"Made in Brazil" é aposta dos supermercados

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O cenário conturbado para as exportações brasileiras não parece afugentar os planos de grandes players supermercadistas como o Grupo Pão de Açúcar e a subsidiária brasileira da rede norte-americana Wal-Mart, visto que essas companhias alcançaram crescimento nesta área no ano passado e ainda mantêm perspectivas de resultados positivos para este ano. Ampliar de 10% a presença de produtos fabricados no País nas gôndolas das redes afiliadas do sócio francês Groupe Casino, especialmente os de marca própria, é um dos principais objetivos da área de exportação da companhia criada no mercado nacional pela família Diniz.

 

O negócio de venda de itens Made in Brazil para serem comercializados em outras redes supermercadistas teve um resultado surpreendente no Grupo Pão de Açúcar no ano passado, quando a receita da rede com exportação foi impulsionada de 50%, ante o ano anterior, totalizando US$ 20 milhões. De acordo com a companhia, a nova mola propulsora deste negócio são justamente as marcas próprias Taeq e Qualitá, que foram totalmente remodeladas há menos de dois anos e já representam ao menos 6% do seu faturamento. Para se ter ideia do impacto do negócio externo, recentemente o GPA assinou contratos com a rede argentina La Amónia, formada por mais de 110 lojas, e com a colombiana Éxito, que contabiliza faturamento anual de US$ 2,5 bilhões e possui cerca de 260 pontos-de-venda.

 

"Ainda estamos conversando com parceiros na Argentina. Este é um negócio importante, os contratos são discutidos por meses, pois exportamos às redes estrangeiras com a mesma margem praticada aqui no Brasil: não deterioramos as margens de lucro", disse, em entrevista ao DCI, Sandro Benelli, diretor de Global Sourcing (cadeia de suprimentos) do Pão Açúcar. O executivo contou que a supermercadista Éxito resolveu adotar os conceitos dos cinco pilares adotados pela marca Taeq (nutrição, orgânico, beleza, casa e esporte), desenvolvendo, mediante autorização, alguns produtos da marca, como a conhecida barra de cereais.

 

Rastreabilidade

 

Ao perceber o potencial do negócio, desde o ano passado o Pão de Açúcar passou a intensificar o rigor com a rastreabilidade dos alimentos recebidos dos fornecedores, como a categoria de frutas, legumes e verduras (FLV), que recebeu um programa de monitoramento para adequar-se às normas brasileiras, especialmente as internacionais.

 

Só para se ter uma ideia, apenas na semana do Natal foram enviados ao grupo Casino três contêineres de frutas, distribuídos por 50 lojas da rede, na Europa. Essa foi a segunda edição do festival de produtos brasileiros por lá, mas a ideia a partir deste ano é fazê-lo duas vezes por ano.

 

Em relação à área de carnes, o diretor de Global Sourcing aponta que a rastreabilidade europeia é mais rigorosa que a norte-americana. Mesmo assim, em 2008 foram exportados para a França dois contêineres do produto, porém com valor entre 10% e 15% devido à exigência. O governo estima que existam 11 mil fazendas de gado no País, das quais, até o final do ano passado, mil estavam homologadas; neste ano, este número poderá crescer 20%.

 

Atualmente, 95% das exportações ainda são voltadas para o Casino, e o restante é destinado a outras redes. De acordo com Benelli, a missão é trabalhar para os parceiros do sócio francês; mesmo assim, a segunda maior supermercadista brasileira no ranking nacional, segundo dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), liderado hoje pela rede Carrefour, comercializa itens como café, palmito e seleta de legumes da marca Qualitá para uma empresa administrada por brasileiros no Japão. A países como a Venezuela e a Colômbia, são vendidos artigos eletroeletrônicos, brinquedos e utensílios domésticos.

 

Presença

 

No perfil de negócios da concorrente do setor, a rede Wal-Mart, as exportações também representam forte impacto de vendas, tanto que geraram uma receita de R$ 787,5 milhões até novembro do ano passado, valor aproximadamente 5% maior que o de 2007.

 

Segundo o diretor de Exportação da companhia, Ricardo Bedani, mais de 430 empresas nacionais já exportam via Wal-Mart, que hoje tem, entre os principais compradores, as filiais de Estados Unidos, México, Porto Rico, Canadá, Argentina, Reino Unido e América Central. "Em 2008 começamos a exportar uvas da região de Petrolina (PE) e panelas de pressão. A maioria dos fornecedores exportadores são as médias empresas, com faturamento anual na faixa de R$ 10 milhões, sendo que o valor médio de cada emissão varia de R$ 10 mil a R$ 50 milhões de acordo com a sazonalidade", diz Bedani.

 

Segundo ele, não há limite mínimo ou máximo para exportar. Na companhia, a área de Global Procurement (processo de aprovisionamento) oferece produtos às demais filiais ou recebe solicitação de itens específicos. Quando ocorre este tipo de demanda, é feita uma espécie de licitação global, em que a diferença de preço por país é de em média US$ 0,05 centavos.

 

Na categoria alimentar, o setor de Global Procurement da rede exporta balas e pirulitos (EUA), carne enlatada (Canadá), e panetones, chocolate, bolachas e bombons. Entre os itens não-alimentícios, estão principalmente itens como toalhas e lençóis da Coteminas, calçados da Grendene, os famosos lápis de cor da Faber Castell e ossos para cachorro fabricados pela Vitapet.

 

Para Sussumu Honda, presidente da entidade que representa o setor, a Abras, essa movimentação de itens nacionais em prateleiras fora do Brasil não deve ter queda por causa da crise financeira. Para ele, o cenário conturbado não deverá alterar o ritmo de exportação das gigantes supermercadistas, redes que levam produtos brasileiros a outros países.

 

Ainda sobre o quesito crise, Abílio Diniz, presidente do Conselho de Administração do Grupo Pão de Açúcar, ressaltou, na última sexta-feira, em São Paulo, que o empresariado brasileiro precisa aumentar a dose de confiança para sair desse turbilhão de fatos negativos. Para o sócio da companhia, é preciso evitar o desemprego. "Temos de ver o quanto das demissões é efeito da crise e/ou de ajuste de empresas que vinham trabalhando acima de sua capacidade de produção", pontuou. Abílio voltou a afirmar que a empresa manterá o plano de investir R$ 1 bilhão este ano. "Não há razão para modificarmos. As vendas estão normais ao nível de orçamento que fizemos", disse.

 

Procurada pela reportagem, a rede varejista Carrefour não quis se pronunciar sobre exportação.

 

Veículo: DCI


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