Pressão do dólar vai elevar preços de aparelhos

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A recente escalada do dólar, que na quinta-feira da semana passada atingiu R$ 2,25, o valor mais alto desde 1º de abril de 2009, poderá pesar no bolso do consumidor de produtos de informática a partir do mês que vem.

Pressionados pelo câmbio, que influencia até 90% das suas compras de matérias-primas e componentes, os fabricantes de computadores, notebooks, tablets, smartphones, celulares e acessórios pretendem repassar um aumento médio de 4% ao varejo em julho, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Há empresas, no entanto, que preveem uma alta ainda maior, da ordem de 5%.

Trata-se de uma medida incomum para o setor, onde os preços dos produtos tendem a baratear com o tempo, por conta da substituição de tecnologias e do aumento gradual da demanda. No acumulado de 2012, o setor registrou uma deflação de 1,5%, de acordo com o presidente da Abinee, Humberto Barbato.

"Estamos observando uma variação no câmbio por volta de 10% desde o fim de abril", afirmou Barbato. "A indústria trabalha com um estoque médio de 60 dias. Portanto, à medida que as mercadorias forem acabando, as empresas terão necessariamente que fazer ajustes no varejo."

Em um primeiro momento, enquanto os fabricantes não sabem o que vai acontecer com o câmbio, eles seguram o reajuste o máximo possível, disse Barbato. "As margens são muito estreitas, variam de 2% a 3%, e qualquer ajuste maldimensionado pode significar uma perda de participação de mercado", afirmou.

Além disso, o varejo não está disposto a repassar aumento em julho, época tradicionalmente mais fraca para as vendas da categoria, apurou o Valor. "Enfrentamos um primeiro trimestre fraco e no fim de abril as vendas voltaram a avançar", disse um fabricante. "É muito complicado tentar emplacar um aumento neste momento". De acordo com a Tendências Consultoria, a expectativa é que a taxa de câmbio comece a ceder e que o dólar chegue ao fim do ano ao patamar de R$ 2,10. "Mas, a volatilidade ainda é grande", disse o economista Felipe Salto, da Tendências.

A Positivo, maior fabricante brasileira de produtos de informática, confirma que haverá aumento em julho. "Cerca de 90% do custo da indústria de computadores está atrelado ao dólar", afirmou o vice-presidente de marketing e produto da Positivo, Maurício Roorda. "Com esse patamar de dólar, não temos alternativa, a não ser movimentar os preços".

De acordo com o executivo, além do dólar, a Positivo leva em conta o aumento de custos de insumo como memória, que subiu mais de 80% desde o início do ano. O percentual de ajuste dos produtos no varejo, no entanto, ainda não foi definido pela empresa. "Como a alta do dólar foi muito rápida e recente, estamos fazendo diversas simulações no nosso portfólio para ver de que maneira conseguimos evitar um aumento muito grande", disse Roorda.

A AOC, que tem as TVs e os monitores de computador como carro-chefe, também está considerando repassar o aumento do dólar no preço dos produtos em julho. A empresa, no entanto, ainda não definiu um percentual. "A única unanimidade é que o dólar não vai voltar para baixo de R$ 2,10", afirmou Élcio Hardt, gerente de produto da AOC. Segundo ele, mesmo quando a empresa fecha o preço do dólar com o fornecedor, desde a encomenda até o desembarque do produto no Brasil há variação do câmbio. Os impostos que incidem sobre a mercadoria são calculados, em reais, em cima do preço do produto no dólar do dia da chegada ao país.

No mercado, há quem esteja prevendo uma alta maior do que a média do mercado, como a Coletek, de acessórios de informática. Com fábrica em Varginha (MG), a empresa, dona da marca C3 Tech, faturou R$ 110 milhões no ano passado e se prepara para dar início à montagem de tablets da marca Prestige, do grupo russo Asbis.

"Provavelmente, vamos ter em julho um reajuste de preços nas nossas marcas de 5%", disse Deise Somayana, gerente de marketing da Coletek.

A empresa trabalha com o preço de referência do dólar a R$ 2,30. "Tudo o que compramos é para vender dentro de três meses. Depois, temos mais um ou dois meses para receber", afirmou. "Preciso trabalhar com uma tarifa para suportar cinco meses de retorno financeiro."

Segundo apurou o Valor, uma empresa fica esperando o seu concorrente tomar a decisão de reajustar o preço para depois segui-lo. Foi o que aconteceu com uma fabricante de produtos de informática no ano passado. "Aguardamos o nosso principal rival se movimentar e isso não aconteceu. Quando quisemos fazer o repasse, o varejo não aceitou o ajuste e tivemos que amargar a degradação da nossa margem", disse o executivo de uma empresa de eletroeletrônicos.

Talvez por isso boa parte dos fabricantes não quis falar sobre o aumento. Procuradas pelo Valor, Samsung e LG, do mercado de celulares, não se pronunciaram, assim como a brasileira DL, fabricante de tablets, e a multinacional HP. Já a Nokia afirmou que "até o presente momento não houve impacto no valor final pago pelo consumidor nos aparelhos importados vendidos no Brasil. A questão [do reajuste] ainda está sendo avaliada pela Nokia junto a seus parceiros e revendedores".

O Valor apurou que a LG realiza reuniões diárias entre a presidência da empresa no Brasil e a matriz, em Seul. O objetivo é reportar as vendas e o nível dos estoques. "A LG só vai repassar o custo quando a matriz determinar", disse um interlocutor ligado ao comando da LG no país.

A Sony se limitou a dizer que "está atenta às variações da economia brasileira e internacional, assim como às tendências do mercado de eletrônicos". O segmento dos jogos PlayStation, da Sony, fica sob responsabilidade de outra divisão da companhia, a Sony Computer Entertainment America (SCEA), que respondeu ao Valor que "o impacto das flutuações cambiais é sempre complexo, independentemente do mercado". Em 2010, o Brasil se tornou o terceiro país no mundo, depois do Japão e da China, onde o PlayStation é fabricado.



Veículo: Valor Econômico


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