Importador de bens de consumo mantém volume de encomendas

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Dólar alto, consumidor cauteloso e crédito escasso. Essa combinação perigosa não refletiu, por enquanto, no volume de compras de bens de consumo estrangeiros. Em vez de reduzir pedidos, importadores de alimentos, bebidas, cosméticos e utensílios domésticos estão preferindo manter as encomendas, na expectativa de ocupar espaços abertos pela concorrência. "Apostamos que a retração da oferta será maior que a retração do consumo", afirma Sydney Bratt, diretor da Gourmand Alimentos, importadora com tradição nas áreas de doces, chocolates, biscoitos e comidas étnicas que manteve o ritmo de compras externas. "Vários importadores se retraíram e redes varejistas que importam diretamente suspenderam pedidos. Daí resolvemos assumir riscos para ganhar mercado", ele explica.

 

"Nós vemos a crise como uma oportunidade, uma época para inovar, se organizar, para atrair clientes", endossa Fernando Abdalla, diretor da Doural Presentes, loja da região central de São Paulo que comercializa 45 mil itens, 45% deles importados. Foi esse senso de oportunidade, diz Abdalla, que levou seu estabelecimento, que tem os tapetes e as utilidades domésticas sofisticadas como carros-chefes de venda, a continuar comprando os mesmos volumes no exterior.

 

Na opinião de economistas ouvidos pela Gazeta Mercantil esse quadro pode não se sustentar por muito tempo. A previsão da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) para a balança comercial de 2009 indica que a importação de bens de consumo cairá 16% neste ano, frente a 2008. A expectativa, informa José Augusto de Castro, vice-presidente da entidade, é de que, no grupo de bens não-duráveis, o desembarque dos produtos alimentícios declinem 7,5%; o dos artigos de toucador, 7,7%; o de bebidas e tabacos, 7,6%; e de vestuário e confecções, 9,8%. Os bens de consumo duráveis serão ainda mais afetados pela crise, principalmente automóveis (-23,1%), máquinas e aparelhos de uso doméstico (-21,6%) e móveis e equipamentos para casa (-17,2%). "Com certeza, tudo vai cair", diz Castro.

 

Segundo o vice-presidente da AEB os desembaraços continuam aparentemente no mesmo nível porque muitas empresas firmaram contratos de médio e longo prazo e têm que importar mesmo que não desejem. Em manufaturados, lembra Castro, os contratos normalmente são mais longos - três meses, seis meses, até um ano. "A importação de bens de consumo cai menos neste começo de ano provavelmente porque os importadores estão cumprindo o que foi acordado lá atrás."

 

Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, também avalia que as compras externas de bens de consumo diminuirão. "Acho que vai ser um ano fraco do ponto de vista de volume devido à forte desvalorização do câmbio, das limitadas linhas de crédito e da retração de consumo", diz. O economista considera que, diante do quadro de crise que se desenha, inclusive com a aceleração dos índices de desemprego, o consumidor certamente vai adotar uma postura mais parcimoniosa, até trocando, em alguns casos, produtos mais caros por itens mais baratos. A RC não segmenta suas previsões por setor. No total, espera importações de US$ 152 bilhões, quase US$ 19 bilhões menos que no último exercício.

 

Negociação

 

A fórmula que permitiu que os importadores de bens de consumo mantenham até agora suas compras no exterior junta um câmbio médio que, ao contrário da cotação do dólar, não oscila ao sabor do vento, e negociações muito mais duras junto aos fornecedores estrangeiros, em busca de descontos generosos.

 

Na Interfood Importação, que tem como abre-alas os vinhos Santa Helena (300 mil caixas vendidas por ano) e Casal Garcia (70 mil caixas), o azeite Carbonell e o chocolate suíço Toblerone, a negociação é bem mais árdua hoje em dia. "Volta e meia estamos nos sentando à mesa para discutir preços, com o intuito de chegar a um valor final com o qual seja possível continuar trabalhando", explica Bruno Airaghi, diretor de marketing da empresa, acrescentando que, no geral, os fornecedores estão sendo compreensivos e estão concedendo descontos. Até dezembro, os preços da Interfood não foram alterados. A partir daí, a empresa alterou sua tabela e passou a trabalhar com um câmbio médio de R$ 2,35 a R$ 2,40.

 

A Gourmand está utilizando um câmbio médio de R$ 2,20. "Mantivemos a cotação de R$ 1,70, R$ 1,80 nos produtos estocados, mas adotamos o novo câmbio nos itens desembaraçados de novembro para cá", comenta Sydney Bratt. Hoje em dia, diz ele, os alimentos importados pela companhia estão cerca de 20% mais caros. O empresário garante que a Gourmand manteve os volumes de importação e não alterou o mix de produtos. "Mantivemos tudo igual no primeiro trimestre, mas, se não conseguirmos ocupar espaços, reduziremos as encomendas", diz ele.

 

A Doural também trabalha com um dólar médio menor que o oficial, mas Fernando Abdalla prefere não abrir o valor. Ele conta que, por enquanto, os desembarques de mercadorias - vindas principalmente da China e da Europa (Bélgica, França e Alemanha), mas algo também do Egito e da Índia - estão nivelados com os da mesma época de 2008. Abdalla conta que houve, no decorrer do ano passado, um aumento de importância dos importados no catálogo da Doural. "Tradicionalmente eles respondiam por algo próximo de 35% do mix. Com a queda do dólar, essa fatia subiu para aproximadamente 45%", afirma.

 

Abdalla tem apostado boa parte de suas fichas na negociação. "Os fornecedores estão entendendo nossa situação. Além disso, por terem perdido o mercado norte-americano, que está em recessão, os chineses estão mais abertos à negociação", comenta.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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