Bancos retêm açúcar de usinas e ajudam a alavancar preços

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Além de menor oferta e demanda aquecida, a elevação nos preços do açúcar tiveram nesta semana um componente adicional: algumas usinas que contrataram empréstimo em bancos, usando açúcar como garantia de pagamento, estão tendo o produto retido pelas instituições financeiras por inadimplência. Analistas divergem sobre o volume de produto que está impedido judicialmente de ser comercializado. Mas o fato é que, em alguma medida, essa retenção ajudou a elevar os preços no mercado interno em mais de 15% em 20 dias. Somente em uma semana, a alta foi de 8,5%.

 

Um especialista do mercado, que preferiu não se identificar, explica que o que vem ocorrendo é que algumas usinas de grande porte e que estão em situação financeira difícil não conseguiram quitar seus débitos e tiveram parte de seu açúcar retido como garantia de pagamento pelos bancos credores. Ele afirma que não há estimativas do volume em toneladas de açúcar detido, mas acredita que não se trata de "pouca quantidade", o suficiente para inflar, em alguma medida, artificialmente os preços. "Há usinas mais capitalizadas que estão conscientes de que esse problema ocorre e não estão vendendo a saca de 50 quilos por menos de R$ 40", diz o analista.

 

Outro consultor reconhece que há casos de retenção de açúcar como garantia aos bancos, mas que não em volumes elevados. "Mas, em alguma medida podem sim estar contribuindo para alavancar os preços internos". O consultor pondera, no entanto, que, do ponto de vista econômico, não será vantajoso nem para as usinas e nem para os bancos a retenção desse açúcar por mais tempo, pois em um mês, inicia a próxima safra, o que traz tendência de recuo nos preços e, consequentemente, do valor da garantia. "A receita da venda terá que ser vinculada ao pagamento do débito bancário", sugere. Um trader afirmou que é possível que o que esteja ocorrendo é a retenção do açúcar pelas próprias usinas que ainda detêm a maior parte do produto para forçar altas no preços.

 

O fato é que há pouca oferta do produto no mercado, segundo Mariana Pessini, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). A maior escassez está presente, de acordo com ela, nas regiões de Piracicaba, Assis e Jaú. "Por isso, alguns compradores estão indo buscar o produto em outras localidades, como Ribeirão Preto, onde está sendo vendido a preços mais vantajosos, mesmo com o custo de frete", explica a pesquisadora.

 

No dia 2 de janeiro, a saca de 50 quilos do açúcar cristal valia em São Paulo R$ 33,04, foi se valorizando ao longo dos últimos 20 dias e fechou no dia 21 deste mês em R$ 38,32, alta de 15,98%, segundo o Cepea.

 

Essa escalada é explicada sobretudo pela elevação dos preços internacionais da commodity, o que deflagrou a típica disputa entre as remunerações no mercado interno e externo. Nesta semana, mais precisamente no dia 21, a remuneração no mercado interno esteve maior do que o açúcar destinado à exportação. Naquele dia, o contrato 11 na Bolsa de Nova York (Nybot) ficou em 12,20 centavos de dólar por libra-peso (já considerando o desconto de 40 pontos), enquanto no mercado interno, a remuneração estava ao valor equivalente a 12,84 centavos de dólar por libra-peso, segundo dados informados pela consultoria Datagro. O açúcar de mercado interno está mais vantajoso também que o álcool hidratado - que em equivalente centavos de dólar por libra-peso ficou em 10,79 - e que o anidro (11,99).

 

A demanda externa pelo açúcar brasileiro também esteve bem aquecida neste mês, com os prêmios no porto elevando-se e com aumento dos embarques.

 

Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a média diária de exportação nas três semanas de janeiro foi duas vezes maior do que a do mesmo mês de 2008. Na média, até o dia 18 de janeiro, foram embarcados por dia US$ 29,4 milhões em açúcar ao exterior, valor que foi de US$ 14,2 milhões na média de janeiro de 2008.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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