Varejo pede prazo para pagar à indústria

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Indústria eletroeletrônica é a mais afetada; giro menor de mercadorias nas lojas leva volume de encomendas às fábricas a cair até 15%

 

O varejo começa a pedir à indústria mais prazo para quitar suas faturas. O atraso no pagamento de compras, que atinge principalmente o médio e o pequeno comércio, chega a duas semanas e está mais concentrado na indústria eletroeletrônica, segundo informam fabricantes do setor.

 

A queda nas vendas e dívidas em dólar são as razões apontadas pelos lojistas para postergar o pagamento de faturas. A indústria eletroeletrônica, segundo fabricantes, registra neste início de ano queda de 15% nas encomendas ante igual período do ano passado.

 

As linhas de eletroportáteis, como ferros de passar e liquidificadores, e de áudio e vídeo, como televisores, DVDs e aparelhos de som, são as que mais enfrentam retração de vendas. Os fabricantes desses produtos, segundo a Folha apurou, tentam manter os empregos, já que esperam que a diminuição de consumo seja temporária.

 

Os fabricantes de telefones celulares também constatam queda nas vendas, segundo informa a a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica). Neste mês, as fábricas desse setor operam com ociosidade da ordem de 35%, após operar a pleno vapor durante vários meses seguidos.

 

"O varejo começa a ter problema com a falta de liquidez. Por isso, neste momento, é importante que o governo reduza mais os juros e a carga tributária e tenha políticas para desenvolver o setor produtivo", afirma Antonio Corrêa de Lacerda, diretor da Abinee.

 

Levantamento feito pela Abinee com empresários do setor no final do ano passado revela que, para 48% das empresas consultadas, os estoques de matérias-primas e de produtos acabados ficaram acima do normal e que 52% delas foram afetadas pela falta de crédito para uso próprio e para comercialização de produtos. Para este trimestre, 55% das empresas ouvidas preveem retração dos negócios na comparação com igual período de 2008.

 

"Os lojistas estão pedindo mais prazo de pagamento porque o giro das mercadorias está mais lento, especialmente no caso das lojas menores. O ritmo de vendas diminuiu", diz Marcel Solimeo, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).

 

Em São Paulo, segundo a associação, as consultas ao Usecheque, indicador das vendas à vista, e ao SPC, termômetro das vendas a prazo, diminuíram em janeiro -5% e 6%, respectivamente, na comparação com igual período de 2008.
"Pedidos de lojistas para atrasar pagamento de faturas às indústrias são consistentes com a situação atual do varejo. Com a crise, houve uma virada no ritmo de consumo", diz Emílio Alfieri, economista da ACSP. Se as indústrias conseguirem manter o emprego, na sua avaliação, é possível que a situação do varejo não se agrave nos próximos meses.

 

Um dado que mostra o quanto a crise já abalou a situação financeira do consumidor, segundo Alfieri, é o de pagamento ou renegociação de dívidas em atraso -em janeiro, o pagamento de débitos em atraso caiu 2,3% na comparação com igual período do ano passado, após registrar alta de 9,2% em 2008. E o número de carnês em atraso subiu 9,5%, no período.

 

Estudo feito pela RC Consultores diz que a produção da indústria brasileira de eletrodomésticos caiu 3% sobre 2007 e que essa queda "não resulta apenas do agravamento da crise de crédito iniciada no último trimestre de 2008, mas também da baixa competitividade do setor, sobretudo no caso da linha marrom [produtos de áudio e vídeo]",cita o estudo.

 

Para 2009, a RC Consultores estima queda de 6% na produção do setor devido à restrita oferta de crédito, à inadimplência, à diminuição dos prazos de financiamento e a outros fatores.

 

Veículo: Folha de S.Paulo


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