As lavouras de laranja da Flórida, segundo maior produtor mundial da fruta atrás de São Paulo, sobrevivem à base de irrigação e vento aquecido em meio às baixas temperaturas que assolam o estado americano. Nas últimas madrugadas, os termômetros dos institutos meteorológicos americanos registraram frio abaixo de zero em algumas regiões - 2º Celsius negativos em Lakeland, principal região produtora, e 5,5º negativos ao norte de Jacksonville. "As perdas ocorrem quando a planta fica exposta a essas temperaturas por quatro horas", explica Michael McDougall, da consultoria Newedge USA em Nova York.
A conta do Departamento de Agricultura Americano (Usda) de três milhões de caixas perdidas pode aumentar. "Ainda não é possível quantificar a quebra, mas ela haverá", diz McDougall. O último levantamento do Usda indicava uma produção de 162 milhões de caixas, ante as antigas 165 milhões.
Mas essa esperada redução na oferta da fruta não foi suficiente para promover uma retomada dos preços do suco aos níveis registrados há um ano, quando a libra peso da bebida era negociada a 140,3 centavos de dólar. Com a valorização de pouco mais de 15% apurada em janeiro, a medida da bebida custa agora 78,13 centavos de dólar na Bolsa de Nova Yorque (Nybot).Segundo o consultor americano, a retração de 3% na demanda e a elevação em 84% do volume estocado pela indústria seriam os principais entraves à uma retomada dos preços do suco. As lavouras da Flórida estão concentradas abaixo de Orlando e foram as plantas da faixa oeste e central as mais danificadas pelo frio. Quase 30% da safra de laranja precoce, a hamlin, já foi colhida. As que ainda estão no pé devem enfrentar novas quedas de temperatura e de produtividade.
Do Brasil, o consultor Maurício Mendes, da AgraFNP e do Grupo de Consultores em Citros (GCONCI), acompanha a evolução da safra na Flórida. Segundo ele, os estoques americanos são superiores a 400 mil toneladas de suco. "Se essa geada continuar forte terá impacto sim na produção, pois o mercado é reativo. Porém, do ponto de vista de sustentação de preços, os estoques elevados atrapalham uma recuperação", analisa Mendes.
Ainda de acordo com o consultor brasileiro, a quebra não é exclusiva das lavouras americanas. "Aqui a previsão de perda é significativa, principalmente na região norte de São Paulo". Mendes revela que nem assim os contratos futuros estão sendo fechados entre indústria e produtor. Até o fim do ano apontam que apenas 50% dos contratos para a safra de 2009/10, que começa em junho, haviam sido firmados. Em 2007, mais de 80% dos contratos para a safra deste ano estavam fechados nesta mesma época.
Flávio Viegas, presidente da Associação Brasileira dos Citricultores (Associtros), acredita que o setor produtivo esteja recebendo cerca de US$ 6 por caixa negociada. No mercado spot a mesma caixa de 40,8 quilos é vendida a menos de R$ 7, segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Agrícola (Cepea) - redução de quase 40% em relação aos preços praticados no mesmo período do ano passado.
Os pesquisadores em citros do Cepea calculam que os contratos novos oscilaram entre R$ 8 e R$ 14 a caixa da fruta entregue à indústria. Considerando os contratos antigos, renegociados e os novos, os valores oscilam de US$ 2,90 até US$ 7 a caixa . E para Viegas, a possibilidade de recuperação dos preços no mercado interno é menor ainda em função da "falta de concorrência e compradores". Ele calcula que o volume de suco concentrado estocado pela indústria é 79 mil toneladas, "o que não daria para atender a demanda mensal", afirma.
As indústrias absorvem 80% da produção de laranja cultivada em 680 mil hectares paulistas. Entre julho de 2007 e junho de 2008, a receita com as exportações brasileiras de suco de laranja atingiram US$ 2,031 bilhões, alta de 0,7% contra os US$ 2,017 bilhões da safra anterior. O volume total exportado atingiu 2,025 milhões de toneladas, alta de 3% sobre as 1,96 milhão de toneladas. Na Flórida, a área produtiva de laranja é pouco maior que 200 mil hectares.
Veículo: Gazeta Mercantil