LEITE: 2008 foi inesquecível. E o que será de 2009?

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O ano de 2008 apresentou de tudo um pouco. Com o leite, foi da empolgação à retração. Por isso, o ano que começa demandará muito mais atenção, maior planejamento e rigor gerencial. Confira a análise e a orientação de Maurício Palma Nogueira, da Scot Consultoria
 
 
 
Começou bem! Em 2007 já se anunciava um possível aumento dos custos de produção para 2008, por conta da alta nos preços de fertilizantes, sal mineralizado e diversas commodities agrícolas. Ainda assim, a perspectiva de margens para a pecuária leiteira era favorável.

 

Em valores reais, se acreditava que os preços médios do leite pagos aos produtores em 2008 iriam superar os preços de 2007 – os mais altos em 10 anos, quando corrigidos pela inflação. Mesmo assim, a previsão de aumento nos custos de produção consumiria as perspectivas de resultados melhores que os de 2007. Por isso que tudo indicava que as margens não seriam iguais às de 2007, mas seriam melhores, quando comparadas a anos anteriores.

 

Período posterior aos preços elevados pagos pelo leite, somado à perspectiva de bons resultados, traz a velha problemática recorrente do setor leiteiro: o inevitável aumento na captação de leite. Essa característica da produção leiteira sempre acaba centralizando as discussões em anos que seguem períodos de preços mais altos. Foi assim em 2005, quando a cotação do leite estava elevada até meados do ano, e foi assim novamente em 2008.


 
Em 2008, a queda no preço do leite só não foi mais acentuada justamente por conta do custo de produção. Se o produtor não estivesse arcando com um elevado aumento nas despesas, certamente a captação poderia ter aumentado ainda mais. Muitos não gostam dessa análise por desacreditarem que exista uma facilidade tão grande de resposta do produtor em aumento de produção.

 

 

De fato, quando se considera uma empresa já produtiva, é difícil aumentar consideravelmente o volume de um ano para o outro, sem que haja aporte de vacas no rebanho. No entanto, na média nacional, os índices zootécnicos das vacas que entram no sistema de produção são muito baixos, especialmente, por causa dos baixos níveis nutricionais. Sendo assim, basta uma melhoradinha na nutrição, e a produção aumenta consideravelmente.

 

Apesar da discordância, não se pode negar os fatos. A captação aumentou consideravelmente, principalmente, nas regiões em que os preços estavam mais elevados no final de 2007 e início de 2008, como é o caso de Goiás. O aumento de quase 14% na captação de leite no Brasil, ao longo do primeiro semestre, é um indício de que esse processo tenha ocorrido. Por isso, o preço médio pago ao produtor em 2008 é inferior ao de 2007, quando se considera valores corrigidos pelo IGP-DI. Das principais regiões produtoras de leite, apenas em São Paulo poderia fechar o ano com preços médios iguais aos de 2007.

 

Resultados nas fazendas leiteiras - Na média geral, o produtor brasileiro não aparenta estar preparado para administrar as tendências de mercado dentro da empresa. Ninguém é capaz de prever o futuro do mercado. E o próprio ano de 2008 é uma prova desta incapacidade. Mesmo assim, a própria história do mercado leiteiro tem ensinado como este se comporta, de um ano para o outro. Para o produtor, essa característica deveria se traduzir, no mínimo, em cautela.
Aliás, cautela foi a palavra do ano, usada em tantas análises relacionadas ao mercado lácteo. Com a empolgação, diversos empresários investiram muito em maquinários, vacas e outros bens de produção. Na grande maioria dos casos, investiram com os preços muito elevados, pois todos estavam comprando ao mesmo tempo. É o caso das vacas de leite.

 

Há ainda a enormidade de produtores com dívidas de financiamento para pagar. Os juros destas dívidas incham os custos de produção e acabam minando parte do orçamento, que poderia ser melhor aplicado na alimentação, por exemplo.
É evidente que a necessidade de investir e continuar crescendo na atividade leiteira é inexorável. Porém, enquanto houver uma legião de fornecedores de leite pouco profissionais, que só tratam de suas vacas em tempos de bons preços, o produtor profissional precisa planejar em dobro cada vez que for investir. Investir no leite não traz um risco proibitivo, mas deve ser feito com estratégia. Deve-se esperar o momento certo.

 

Novamente, igualmente a 2007, o ano de 2008 foi favorável para os produtores que foram cautelosos e que gerenciaram melhor as tendências de mercado e as decisões dentro da empresa. Por outro lado, aqueles que se levaram pela euforia, na crença de que o preço do leite aceitaria qualquer “custo”, terão amargado maus resultados. O mesmo raciocínio vale para a questão da produtividade. Quanto mais produtivas, em litros por hectare, melhores os resultados. A grande maioria das empresas de baixa produtividade certamente fechará 2008 no prejuízo.


