Os planos de crescimento da 'nova' Itambé

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A mineira Itambé começa hoje uma nova etapa de sua história. Quatro meses depois do anúncio da venda de 50% da companhia para a Vigor, controlada pelo grupo J&F, o acordo foi concluído na sexta-feira. Alexandre Almeida, que até então era diretor-executivo da área de produtos industrializados da JBS assume hoje como presidente da empresa de lácteos. Na sua agenda estão uma possível fábrica de iogurtes e achocolatados no Nordeste, a ampliação de outra em Minas, novos produtos e a conquista de mais mercado no interior do Estado, no Rio de Janeiro e em Brasília.

Na sexta-feira, também foram escolhidos a nova diretoria e os seis conselheiros de administração. Jacques Gontijo, que até sexta era o presidente da empresa, compartilhará a presidência do conselho com Wesley Batista, da JBS. Com os R$ 410 milhões pagos pela Vigor, o laticínio mineiro reduz sua dívida -- que estava na casa dos R$ 550 milhões - para um patamar mais saudável de 1,4 vez o Ebitda (lucro antes de juros, investimentos, depreciação e amortização), que em 2012 foi de R$ 110 milhões. A receita bateu os R$ 2 bilhões, 8% a mais do que o de 2011.

"Temos agora uma empresa com uma dívida líquida muito pequena em relação ao Ebtida e ao faturamento, o que permite que trabalhemos com uma perspectiva de mais investimentos e mais crescimento", disse Almeida ao Valor.

As projeções da Itambé apontam para um aumento da receita em cerca de 10% este ano. O plano estratégico que foi desenhado antes da operação com a Vigor prevê que a Itambé possa até dobrar de tamanho em quatro anos.

Até dezembro de 2012, a Itambé era apenas a marca da Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR), uma das cinco maiores produtoras de leite do país. Limitada por sua condição de cooperativa em novas operações de crédito, a CCPR criou então a Itambé S.A., transferindo a ela seus ativos e passivos e três mil funcionários. Pouco depois, veio o negócio com a Vigor. Controlada pela J&F, que também controla a JBS, a Vigor já havia tido uma primeira conversa com a cooperativa no início de 2012. À época, o negócio não prosperou.

Além de Wesley Batista e Jacques Gontijo, o novo conselho da Itambé tem Joesley Batista, da J&F, e Gilberto Xandó, da Vigor; e mais dois diretores do laticínio, Marcos Elias e Carlos Amorim.

O plano estratégico passará pelo escrutínio do novo conselho e do novo sócio, mas entre as iniciativas que Almeida, um belo-horizontino de 49 anos, destaca está o aumento da produção de iogurtes e achocolatados. A categoria dos refrigerados representa hoje entre 16% e 18% do faturamento da Itambé. Mais ou menos o mesmo que o leite condensado. O forte é o leite em pó, que tem um peso de cerca de 40% na receita. O leite UHT representa 12%. Almeida não revelou qual o investimento previsto para o plano sair do papel.

Mais iogurtes e acholotados exigem uma ampliação na capacidade de produção. A fábrica de onde saem essas linhas, no município mineiro de Pará de Minas, está quase no limite. O plano prevê dois movimentos: a ampliação dessa fábrica e uma fábrica no Nordeste do país.

"Lá já somos uma marca muito forte por causa do leite em pó, mas nossa presença em refrigerados é muito pequena", lembrou Almeida. Segundo ele, a Itambé é líder em vendas de leite em pó, com 22% do mercado nordestino. Para reforçar as vendas de refrigerados na região, o caminho passa por uma fábrica por lá. Um iogurte produzido no interior de Minas que precisa ser levado em caminhões refrigerados até um centro de distribuição em algum Estado nordestino e só então chegar aos mercados é uma operação praticamente inviável. Os custos aumentam e o prazo de validade nas mãos do consumidor diminui.

"O plano precisa ser aprovado, mas provavelmente essa ampliação da Itambé no Nordeste implicará uma fábrica lá", disse Almeida.

A Itambé tem hoje cinco plantas: quatro em Minas e uma em Goiás. Nos últimos sete anos, investiu R$ 350 milhões na modernização do parque industrial. E tem onze centros de distribuição.

Além de um reforço em sua linha fabril, a Itambé tem novidades de mais curto prazo, segundo Almeida. Lança este ano seu iogurte grego, mais sabores de iogurtes, leite UHT vitaminado para crianças. "A reestruturação permite que a gente ganhe velocidade nesses planos de novos produtos e de crescimento orgânico."

O foco da empresa, segundo o novo presidente, é ganhar mercado no interior de Minas, no Rio de Janeiro e em Brasília com os refrigerados, onde a presença da Itambé já é importante. E em seguida ampliar as operações pelo Nordeste. A referência é Belo Horizonte e os municípios da região metropolitana, onde a empresa é líder com 27% do mercado de refrigerados, afirmou Almeida, citando dados da Nielsen.

Com o aumento de renda de milhões de famílias nos últimos anos, as vendas de iogurtes e refrigerados de modo geral cresceram de modo acelerado no Brasil, mas ainda há espaço para mais, acredita o executivo. A inflação não está sendo limitador, disse ele, afirmando que iogurtes não estão entre produtos que puxam para cima os índices de preços.

Itambé e Vigor continuarão com empresas com marcas independentes. Em alguns casos, concorrendo, em outros se complementando. E quando serão uma só marca? "Isso depende da vontade dos acionistas. Se o melhor para os dois for uma fusão em algum momento, farão isso. Mas não faz parte de nosso foco agora. Não vim para cá para trabalhar em uma fusão. Minha missão é trazer o melhor do resultado da Itambé", afirmou Almeida.



Veículo: Valor Econômico



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