A atividade não ganhou o fôlego esperado no primeiro trimestre, mas, por enquanto, mesmo em recuperação gradual, é suficiente para manter o mercado de trabalho acomodado em patamares historicamente aquecidos, segundo economistas. A média de 15 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que a taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas vai se manter estável entre abril e maio, ao ceder de 5,8% para 5,7%.
Se confirmadas as expectativas, a desocupação irá, mais uma vez, bater recorde de baixa, já que a média prevista é a menor taxa para meses de maio desde 2002, início da nova série histórica do IBGE. As estimativas para a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) referente ao mês passado, a ser divulgada hoje pelo instituto, vão de 5,6% a 5,9%.
Ainda nesta semana, o Ministério do Trabalho e Emprego deve divulgar o resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) também referente a maio, para o qual nove analistas esperam, em média, saldo positivo de 157,8 mil vagas. Em igual mês de 2012, foram abertos 139,7 mil postos com carteira assinada.
Aurélio Bicalho, do Itaú , afirma que a PME e o Caged vão mostrar condições ainda favoráveis para o mercado de trabalho no país. Enquanto a taxa de desemprego vai ceder para 5,6%, o saldo líquido entre admissões e demissões será de 170 mil vagas em maio, de acordo com suas projeções. Para Bicalho, a retomada gradual da economia é consistente com uma taxa de desocupação estabilizada em níveis baixos nos próximos meses, perto de 5,5%, e contratações formais pouco acima dos níveis observados no fim de 2012.
No segundo trimestre, o Itaú estima que o Produto Interno Bruto (PIB) irá crescer 0,8% sobre o primeiro, feito o ajuste sazonal, ligeira aceleração frente à alta de 0,6% observada na abertura do ano. "Passamos por longo período de taxas altas de crescimento da população ocupada e dos salários junto a reduções persistentes do desemprego. Agora estamos indo para um período de normalização, com uma economia mais equilibrada", afirma Bicalho.
"O quadro ainda é de moderação. O mercado de trabalho já teve momentos melhores", diz Fabio Romão, da LCA Consultores, que projeta desemprego em 5,6% da População Economicamente Ativa (PEA) em maio. Embora esse número represente ligeira redução em relação ao mesmo mês de 2012, quando o percentual de desempregados ficou em 5,8% da PEA, Romão ressalta que esse diferencial está ficando cada vez menor, o que indica que a taxa de desemprego está próxima do piso.
Segundo o economista, o menor ritmo de criação de ocupações ainda é inibido por uma procura mais fraca por emprego, situação que deve perdurar em maio. No segundo semestre, diz Romão, a tendência é que a perda de fôlego da renda das famílias incentive mais pessoas a entrar no mercado de trabalho, o que pode interromper a série de quedas anuais na taxa de desemprego. A LCA estima desocupação média de 5,5% em 2013, mesmo nível observado em 2012.
Leandro Câmara Negrão, do Bradesco, argumenta que os salários não deixarão de pressionar os custos das empresas. Pesquisas do banco indicam que os reajustes nominais negociados nos últimos seis meses ficaram na casa dos 8%, ainda elevados. "Não há muita tendência de mudança para os rendimentos, caso o cenário de atividade permaneça."
Raciocínio semelhante, afirma ele, vale para a geração de vagas com carteira assinada. Para maio, o Bradesco estima a abertura de 175 mil postos de trabalho formais, o que, em termos dessazonalizados, representa estabilidade no patamar de 70 mil novos empregos.
A partir de maio, diz Negrão, a expectativa é de "mudança de mix" entre os ramos da economia. A indústria passará a contribuir menos com a geração de vagas, ao passo que os serviços, que seguraram demissões no ano passado, devem ganhar mais dinâmica. No primeiro quadrimestre, enquanto a criação total de postos formais caiu 55% sobre igual período de 2012, o setor manufatureiro elevou as contratações em 65%.
Bicalho, do Itaú, também sustenta que o ritmo de avanço do emprego formal na indústria vai ceder ao longo do ano, embora a tendência para a ocupação no setor seja de um quadro melhor que o visto em 2012, quando a produção nas fábricas encolheu 2,6%.
Veículo: Valor Econômico