Para evitar aumentos, nova safra de trigo terá que ser boa o suficiente para compensar a alta da moeda americana
RIO - A disparada do dólar acendeu mais uma luz amarela sobre a inflação: os preços das massas, como o macarrão, e de pães e biscoitos podem sofrer novos reajustes. São produtos que estão entre os mais sensíveis ao câmbio, já que metade das 10 milhões toneladas de trigo consumidas no país anualmente é importada. A nova safra do grão começa a chegar ao mercado no segundo semestre e poderá refletir a alta das cotações da moeda americana.
— Se a safra for boa, compensará a alta do dólar e o preço pode estabilizar. Mas se não for, haverá repasse, porque o peso da farinha de trigo é muito grande. No macarrão, representa 60% dos custos — diz Claudio Zanão, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Massas (Abima), que reúne fabricantes de macarrão e pães industrializados
Segundo ele, no primeiro semestre, os produtos aumentaram 10%, em média, porque a farinha de trigou ficou 40% mais cara em 2012 e, este ano até abril, mais 26%. O motivo foi a quebra da safra de trigo argentina, que obrigou o Brasil a comprar 2 milhões de toneladas do produto nos Estados Unidos e no Canadá, onde o custo é mais elevado.
— O que a indústria menos quer é aumento de preço, porque isso significa perda de venda.
O presidente da Associação dos Supermercados do Rio de Janeiro, Aílton Fornari, diz que a variação do dólar não chegou aos preços, mas se a cotação permanecer, o repasse será inevitável.
— Se continuar, daqui a 15 dias vai começar a aparecer. Os importados representam só 5% das vendas. O impacto maior será nos pães, biscoitos, massas, itens derivados do trigo — prevê.
Na inflação, o dólar terá reflexo se for uma alta permanente, diz o economista da LCA Consultores Fabio Romão:
— Se o dólar permanecer em R$ 2,15 por dois, três meses, já se pode considerar o impacto.
Sua estimativa é de que a desvalorização do real em 10% resulte em 0,5 ponto percentual de inflação em 12 meses. Isso significa que o IPCA projetado para o ano passaria de 5,5% para próximo de 6%.
— Tivemos até agora desvalorização perto de 8%, então imagino um acréscimo de 0,4 ponto percentual no IPCA em 12 meses, sendo uma parte preponderante já em 2013 — diz.
Professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Pedro Raffy Vartanian destaca que o repasse de uma alta do dólar na inflação é maior quando o mercado de trabalho está aquecido e a economia cresce:
— Quando há demanda, consegue-se repassar a alta do dólar. Quando as vendas já não vão bem, o repasse fica mais difícil.
Veículo: O Globo - RJ