O consumo de café no Brasil continuará crescendo a taxas anuais de 4% a 5% por cento este ano, com o reforço de uma demanda maior da classe C e sem indicações de que a crise econômica trará algum reflexo negativo para o setor, disse o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz. Assim, a demanda interna do Brasil, o segundo maior consumidor mundial atrás dos Estados Unidos, deverá se aproximar das 19 milhões de sacas de 60 kg ao final do ano, contra esperadas 18 milhões de sacas em 2008.
"Não acreditamos que a crise se reflita de forma significativa no consumo de alimentos, principalmente de alimentos diários, como é o caso do café", disse Herszkowicz.
Apesar de a Abic ainda não ter fechado os dados do consumo em 2008, o que só ocorrerá ao final do mês, informações preliminares apontam para 18 milhões de sacas consumidas internamente no ano passado, disse o diretor da Abic. "Com o número de 18 sendo confirmado, mantemos a meta de 21 milhões (para 2011)", destacou o diretor, observando que o Brasil consumiu 17,1 milhões de sacas em 2007.
A confiança da Abic no crescimento do consumo este ano está baseada numa pesquisa com mais de 2 mil pessoas, divulgada no final do ano passado, que mostra que a penetração do café aumentou entre a população brasileira. Em anos anteriores, entre 91% e 93% dos brasileiros se diziam consumidores de café, contra 97 por cento verificados na pesquisa realizada em outubro de 2008, justamente quando a crise internacional se acentuou.
Além disso, os integrantes da classe C consumidores de café passaram de 38% para 43% dos entrevistados de 2007 para 2008 - a classe C, com renda mensal de R$ 726 a R$ 2.011, representa mais de 40% da população. O número de doses diárias de café também mostrou aumento. "Não só mais pessoas estão bebendo café, como as pessoas estão bebendo mais café a cada dia", disse Herszkowicz.
Além da melhora da renda da população nos últimos anos, o que permitiu que mais pessoas consumam café, a bebida também está sendo beneficiada pelo aumento do número de cafeterias no País, que torno o consumo um hábito mais trivial, em meio a campanhas de marketing promovidas pela Abic.
Simultaneamente ao esperado aumento no consumo este ano, as torrefadoras brasileiras terão de lidar com uma oferta mais apertada, em função da queda na safra 2009/10 brasileira devido à baixa no ciclo bianual de produção do arábica.
A produção do País, o maior produtor mundial, deve cair de 46 milhões de sacas em 08/09 para aproximadamente 37,8 milhões de sacas em 09/10. Apesar disso, Herszkowicz não prevê problemas para abastecimento, apenas preços da matéria-prima mais firmes. "O número (da safra) é relativamente preocupante, mas passamos por situação parecida em outros anos e não houve falta de café, seja para atender à demanda externa quanto para atender ao consumo interno. Contamos com oferta mais apertada e, portanto, com preços sustentados da matéria-prima."
Com safra menor, consumo interno de quase 19 milhões de sacas e exportações previstas em 25 milhões de sacas , o Brasil terá de queimar estoques na temporada 2009/10. De acordo com o diretor da Abic, a situação de aperto será mais sentida no primeiro semestre, período mais crítico de entressafra, quando os estoques serão usados com mais intensidade.
Veículo: Jornal do Commercio - RJ