Por Gustavo Brigatto | De São Paulo
Um problema para quem vai ao supermercado ou contrata qualquer tipo de serviço, a tendência de alta nos preços não tem se manifestado da mesma forma nos mercados de smartphones e tablets. Na verdade, para esses dispositivos, o movimento é oposto, de barateamento. Segundo estudo da empresa de pesquisas Nielsen antecipado ao Valor, o preço médio dos smartphones caiu 5% na comparação entre os primeiros seis de 2014 e o mesmo período do ano passado, ficando na faixa de R$ 607,70. Na categoria de tablets, a queda foi ainda mais acentuada, 35%, para R$ 395,90.
No mercado de tecnologia, é comum a queda de preços dos equipamentos à medida que novidades chegam às lojas. Mas uma outra dinâmica está por trás da redução nos preços dos smartphones e tablets.
Segundo Thiago Moreira, diretor de digital da Nielsen, smartphones e tablets estão se consolidando como a opção de acesso à internet da classe média brasileira, por serem mais acessíveis e mais portáteis que notebooks e computadores de mesa. Para atender essa demanda, as marcas têm colocado no mercado mais opções de aparelhos, a maioria com preços mais baixos, o que puxa o valor médio cobrado no segmento para baixo.
De acordo com a Nielsen, em um ano o número de smartphones disponíveis no varejo saltou de 174 para 306 modelos. Em relação aos tablets, o avanço foi de 117 para 211 opções.
Mas ao contrário do que possa parecer, o preço baixo não significa menos qualidade ou desempenho nos produtos oferecidos. Os modelos mais econômicos que têm chegado ao mercado não devem nada na comparação com modelos mais avançados.
O Moto G, da Motorola, é um exemplo. Com preço sugerido de R$ 649, o aparelho tem tela de 4,5 polegadas, processador de 1,2 gigahertz (GHz) e acesso a redes de quarta geração (4G). É uma especificação bastante próxima à do modelo mais avançado da fabricante, o Moto X, que custa o dobro: tela de 4,7 polegadas, processador de 1,7 GHz e conexão 4G.
Entre os tablets, modelos com telas de 7 polegadas, como o Veloce, da Tec Toy, lançado no fim da semana passada, que permitem navegar na internet por meio de conexões Wi-Fi, têm sido os mais procurados. "O usuário do pré-pago tem o hábito de entrar em redes de bares, restaurantes, ou mesmo usar o celular como ponto de acesso [recurso conhecido como tethering]", disse Moreira.
O resultado dessa combinação de fatores é o crescimento acelerado nas vendas de smartphones e tablets. Segundo a Nielsen, os tablets registraram um avanço de 118% nas vendas. Já a procura por telefones inteligentes avançou 50% no primeiro semestre, atingindo uma participação de 60% nas vendas totais, o dobro da participação registrada no mesmo período do ano passado, de 33%. O desempenho só não foi suficiente para estancar a queda no setor de celulares como um todo. Impactado pela redução nas vendas de telefones mais simples - os "feature phones" - o setor encolheu 58% até junho.
A Nielsen não divulga os valores absolutos da pesquisa. Os números da companhia medem exclusivamente os aparelhos vendidos no varejo, o chamado 'sell out'. Não entram na conta produtos oferecidos pelas operadoras diretamente aos seus clientes - sejam eles pessoas físicas ou empresas.
Na avaliação de Moreira, mesmo com o cenário econômico complicado, a expectativa é que tablets e smartphones continuem na lista de desejos dos brasileiros. "Dificilmente haverá uma redução na demanda no segundo semestre", disse.
Veículo: Valor Econômico