 
Perspectivas para 2009

 

Quando terminou 2007, chamávamos a atenção para a possibilidade de aumento nos custos de produção e a conseqüente redução de margens. A recomendação era para que o produtor se mantivesse atento a custos, pois mesmo que os preços fossem mais altos, os resultados tendiam a ser piores.

 

Ao final de 2008, aparentemente, o mercado viveu o inverso de um ano atrás. Voltando à Figura 3, o mercado de insumos e a redução dos custos de produção permitiram patamares inferiores nos preços, com manutenção das margens para os produtores.

 

Os sinais são claros. O mercado de commodities em baixa abre perspectivas de queda nos preços de alguns insumos para 2009. No final do ano, o estoque da indústria de fertilizantes era de 7 milhões de t, volume que corresponde a 30% do consumo anual, segundo informações da Abag-Associação Brasileira de Agribusiness. Os maiores estoques da história.

 

A entidade acreditava que as baixas nos preços seriam repassadas ao produtor em 2009. Se os fosfatos recuarem, cairão também os custos dos suplementos minerais usados para a nutrição animal. Mesmo assim, todo o cenário de redução nos patamares de custos de produção para 2009 esconde uma bomba-relógio, se é que se pode dizer assim. A perspectiva para a agricultura e, conseqüentemente, do mercado de concentrados, é uma incógnita.

 

Vejamos! O custo de produção do agricultor, assim como do produtor de leite, ainda estava atrelado ao mercado de fertilizantes na época em que os preços permaneciam em alta. Hoje, os preços dos produtos agropecuários (grãos, leite e outros) estão em baixa. O crédito público é insuficiente e chegou atrasado. O crédito de empresas privadas para agricultores praticamente se extinguiu, como conseqüência da crise financeira internacional e do custo do dinheiro.
Problemas climáticos em diversas regiões, especialmente, no Sul do País, comprometem a produtividade agrícola para a safra que será colhida em 2009. A mesma, plantada a custos altos em 2008, e com perspectivas de preços desanimadores para os agricultores.

 

É certo que em algum momento haveria uma reviravolta nos preços, levando os grãos novamente a patamares elevados. O problema era saber quando isso aconteceria. No entanto, pela ciclicidade dos preços de agropecuários, não havia dúvida de que em algum momento os preços aumentariam novamente.

 

Portanto, novamente o produtor deve ficar atento ao mercado de insumos. Entre 2009 e 2010, é provável que haja uma nova reversão dos preços dos grãos, o que pode elevar consideravelmente os custos de produção de leite. Neste cenário, o mais provável seria a elevação também dos preços do leite no mercado. Mesmo assim, a história ensina que sempre os aumentos nos custos vêm antes, reduzindo margens e selecionando os mais competitivos.

 

Produtor deve ficar atento ao mercado de insumos em 2009

 

Entre oferta e demanda, Brasil favorecido - A crise financeira deu um tom negativo para as perspectivas do agronegócio no futuro. Evidente, pois o “olho do furacão” pegou de cheio o mercado de commodities. Para o setor leiteiro, o pior impacto foi a redução dos investimentos que vinham sendo feitos e a confirmação dos maus resultados que afetaram grande empresas.

 

Mesmo assim, é preciso olhar adiante, para depois da crise. Passadas todas as turbulências momentâneas, é provável que o cenário internacional volte a viver o período que antecedeu a enorme crise. Com isso, teríamos a economia dos países em desenvolvimento voltando a crescer, a população mundial se urbanizando cada vez mais, o consumo per capita aumentando nestes países – que também são onde a população mais irá crescer. Enfim, as perspectivas para o mundo voltariam ao normal.

 

Com os fundamentos econômicos, entre oferta e demanda de produtos agropecuários, o Brasil será favorecido no cenário internacional. Tanto pela produção de alimentos – o que inclui o leite – como na produção de bioenergia.
Se o cenário favorável ao Brasil não se confirmar, significa que o mundo todo entrará numa crise duradoura. Fome, conflitos regionais, guerras e fortalecimento de ditaduras seriam as características deste mundo. Fácil de imaginar, difícil de crer que aconteça. De qualquer forma, o único cenário duradouro que poderia afligir o agronegócio brasileiro seria também um cenário muito adverso para todas as nações. Seria o pior dos mundos, algo que até agora não foi previsto por nenhum analista sério, mesmo pelos mais pessimistas.
Para os empresários, o ano que começa demandará muito mais atenção, maior planejamento e rigor gerencial. Como vimos antes, em algum momento, o mercado tende a mudar. Ganharão aqueles produtores que conseguirem se antecipar a essa mudança. É fundamental exercitar a habilidade de interpretar fatos de mercado e transformar rapidamente essa interpretação em decisão dentro da empresa.
Não existe uma recomendação básica, padrão. Vale a pena desconfiar de quem mostrar alguma certeza com relação aos próximos meses, ou anos. Estaremos andando por uma estrada desconhecida com diversos obstáculos ainda não transpostos. Certamente, 2009 será um desafio para os gestores de qualquer empresa.

 

Veículo: Revista Balde Branco


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