O governo gaúcho inicia este ano projeto ambicioso para elevar a participação do modal hidroviário na movimentação de cargas para 15% até 2017. Hoje, ele não passa de 4% de um total de 90 milhões de toneladas anualmente. O Estado possui 750 quilômetros de vias navegáveis e deseja adequá-los nos moldes dos corredores existentes na Holanda, e para isso colocará em prática o acordo de cooperação técnica firmado o ano passado com autoridades holandesas - que administram o porto de Amsterdã. O objetivo é usar o modal para transporte de contêiner.
O governo fechou parceria com uma consultoria que ajudará a fazer o Master Plan (Plano Diretor) e o Business Plan. Atualmente, técnicos gaúchos estão na fase final de elaboração de um projeto que objetiva incentivar o transporte de navegação de interior. Em seguida, haverá encontro com todos os atores das operações para colaborar na criação de um modelo do tipo ganha-ganha e também identificar como será a participação do governo estadual informa o secretário de Infra-Estrutura e Logistica, Daniel Andrade.
"Não se trata de pura conversa", ressalta o secretário, acrescentado que está confirmada a visita do ministro dos Transportes e das Águas da Holanda para a primeira semana de março. Ele estará acompanhado de uma comitiva com 20 empresários. "Os operadores fluviais querem carga. E nós planejamos montar pequenos e médios hub ports (portos concentradores) exatamente para suprir as carências", diz Andrade.
Com o setor privado, Andrade quer o apoio dos empresários para implementar o transporte de containeres na navegação interior. Segundo ele, com ou sem PPP, o porto de Porto Alegre, o maior porto lacustre do Brasil, receberá um terminal de contêiner ainda no atual governo. "Os casos de Cachoeira do Sul, Estrela, São José do Norte e Rio Pardo, ainda dependerão de acertos com as empresas privadas. Em São José do Norte, Rio Pardo e Cachoeira do Sul, acertos com a Aracruz já resultaram em obras muito importantes", destaca.
"Pelos cálculos, dentro dez anos o volume consolidado de carga transportada no Rio Grande do Sul alcançará a marca de 210 milhões de toneladas. Aqui no Estado, hoje, 85% de toda carga é movimentada por rodovia. Se conseguirmos reduzir esta participação para 60% ainda assim o modal rodoviário continuará com a maior representatividade. Basta dividir 60% por 210 milhões e ver como ficará. Imagina a realidade daqui a 10 anos sem este esforço", pergunta.
A valor de hoje, Andrade idealiza uma redução de custos, anual, em toda a cadeia, na ordem de US$ 100 milhões. Apenas confrontando o valor do frete rodoviário com o hidroviário (1 tonelada por km) a economia cai pela metade, de US$ 40,00 para US$ 20,00. "O segredo é a integração", comenta Andrade, acrescentando que a experiência holandesa, neste ponto, tem uma história de 450 anos, enquanto que a brasileira é praticamente recente.
"Eu vi 200 caminhões com carga total sendo transportados por rios da Holanda cujo calado era de 2 metros a 2,5 metros. E calado aqui não é problema, pois até o porto de Rio Grande temos 4 metros de profundidade", explica Andrade. "O fundamental é estabelecer diálogo", está convencido. Mais ambicioso, o secretário torce para que, em 2023, a movimentação por rios e lagos gaúchos responda por 30% do bolo total. Ele lembra o Rio Grande do Sul tem o segundo mais importante complexo do gênero no Brasil.
Enquanto Andrade trabalha nesta direção, a governadora Yeda Crusius (PSDB) segue outra, menos nobre: ela anunciou, na semana passada, a intenção de adquirir um jato executivo, com capacidade para 20 passageiros. O valor da compra oscila entre US$ 8 milhões e US$ 26 milhões. Os recursos já estariam nos investimentos de R$ 1,25 bilhão para este ano previsto no orçamento.
Veículo: Gazeta Mercantil