Em vez de subir preços, Unilever diz que chegou a hora do volume crescer

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Paul Polman tem apenas um mês como executivo-chefe (CEO) da Unilever, mas já começa a sacudir o grande e pesado grupo de bens de consumo. Dizendo-se contente por começar a trabalhar em meio a uma recessão - "a crise econômica não é minha, a herdei, mas estou muito contente de que ela esteja aqui" -, Polman apresentou ontem, quinta-feira, a nova estratégia para melhorar os lucros e uma nova série de cortes de custos.

 

"Se eu tivesse chegado como novo CEO e tudo estivesse fácil, eu diria que iria elevar as exigências e as pessoas diriam: ´está bem, este é o novo brado de guerra, mas no que está baseado?´ A crise econômica exige medidas para sair fortalecido. Portanto, vamos ser mais rápidos, vamos elevar as metas em alguns projetos para economizar sobre os quais eu havia falado e, então, parte disso será reinvestido em nossos negócios." 

 

Até agora, a estratégia de negócios da Unilever centrou-se em aumentar o crescimento das vendas, o que é possível conseguir por meio de aumentos nos preços. Ontem, Polman disse que a nova prioridade da Unilever será aumentar o volume de vendas. "Protegeremos nosso volume e asseguraremos que cresça", disse, acrescentando que a empresa poderia fazer isso sem comprometer o fluxo de caixa ou as margens de lucro. 

 

No quarto trimestre do ano, a empresa elevou os preços em 9%, mas Polman está convencido de que aumentos dessa magnitude são insustentáveis. O crescimento futuro terá de ser conduzido pelos volumes de vendas, em vez de pelos aumentos de preços. Seu plano foi amplamente bem recebido pelos investidores, embora alguns tenham advertido que não querem ver a Unilever seguindo a mesma estratégia adotada pela Nestlé no início dos anos 90, quando se dedicou excessivamente a elevar o volume de vendas à custa dos preços. 

 

"Nunca fico a favor de companhias que se centram excessivamente em um ponto [...] trata-se de haver equilíbrio", disse o analista Andrew Wood, especializado em alimentos na Bernstein Research. "No fim das contas, é possível ter todo o volume desejado se não se incrementar os preços." 

 

Polman, ex-executivo da Nestlé, afirmou que a Unilever poderia ampliar os volumes de vendas - que caíram 1,6% no quarto trimestre - melhorando a qualidade de suas marcas e investindo mais dinheiro em publicidade e marketing, assim como em pesquisa e desenvolvimento. "Seremos mais rápidos, iremos elevar o padrão", afirmou. 

 

Embora a Unilever esteja no meio do caminho de um programa de reestruturação iniciado pelo ex-CEO Patrick Cescau, Polman já pressionou por novas medidas para cortar despesas. 

 

Encolheu o orçamento da empresa alocado para viagens em 30%. Congelou salários. Modificou a forma de pagamento das bonificações a funcionários. E reformou alguns dos principais cargos da Unilever, criando, por exemplo, a nova posição de "diretor mundial de aquisições". Este deve supervisionar as compras de matérias-primas e controlar os preços dos insumos por meio de um processo mais centralizado. 

 

O grupo também pretende acelerar o programa atual de reestruturação, incluindo o fechamento de fábricas e cortes de empregos, que originalmente deveria ser completado até o fim de 2010. Também colocou em vigor planos de recuperação de 30 dias para produtos com vendas em baixa. 

 

Alguns analistas, no entanto, questionam se as contas do executivo vão dar certo. "Há montes de economias nas quais se focar", afirmou o analista Julian Hardwick, do RBS. "O que não se sabe é : quanto [o investimento] custará?" 

 

Em 2008, a empresa gastou um valor recorde comprando commodities agrícolas, o que aumentou suas despesas em ? 2,7 bilhões de euros. 

 

O panorama para as commodities neste ano é inconclusivo, segundo afirmou Polman, ontem, destacando que os preços do chá, frutas e óleo de palma subiram recentemente, assim como o custo de empacotamento. "No geral, os preços cairão, mas não para os níveis de dois ou três anos atrás." 

 

O outro grande desafio enfrentado pelo executivo é manter os consumidores comprando produtos de marca da Unilever - desde os xampus Sunsilk até os chás PG Tips. Os consumidores mais atentos aos preços já começaram a desertar dos grandes nomes em favor das marcas próprias de supermercados, mais baratas. 

 

Ontem, Polman enfatizou que a Unilever "não é uma produtora de baixo custo", mas sinalizou uma mudança para um segmento de mercado consumidor de menor renda. "Precisamos assegurar que nossas marcas mantenham um melhor valor pelo preço", afirmou. 

 

Veículo: Valor Econômico


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