Plantio em terras tradicionalmente ocupadas por culturas de verão poderia ampliar em mais de 70% o cultivo do cereal no Estado
A área de cultivo do trigo no Estado, maior produtor nacional do cereal, com quase 60% da oferta nacional, deve crescer 10% em 2014, elevando de pouco mais de 1 milhão de hectares neste ano para 1,24 milhão de hectares. Desde 2004, a cultura não ultrapassava a marca de 1 milhão de hectares, segundo a Emater-RS. A expansão é efeito do desempenho da cultura na safra em andamento, que deve confirmar um recorde histórico e preços de comercialização em alta, que chegam a 27,4% acima da média histórica. A safra deve chegar a 2,9 milhões de toneladas, alta de 56,13% frente à colheita de 2012, que somou 1,86 milhão de toneladas. O resultado supera em 6,1% o volume de 2011 (2,7 milhões de toneladas), que havia sido o maior da cultura nos campos gaúchos.
Diante da evolução do cereal, dirigentes da Emater-RS e da Embrapa Trigo, com sede em Passo Fundo, destacaram ontem, ao analisar as condições da lavoura e os avanços em produtividade e melhoramento das variedades, que o potencial de expansão do trigo é ainda maior no Rio Grande do Sul. O chefe-geral da Embrapa Trigo, Sergio Roberto Dotto, calculou em 74%, que representaria cerca de 760 mil a mais com o grão, somente com o aproveitamento de áreas ocupadas pelas culturas de verão (soja e milho). Dotto avaliou o que poderia ser cultivado em parte das lavouras que receberão a soja (um terço da área total de 4,3 milhões de hectares) e em outra cota da safrinha de milho, que não tem grande cultivo local. Hoje, o grão que gera o principal insumo de pães, biscoitos e outros derivados ocupa quase 90% das terras cultivadas por culturas de inverno.
Outra vantagem, destacada pelo diretor técnico da Emater-RS, Gervásio Paulus, é que os produtores podem aproveitar equipamentos e insumos usados na produção de soja e milho para a área que poderá receber mais trigo. Hoje, a maior fatia de cultivo está na região Celeiro (Norte do Estado), onde se encontram as maiores produtividades. Com eventual expansão, a política de preços ao produtor também será decisiva. Recentemente, a autorização para importar mais trigo rebaixou cotações. A média por tonelada em dezembro é de R$ 589,00, segundo a Emater-RS, mas chegou a valer R$ 800,00. “O ideal é ficar entre R$ 600,00 e R$ 650,00”, avaliou Dotto.
Os dirigentes das duas estatais defenderam que o setor precisa de uma política pública para incentivo à ampliação do plantio e garantia de mercado. Segundo o chefe-geral da Embrapa Trigo, a principal medida seria reduzir a importação, que hoje vem principalmente dos países do Mercosul - puxada pela Argentina -, beneficiados pela tarifa externa comum, que é zerada para trigo. No começo de dezembro, a Casa Civil do governo federal se reuniu com Embrapa, os ministérios do Desenvolvimento Agrário e de Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e pediu a elaboração de um plano para elevar a produção do setor. O Brasil hoje não é autossuficiente no cereal, tendo de importar para suprir demandas de moinhos. Os produtores locais devem colher 5,4 milhões de toneladas do grão neste ano, mas a demanda interna é estimada em quase 11 milhões de toneladas.
Veículo: Jornal do Comércio - RS