Produção nacional de PCs e celulares despenca

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As empresas que produzem computadores e telefones móveis no Brasil foram do céu ao inferno em pouquíssimos meses. Os dois setores, que acumularam bons resultados nos dez primeiros meses do ano passado, viram a maré virar rapidamente quando a crise bateu forte. 

 

A produção de celulares recuou nada menos que 61,4% em dezembro frente a igual mês de 2007, segundo a Pesquisa Industrial Mensal divulgada nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

 

No segmento de informática, o mercado desandou já em novembro, quando a produção de computadores amargou retração de 29,7%. A indústria já refletia a falta de ânimo do consumidor. Entre outubro e dezembro, foram comprados 2,7 milhões de computadores no país, 11% menos que no último trimestre de 2007. 

 

O aumento da renda e da oferta de crédito ao consumidor, nos últimos anos, levou mais brasileiros a adquirir produtos eletrônicos. A moeda brasileira valorizada, os subsídios concedidos pelas operadoras de telefonia e os benefícios fiscais incidentes sobre a indústria de computadores ajudaram a turbinar o mercado. No entanto, os primeiros sinais de desemprego, o dólar alto e a queda no volume de crédito inverteram por completo esse cenário. 

 

Esses efeitos, que fazem qualquer consumidor pensar cinquenta vezes antes de assumir uma nova dívida, também geram tensão nas relações entre os fabricantes terceirizados e os detentores de marcas de equipamentos. Uma das principais dificuldades que as terceirizadoras têm enfrentado é a escassez de crédito, diz André Lissner, diretor administrativo e financeiro da brasileira Visum. 

 

A empresa, que tem quatro fábricas espalhadas no Paraná e uma em Manaus, produz equipamentos e componentes para uma série de empresas, mas tem sentido os reflexos da falta de dinheiro no mercado. "A falta de crédito fez com que ficássemos bem mais seletivos nos projetos", comenta Lissner. "Não vamos produzir algo para alguém sem ter a certeza de que iremos receber pelo serviço." 

 

A Visum, que na semana passada anunciou acordo para fabricar produtos da taiwanesa Asus no país, saltou de uma receita de R$ 11 milhões em 2004 para R$ 165 milhões no ano passado. Por enquanto, diz Lissner, a empresa - que conta com quase 2 mil funcionários e também produz componentes para AMD e Positivo Informática - não realizou cortes em suas operações. "Adotamos uma postura mais consciente, não entramos na onda de bolha." 

 

O Valor procurou as companhias nacionais Teikon e Digitron - que também atuam no modelo de produção terceirizada - para comentar possíveis ajustes de suas operações. Nenhuma atendeu o pedido de entrevista até o fechamento desta edição. 


A indústria de telefonia móvel segurou as pontas quase até o fim do ano. Como a produção de aparelhos para o Natal - principal data para o setor - tem início em agosto ou setembro de cada ano, quando a crise estourou os fabricantes já haviam garantido um bom estoque de componentes antes da subida do dólar. 

 

A produção de celulares no Brasil atingiu o recorde de 76 milhões de unidades no ano passado, 12% acima do volume alcançado em 2007. As trocas de aparelhos, a conquista de novos clientes pelas operadoras e as exportações sustentaram essa alta. 

 

Eduardo Tude, diretor da consultoria Teleco, avalia que a queda no mercado de aparelhos de celular vai ser bem mais forte que a retração entre as operadoras de telefonia móvel. "As pessoas vão adiar a troca de seu aparelho de telefone por um modelo novo, mas não vão parar de usar os serviços", afirma. 

 

Veículo: Valor Econômico
 


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