Em Chicago, os contratos da commodity para entrega em julho, mais negociados, fecharam em baixa de 0,16%. Os lotes para novembro cederam 0,86%.
O USDA também reduziu em 0,7% sua projeção para a produção mundial de trigo na próxima safra, a 695,86 milhões de toneladas - volume ainda 6,1% superior ao de 2012/13. Com isso, o estoque de passagem esperado foi cortado em 2,75%, para 181,25 milhões de toneladas. Trata-se, porém, de um aumento de 0,8% ante o volume remanescente da safra anterior.
A produção americana foi elevada em 1,1%, para 56,61 milhões de toneladas, embora o volume seja 8,3% inferior ao colhido no ano passado. Já o estoque final de passagem esperado foi reduzido em 1,75%, a 17,93 milhões de toneladas, o que significa uma queda de 11,6% em relação à safra anterior. Ainda assim, os contratos de trigo para entrega em julho amargaram queda de 1,97% em Chicago.
Em contrapartida, o USDA publicou um relatório considerado altista para o algodão. O órgão reduziu em 0,56%, para 117,2 milhões de fardos, sua estimativa para a produção mundial da pluma. Trata-se de uma redução de 3,1% em relação à safra anterior.
O órgão revisou para baixo hoje a previsão para a safra 2013/14 de algodão ao redor do mundo. A expectativa, agora, é de uma colheita de 117,16 milhões de fardos da fibra, ligeira queda de 0,56% na comparação com os 117,82 milhões de fardos estimados no relatório de maio.
Contrariando as expectativas do mercado, o USDA cortou a previsão para a safra dos EUA - em 3,7%, para 13,5 milhões de fardos - reflexo dos problemas climáticos durante o plantio. Em Nova York, os contratos de segunda posição, para outubro, fecharam em alta de 2,83%.
Veículo: Valor Econômico