Subsídio da UE para o leite irá prejudicar embarque do Brasil

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A decisão recente da União Europeia de voltar a conceder subsídios para os produtos lácteos exportados pelo bloco preocupa os produtores e exportadores brasileiros do setor e já causou reações em Davos, na Suíça, onde ocorre o Fórum Econômico Mundial de 2009. A decisão poderá prejudicar seriamente o Brasil, atrasando o crescimento das exportações e, inclusive, impedindo a abertura de novos mercados, de acordo com análise de especialistas.

 

Representantes do Brasil e da Austrália - que junto com a Nova Zelândia detém fatia de 43% do comércio global desses produtos - solicitaram esta semana, em Davos, que Bruxelas revogue sua decisão com a justificativa de que a medida prolongará os problemas econômicos mundiais. Com a medida, a União Europeia terá excedente para ampliar sua participação no mercado global e poderá pressionar ainda mais para baixo os preços internacionais, já em queda principalmente após a eclosão da crise financeira global.

 

Atualmente, a tonelada do leite em pó no mercado internacional está valendo entre US$ 2 mil e US$ 2,5 mil. O último ápice de preços ocorreu em setembro de 2006, quando o produto atingiu os US$ 5,6 mil a tonelada, segundo informações fornecidas por Gustavo Beduschi, pesquisador do Cepea, da Esaq/USP. Os europeus haviam suspendido os subsídios para lácteos em 2006 por conta da boa remuneração dos preços internacionais.

 

A União Europeia é um forte concorrente nesse segmento. Por sua tradição e qualidade reconhecida do produto, poderá desbancar grandes players como a Austrália e a Nova Zelândia em alguns mercados importadores exigentes. "O efeito para o Brasil seria indireto, já que não concorremos nos mesmos mercados", avalia Maurício Palma, diretor da Bigma Consultoria e especialista em mercado de leite. Segundo Palma, com a perda de espaço em alguns mercados, australianos e neozelandeses viriam concorrer em mercados atendidos pelos brasileiros, como é o caso da Venezuela - nosso maior importador de lácteos. "A Nova Zelândia produz basicamente para exportar. Esses países têm preços muito competitivos", diz o pesquisador do Cepea. Hoje, o Brasil é competitivo e o patamar de preços da tonelada comercializada é de US$ 2 mil, em média. "Embora hoje tenhamos preço, é importante lembrar que o Brasil ainda não tem tradição nesse segmento. O Brasil começou a exportar em 2004", continua Beduschi, do Cepea.

 

Com produção crescente nos últimos anos, e se não houver muito espaço para escoar o produto no mercado externo, a preocupação no Brasil vem em relação aos preços internos do leite. Sem remuneração suficiente, não há estímulo para o produtor.

 

Quem é quem no globo

 

A Austrália e a Nova Zelândia são os maiores exportadores de leite do mundo. Juntos detém 43% (ou 16,52 bilhões de litros) do mercado global, estimado em 38,4 bilhões de litros. Após os líderes está a União Europeia, com fatia de 30% (11,53 bilhões de litros); seguida pelos Estados Unidos, com 13% (4,99 bilhões de litros). O Brasil aparece com participação de 3% (1,15 bilhão de litros). O bloco europeu é o maior produtor, com 134 bilhões de litros em 2008. O Brasil está em sexto no ranking de produtores. Os dados são do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) e recentes, se referem a 2008.

 

A produção brasileira de leite cresceu 3% no ano passado, sobre 2007, e alcançou 27,5 bilhões de litros em 2008, estimativa da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). No mesmo período comparativo, as exportações dobraram em volume, para 1,15 bilhão de litros. A receita com vendas externas atingiu US$ 541,5 milhões em 2008 (ver quadro acima).

 

Veículo: DCI


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