Depois de anos de anêmica produtividade, as grandes farmacêuticas estão lançando novos remédios no ritmo mais rápido desde os anos 90, incluindo 39 só no ano passado.
Mas há um problema: vender essas novas terapias.
Novos medicamentos, como os anticoagulantes da Johnson & Johnson, Pfizer Inc. e Bristol-Myers Squibb Co. e os remédios da Pfizer e da GlaxoSmithKleine PLC contra a doença autoimune, estão sendo recebidos com ceticismo num mercado cada vez mais preocupado com os custos.
As farmacêuticas estão tendo dificuldades para convencer médicos, pacientes e planos de saúde de que os novos avanços compensam o típico aumento de preços. O ceticismo é particularmente forte no caso dos remédios para doenças que já contam com tratamentos eficazes.
Dos 271 remédios lançados desde 2006, apenas 13 emplacaram vendas anuais de mais de US$ 1 bilhão nos Estados Unidos, comparado com 33 das 257 drogas que chegaram ao mercado nos cinco anos anteriores, segundo a ZS Associates, uma consultoria do setor, que analisou 500 lançamentos de remédios.
Os laboratórios enfrentam um cenário semelhante em mercados emergentes. Tim Anderson, analista da Sanford C. Bernstein & Co., diz que no segundo trimestre deste ano a taxa de crescimento em mercados emergentes para as nove maiores farmacêuticas globais foi de 5,7%, comparado com 8% um ano antes.
"Campeões de vendas não são mais tão comuns", disse Ganesh Vedarajan, responsável pela área de oncologia e terapias especializadas da ZS.
As drogas lançadas nos EUA entre 2006 e 2010 geraram uma receita anual média de US$ 143 milhões nos três anos após sua entrada no mercado, comparado com os US$ 208 milhões gerados nos cinco anos anteriores.
Como resultado, as farmacêuticas provavelmente terão mais dificuldade que o esperado para superar o grande golpe que seus campeões de vendas anteriores estão sofrendo com a concorrência dos genéricos. Até 2015, remédios com um total perto de US$ 100 bilhões em vendas anuais nos EUA devem perder sua proteção de patente.
A Pfizer havia previsto que dois remédios aprovados no fim de 2012 - o Eliquis, para prevenir derrames, e o Xeljanz, para artrite reumatoide - ajudariam a empresa a compensar a perda de US$ 12 bilhões em vendas anuais devido à concorrência dos genéricos contra o Lípitor, seu principal remédio para combater o colesterol alto. Até agora, porém, tanto o Eliquis como o Xeljanz tiveram um desempenho de mercado abaixo das expectativas.
Quando o Xeljanz foi aprovado, em novembro de 2012, analistas projetaram vendas de US$ 350 milhões este ano, segundo o Cortellis for Competitive Intelligence, um serviço de informações da Thomson Reuters. Mas as vendas totalizaram somente US$ 69 milhões nos primeiros nove meses de 2013. Os executivos da Pfizer dizem que o desempenho do remédio contra artrite está dentro das expectativas da empresa e que as iniciativas para educar os médicos estão começando a dar resultado, com a droga sendo mais receitada. "Existe uma enorme pressão para se usar o genérico primeiro. Isso de fato reduz a introdução de novas classes" de remédios, disse o diretor-presidente da Pfizer, Ian Read.
Nos EUA, quando vários tratamentos estão disponíveis, os planos de saúde podem tentar direcionar as receitas médicas para as opções mais baratas, principalmente os genéricos. Este ano, 34% dos planos que participaram de uma pesquisa da Zitter Health Insights informaram que sua abordagem padrão para um novo produto é recusar a cobertura ou impor restrições, como a exigência de autorizações prévias.
O Xeljanz, da Pfizer, concorre com marcas estabelecidas como Humira, Enbrel e Remicade, alguns dos remédios mais vendidos no mundo. Analistas acreditavam que o Xeljanz seria uma alternativa atraente porque é um comprimido em vez de injeção, como seus rivais. Mas os médicos continuam receitando os remédios antigos porque o fato de o Xeljanz ser administrado via oral não é um benefício grande o suficiente para ofuscar o comprovado desempenho das drogas anteriores.
Alguns remédios decolaram, como o tratamento para perda de visão Eylea, da Regeneron Pharmaceuticals Inc. Um remédio contra hepatite C da Gilead Sciences Inc., aprovado no começo deste mês, deve logo se tornar um campeão de vendas. Mas outros lançamentos vêm sendo prejudicados por preocupações com o custo e a concorrência acirrada de remédios existentes.
Uma nova classe de anticoagulantes é um exemplo dessas dificuldades. Por décadas, médicos usaram a warfarina, vendida em muitos mercados como Coumadin, no tratamento de uma arritmia cardíaca chamada fibrilação atrial. Mas o remédio exige um monitoramento frequente dos pacientes para garantir que a dose é suficiente para impedir a formação de coágulos sem ao mesmo tempo causar hemorragia.
Boehringer Ingelheim GmbH, Johnson & Johnson, Pfizer e outras empresas correram para desenvolver substitutos e entrar no que esperavam ser um enorme mercado. Três remédios já foram aprovados desde 2010: o Eliquis, da Pfizer e Bristol-Myers Squibb, o Xarelto, da J&J e Bayer AG, e o Pradaxa, da Boehringer Ingelheim. A Daiichi Sankyo Co. está desenvolvendo um quarto, chamado Edoxaban.
"Estudos mostraram que esses [remédios], em geral, são pelo menos mais eficazes que o Coumadin, com um risco de sangramento menor, disse Neal Shadoff, cardiologista do Grupo Presbiteriano do Coração, no Estado de New Hampshire. "O que poderia dar errado num caso desses?"
Ainda assim, de 83.000 pessoas que estão tomando anticoagulantes, apenas 27% estavam usando um dos novos remédios no terceiro trimestre deste ano, segundo registros de um banco de dados da Universidade Americana de Cardiologia. Uma preocupação que reforça a adoção lenta de novos remédios é a ausência de um antídoto eficaz para reverter os efeitos dos novos tratamentos se o paciente apresentar sangramento grave.
Mesmo assim, Anthony Pearson, cardiologista de St. Louis, diz que cerca de 75% de seus pacientes com fibrilação atrial que tomam warfarina preferem continuar com o remédio. Quando ficam sabendo a diferença de preço, disse Pearson, "eles dizem: 'Vou ficar bem com a warfarina'".
Veículo: Valor Econômico