Uma fatia especial
Segundo Associação Brasileira das Indústrias de Queijo, os produtos finos já representam 30% do mercado brasileiro.
Uma turma de seis amigos se reúne para uma tradicional degustação de queijos e vinhos na casa de um casal, em um bairro nobre de São Paulo. Nada demais se não houvesse uma câmera, dois pesquisadores e a gerente de um dos fabricantes do produto, que queriam entender o quanto o público consumidor conhece de queijos finos e em quais ocasiões o produto é consumido. Por trás disso, a estratégia da Vigor – dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos também da JBS -, que tem em seu portfólio marcas como SerraBella e Faixa Azul e que planeja aumentar sua participação no seleto, porém concorrido, mercado de queijos especiais, que já responde por 30% do total das vendas de queijo no país.
Silmara Figueiredo, assessora de marketing da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq), lembra que mussarela, prato e requeijão culinário ainda representam os outros 70% do mercado. “Porém, o consumo dos especiais cresceu no país. Além do aumento da renda, podemos citar também o aumento da oferta de produtos desta categoria. Queijos como o gorgonzola e o provolone já estão mais popularizados”, ressalta Silmara.
Segundo o maître fromager, Jair Jorge Leandro, São Paulo representa mais de 60% do consumo de queijos especiais no país e o Rio de Janeiro tem uma participação de 15%. Os 25% restantes são distribuídos entre os estados do Sul e as capitais do Nordeste.
“O Brasil já é o sexto maior produtor de queijos do mundo, porém possui um consumo per capita ainda muito baixo, de pouco mais de 4 kg por habitante por ano, enquanto a França apresenta um consumo de 27kg e a Itália 24 kg. A questão é que precisamos mais do que dobrar a nossa produção para atingirmos um nível de consumo pelo menos similar ao da Argentina”, destaca.
Mercado para ser explorado há. E é por isso que a Vigor tem investido em inovação e na criação de novas tecnologias para a produção de queijos com qualidade semelhante ao dos importados. “O foco da empresa são os lácteos e os queijos. Apostamos no crescimento do mercado dos especiais. Os queijos finos serão a alavancagem de crescimento”, diz Anne Napoli, diretora de marketing da empresa.
Leandro reforça, porém, que principalmente os queijos produzidos a partir do leite cru, ainda tem aqui a mesma qualidade da encontrada em marcas de fora do país.
“São mera imitações.Mas quando falamos de queijos internacionais produzidos com leite pasteurizado, pode-se dizer que há no Brasil queijo similares aos originais europeus”, acrescenta.
Anne afirma que os queijos especiais produzidos pela companhia já são bem conhecidos pelo público. “O Faixa Azul é o queijo parmesão há mais tempo no mercado.O volume de vendas das marcas premium é menor,mas elas são forte em valor. O mercado de queijo não tem muitos concorrentes locais, o que é uma vantagem para nós”, destaca.
A estratégia da empresa, que possui ainda marcas como Danubio, Leco, Carmelita, Amélia, Mesa, Jong e Vigor Food Service, varia de acordo como perfil dos consumidores.
“Para o Faixa azul, que é um queijo mais gourmet, optamos pela TVa cabo e meios impressos mais sofisticados. Já para Danúbio, por exemplo, voltada para um público mais jovem e antenado, temos um grande trabalho de divulgação na internet”, explica Anne.
Recentemente, a Vigor trouxe para o Brasil o iogurte Grego, também voltado para um público mais exigente,marcando bem a mudança de estratégia da empresa. De acordo com Anne, o consumo per capita deste produto também é baixo no país, o que demonstra o potencial de crescimento deste mercado.
Outra aposta da Vigor são os fondues. Esta semana será lançado o produto com a marca Faixa Azul, que será o primeiro a ter como base o queijo parmesão. “Já temos o produto com as marcas SerraBela e Danubio”, completa a executiva.
O grande desafio da Vigor tem sido administrar o seu portfólio extenso, que vai desde margarinas à queijos finos, passando por iogurtes. “O consumidor não relaciona as nossas marcas e nem temos esse interesse. Cada uma delas conversa com um público específico. Temos produtos com aderência em diferentes canais de venda”, ressalta Anne.
Para o professor de gestão demarcas e marketing estratégico da ESPM, Marcos Badendo, a vantagem de se trabalhar as marca sseparadamente é a divulgação pode ser completamente diferente. “Por outro lado, uma desvantagem é que as sinergias entre os produtos têm menos maneiras de serem exploradas. As associações podem, sim, ser bem positivas”, diz ele.
Veículo: Brasil Econômico