Indústria nega falta de concorrência e culpa a entressafra pela alta, mas Iepe/UFRGS mostra redução de valor em anos anteriores
Desde o começo de maio, o preço médio do leite longa vida subiu 9,95% nos supermercados em Porto Alegre. Supermercadistas e indústrias negam que o produto esteja mais caro em razão da menor concorrência, após quatro marcas perderem espaço nas gôndolas pela identificação de lotes com água e ureia com formol.
Mas o aumento nesse período pode ser considerado atípico. A trajetória de alta se intensificou depois da revelação da operação Leite Compen$ado, do Ministério Público Estadual e do Ministério da Agricultura, no dia 8 de maio. Uma semana após a retirada de lotes das marcas Mu-mu, Latvida, Líder e Italac, o preço médio das demais subiu 2,89%. No últimos 30 dias, o leite voltou a avançar com mais força.
Ontem, Zero Hora pesquisou o preço de nove marcas nas três principais redes de supermercados da Capital. Considerando apenas os produtos que estavam disponíveis em cada loja, todos eles de marcas que não tiveram lotes adulterados, 20 dos 22 produtos haviam ficado mais caro desde 14 de maio.
– A razão da alta é a entressafra da produção de leite, que ocorre de abril a julho e reduz a produção no Estado. Com isso, o preço do produto final sobe – justifica Darlan Palharini, secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios e Derivados do Rio Grande do Sul (Sindilat).
No entanto, dados históricos do Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (Iepe) da UFRGS mostram que o preço nos últimos anos tem recuado (confira gráfico na página ao lado). De 1º de junho de 2011 a 31 de maio de 2012, por exemplo, recuou 5,7%. Em igual intervalo de meses de 2012 a 2013, avançou 20,3%.
Palharini reitera que a razão é a oferta de matéria-prima:
– Neste ano, houve quebra da safra no Nordeste. Parte do leite gaúcho está sendo vendido para aquela região, reduzindo a oferta. Não acredito em aumento de preço em razão de menor concorrência.
O aumento é percebido pela população, que já mostra descontentamento.
– Desde o escândalo do leite, tenho procurado marcas mais conhecidas, mas parece que essas são as que mais sobem. O consumidor fica sem opção – reclama a dona de casa Suzane Araújo dos Santos.
Varejistas e industriais projetam mais aumento
A escalada do preço do leite está longe do fim, conforme Antônio Cesa Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas). O dirigente estima que o produto poderá subir mais 5% até o final de julho, sendo que o preço se manteria estável em agosto e começaria a cair em setembro.
– Todo o ano o preço sobe durante o inverno. Quando voltarem a ser vendidas nos supermercados maiores, as outras marcas (que tiveram alguns lotes adulterados) poderão exercer uma pressão nos preços – afirma Longo.
Secretário-executivo do Sindilat, Darlan Palharini faz projeção diferente. Com o dólar favorável à exportação e aumento de custo aos produtores, que já cobram mais caro pelo litro do leite na propriedade rural, a eventual queda de preço ao final do inverno é incerta.
– No restante do país, talvez o preço caia em algum momento, mas o Rio Grande do Sul tem produzido e vendido muito para outros Estados, e uma queda por aqui dependerá dessa demanda externa – diz Palharini.
Veículo: Zero Hora - RS