A forte procura pelo mel brasileiro levou a receita dos embarques a patamares recordes no saldo geral de 2008. Especialistas explicam que a demanda pode ter sido deflagrada pelo sumiço misterioso de bilhões de abelhas em vários países, o que potencializou a queda da oferta. Nos Estados Unidos, grande consumidor e produtor de mel, apicultores contabilizaram em 2007 mais de meio milhão de colônias dizimadas, cada uma com uma população de pelo menos 50 mil abelhas. Canadá e Alemanha também foram afetados pelo problema no mesmo período. À época foram cogitados problemas com pragas e até contaminação com agrotóxicos usado em lavouras.
Representantes dos apicultores brasileiros observam que algumas experiências feitas por pesquisadores dos EUA e Canadá no período também podem ter contribuído para a morte das abelhas. Segundo explicaram, foi colhido material genético dos insetos brasileiros, que são muito resistentes a doenças, para ser usado no fortalecimento da estrutura das abelhas americanas, muito mais sensíveis. "Nossos animais têm como característica serem nômades, ou seja, transferirem a colônia de um lugar para outro junto com a rainha. Nossa teoria avalia que o uso do DNA de nossas abelhas pode ter feito com que muitas mudassem de lugar e deixassem a rainha para trás", explica o presidente da Cooperativa Nacional de Apicultura (Conap), Irone Martins Sampaio. Porém ele lembra que o embargo imposto pela União Européia contra o mel brasileiro foi retirado em março de 2008 e teve um papel importante na valorização do produto.
Os preços atingiram o auge em setembro de 2008, quando o quilo do produto foi negociado por US$ 2,60, valorização de 49% em relação à janeiro do mesmo ano, segundo os dados apurados pela Unidade de Agronegócios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Depois disso, os preços recuaram levemente nos meses seguintes e ficaram com a maior média anual da história: US$ 2,38 o quilo, valor 45% maior que em 2007. Na melhor fase do setor, que ocorreu em 2005, a cotação do quilo fechou com média de US$ 2,31.
Mesmo durante o auge da crise, entre novembro e dezembro, os mercados americanos e europeu - principais compradores do mel brasileiro - contrariaram as regras do mercado, que sugerem redução nas compras quando os preços disparam, e elevaram o volume de importação. "Acredito que havia um déficit muito grande no mercado e tanto os americanos como os europeus não conseguiram reduzir as compras do jeito que deveriam", avalia Reginaldo Resende, coordenador nacional da carteira de apicultura do Sebrae. Em novembro foram embarcados 1,5 mil toneladas, negociadas por US$ 2,56 o quilo. Já em dezembro, o volume exportado saltou para 1,8 mil toneladas cotadas em US$ 2,38 o quilo.
Em 2008, o valor das exportações mais do que dobrou para US$ 43,57 milhões (aumento de 105%), para um volume de 18,2 mil toneladas, número 41% maior que o ano anterior. Mesmo com a queda do embargo Europeu, Resende explica que o mercado americano continuou sendo o maior comprador do Brasil, com 73% do volume total. Ele ressalta que a excelente qualidade do mel do País também favoreceu o crescimento. "A UE bloqueou as exportações para mandar um alerta às autoridades brasileiras no que diz respeito à fiscalização não só dos apiários, mas também de outros produtos", conta. Disse ainda que se tornar dependente só do mercado externo é muito perigoso. "Temos que incentivar o consumo interno, que tem um grande potencial. O consumo per capita aqui é de 128 gramas, enquanto no mundo fica em torno de 1 quilos".
Sampaio conta que a janela para a exportação do mel brasileiro surgiu em 2001. "O embargo mundial da China e da Argentina abriu espaço ao Brasil, que possui abelhas muito resistentes e que não necessitam de medicação. Isso torna nosso mel praticamente orgãnico". A partir disso, ele lembra que as exportações dobraram de 2001 para 2002 e chegaram a atingir 40 mil toneladas. Com a queda do embargo europeu, Sampaio diz que o trabalho será concentrado no aumento da produtividade. O objetivo é dobrar a atual produção de 20 quilos por colméia por meio da capacitação dos apicultores.
veículo: Gazeta Mercantil