Selo verde abre mercados para cosméticos

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Fabricante de matérias-primas certificadas exporta para gigantes como L’oreal e Avon

 

O biólogo e consultor ambiental Eduardo Roxo descobriu há cinco anos uma oportunidade de negócio na candeia, árvore nativa da Mata Atlântica que vinha passando por um processo de exploração predatória. O óleo essencial da candeia é rico em alfa-bisabolol, um antiinflamatório amplamente utilizado na indústria de cosméticos e farmacêutica. “O ponto de partida para valorizar a matéria-prima e não associá-la ao uso descontrolado dos recursos florestais foi buscar uma certificação de origem”, diz Roxo.

 

A empresa dele, a Atina Ativos Naturais, obteve a certificação FSC, um dos mais conhecidos selos que atestam que a matéria-prima veio de áreas de manejo controlado. Foi o primeiro selo FSC (sigla em inglês para Conselho de Manejo Florestal) emitido no País para um produto florestal de origem não amazônica. Hoje, 95% da produção do óleo vai para o exterior: o produto é utilizado por gigantes como L’Oreal, Beiersdorf (dona da Nivea) e Avon. No Brasil, o principal comprador é a fabricante de cosméticos Natura.

 

Com uma área certificada de produção de 324 hectares em Minas Gerais e fábrica em Pouso Alegre (MG), que emprega 57 funcionários, a empresa vai continuar investindo em certificação. Agora, além do selo florestal FSC, a empresa busca a certificação Ecocert, de orgânicos, que, segundo Roxo, deve abrir mais portas entre os fabricantes europeus.

 

A aposta de Roxo na certificação da matéria-prima se justifica. Na Europa e nos EUA, o mercado para os cosméticos “sustentáveis”, com matérias-primas de origem certificada, cresce a taxas de 20% ao ano e é estimado em US$ 6 bilhões. A tendência ainda é restrita a nichos de mercado, mas deve ganhar força nos próximos anos.

 

“À medida que o consumidor for tomando conhecimento da origem de certas matérias-primas usadas em cosméticos e fizer a conexão entre seu consumo e a preservação dos recursos naturais, o cosmético com selo passa a ser uma grande oportunidade de negócio”, diz Patricia Cota Gomes, coordenadora de certificação de comunidades do Imaflora, ONG que faz a certificação FSC no Brasil.

 

Segundo ela, existem no País em torno de dez comunidades extrativistas que fornecem matérias-primas para a indústria de cosméticos. A maioria delas fica na Amazônia, e fornecem matérias-primas como buriti, castanha e andiroba para a indústria de cosméticos. Há ainda fornecedores de erva-mate certificados no sul do País.

 

“As comunidades estão vendo no crescimento desse mercado de cosméticos sustentáveis um grande estímulo para a certificação. Mas também querem receber a mais pelo ativo certificado”, diz Patrícia. Segundo ela, muitas empresas ainda relutam em pagar a mais pela matéria-prima certificada, que chega a custar até três vezes mais do que a convencional.

 

Foi o que ocorreu com a Atina, que deixou de fornecer para uma conhecida indústria de cosméticos nacionais, que não aceitou pagar pelo óleo de candeia certificado. “Rompemos o contrato. Essa empresa investe pesado em projetos ambientais, mas se recusou a pagar a mais pela matéria-prima com selo verde”, diz Roxo.

 

Algumas companhias, no entanto, já perceberam os benefícios dos cosméticos “verdes”. A Natura, que investe anualmente em torno de R$ 100 milhões para certificar seus fornecedores de matérias-primas como cacau, cupuaçu, andiroba e breu branco, já alcançou um índice de 60% de ativos certificados. “Ainda é pouco, mas hoje é impossível ter todas as matérias-primas certificadas”, diz Daniel Gonzaga, diretor de pesquisa e tecnologia da Natura.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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