Volta a época de ouro do café com demanda alta e oferta justa

Leia em 4min 20s

Os indicadores econômicos positivos de oferta e consumo devem fazer de 2009 o melhor ano da história para os produtores de café. Países produtores da commodity como Brasil, Colômbia, Vietnã e Equador podem presenciar o maior crescimento em renda já registrado. Mesmo com o dólar mais valorizado, a expectativa de alguns produtores e consultorias é que as cotações fiquem acima de US$ 1,40 a libra-peso (0,45 quilos) na Bolsa de Nova York (Nybot) em algumas ocasiões. O valor previsto equivale aos mesmos patamares registrados em fevereiro de 2008, quando o excesso de especulação no mercado levou alguns contratos a US$ 1,69 a libra-peso.

 

Passado o primeiro choque provocado pela crise econômica mundial deflagrada nos Estados Unidos, a expectativa dos analistas é que a safra reduzida, o consumo crescente e os estoques mundiais ganhem espaço e valorizem as cotações da commodity no mercado internacional. Avaliações de algumas consultorias vão um pouco mais além e projetam para o café o maior potencial de valorização entre todas as commodities agrícolas. No entanto, alertam que uma nova crise de confiança causada pela quebra de outro banco ou mesmo o agravamento da recessão mundial podem anular essa tendência.

 

A simulação é baseada no recuo do petróleo, que diminuirá os gastos das famílias com combustíveis e aumentará o poder de compra, explica Sterling Smith, vice-presidente da FuturesOne, de Chicago. O gráfico mostra que os contratos futuros de café deverão subir 25%, para US$ 1,463 a libra-peso, na Nybot até o fim do ano, enquanto o preço do petróleo cairá 43%, para US$ 23,35 o barril. Os contratos de café fecharam na última sexta-feira em US$ 1,169 a libra-peso na Nybot e o petróleo foi negociado a US$ 40,83 o barril na Bolsa Mercantil de Nova York.

 

O petróleo, cuja cotação quadruplicou em quatro anos, para o recorde de US$ 147,27 o barril, alcançado em 11 de julho do ano passado, foi um dos agravantes da crise financeira mundial. "Os consumidores aumentaram seus gastos com gasolina e deixaram de consumir alguns tipos de alimentos e outros produtos", disse Smith. O café caiu 18% no ano passado, quando o Índice Reuters/Jefferies CRB de 19 commodities registrou sua maior retração anual de mais de cinco décadas.

 

"A alta dos preços dos combustíveis gerou um efeito-dominó de destruição da demanda que se infiltrou por toda a economia", disse Smith. "A queda desses mesmos preços terá um resultado reparador muito mais rápido do que o resultado destrutivo de sua elevação. Sou da opinião de que, quanto maior esforço fizermos para manter baixos os preços dos combustíveis, mais cedo a recuperação ocorrerá", completa o vice-presidente da FuturesOne.

 

Sérgio Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, em Santos, observa que a previsão de alta é coerente, mas evita falar em números. "Em um mercado onde presenciamos essa forte volatilidade é complicado citar números", explica. Ele acrescenta que se os fundamentos forem realmente levados em consideração e não houver nenhum tipo de distorção causada pelo mercado financeiro é possível que os patamares de preços fiquem acima dos atuais. "Os estoques estão baixos e a relação estoque consumo está bem apertada". A Organização Internacional do Café (OIC) estima que o consumo mundial seria de 128 milhões de sacas em 2008 e a produção mundial atingiria 130 milhões de sacas para o ano safra 2008/09.

 

Carvalhaes lembra que o investimento para ampliação de lavouras é muito alto e o retorno financeiro demora entre quatro e cinco anos para ser recuperado. "Só haverá uma corrida ao plantio se os preços atingirem um nível muito alto". A produção do Brasil, o maior produtor e exportador mundial do grão, deverá cair até 20%, em um momento em que a crise mundial do crédito dificultou a compra de fertilizantes por parte dos produtores.

 

Isabela Becker, diretora da Fazenda Daterra, uma das maiores produtoras e exportadoras de cafés especiais do Brasil, acredita que os preços da commodity devem oscilar entre US$ 1,07 e US$ 1,72 a libra-peso na Nybot. Ela conta que os preços do café já estavam em níveis satisfatórios desde o início de 2008. "O maior problema está nos altos custos com insumos. Mesmo com o recuo do petróleo, não houve queda nos preços". Segundo disse, são muitas variáveis que podem ser consideradas para a valorização do grão. A que possui maior importância, explica, é a redução da produção nacional. "Os estoques mundiais são o principal fator de precificação. Antes do petróleo, há o fator básico de oferta e demanda. No ano em que o Brasil reduz sua produção mundial, automaticamente os preços sobem lá fora", completa a executiva.

 

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de café no Brasil irá recuar para algo entre 36,9 milhões e 38,8 milhões de toneladas, recuo que varia entre 15% e 20% em relação à safra anterior, que já erra considerada pequena pelo mercado.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


Veja também

Comércio efetiva menos temporários temendo crise

O medo da crise financeira chegar ao comércio fez os comerciantes de todo país andarem de lado, pelo menos...

Veja mais
Consumo doméstico deve crescer até 5% este ano

O consumo de café no Brasil manterá taxa de crescimento de 4% a 5% em 2009, com a agregação ...

Veja mais
Wal-Mart foca no cliente para tentar elevar as vendas

A apenas 19 dias de deixar seu posto, após longa carreira na maior varejista mundial, H. Lee Scott, presidente e ...

Veja mais
Varejo põe o consumidor no centro de tudo

A convenção da National Retail Federation, mais importante evento do varejo mundial, acontece nessa semana...

Veja mais
Um "ano de ouro" para a cafeicultura nacional

O crescimento consistente do consumo de café no mundo e a oferta apertada com a queda na produção d...

Veja mais
Fugindo da chuva

O sol até apareceu no último fim de semana no Rio, mas até aqui o verão nas regiões S...

Veja mais
Redondo é rir da vida

A AmBev acaba de lançar mais uma campanha publicitária da marca Skol desenvolvida pela agência F/Naz...

Veja mais
Consumo de café deve crescer até 5% este ano

O consumo de café no Brasil continuará crescendo a taxas anuais de 4% a 5% por cento este ano, com o refor...

Veja mais
É hora de aproveitar

Para quem estava esperando o início das promoções para ir às compras, é hora de aprov...

Veja mais