Mais de mil agricultores familiares que forneciam leite para a indústria Santa Rita Laticínios, de Estrela, devem receber, nesta semana, parte do valor devido pela empresa. Segundo o primeiro tesoureiro da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag), Nestor Bonfanti, foram realizadas duas reuniões com a indústria na terça-feira e na quarta-feira.
O primeiro encontro foi frustrado, já que a Santa Rita, que deve um total de R$ 3 milhões (referente à falta de pagamento nos meses de novembro e dezembro), sugeriu o pagamento de 20% do total da dívida, pago em três parcelas (nos dias 7, 22 e 30 de janeiro), proposta recusada pelos trabalhadores. No dia seguinte, as negociações evoluíram com a proposta de pagamento de 10% da dívida – acordada para ontem – e a realização de nova reunião na segunda-feira pela manhã para definir um novo cronograma de pagamento.
Bonfanti destacou que foi um avanço pequeno, mas que vai garantir que o pagamento imediato de uma parte da dívida (no caso de quem tem R$ 1 mil a receber, o pagamento da primeira parcela será no valor de R$ 100,00). Na proposta inicial, o valor de cada uma das três parcelas seria inferior a R$ 70,00. “Vamos ver se o pagamento previsto para esta quarta-feira foi concretizado e esperamos que a empresa apresente um cronograma prevendo o pagamento total do valor restante.”
O tesoureiro da Fetag ressalta que representantes da Santa Rita alegam que a empresa não está mais comprando leite para não elevar ainda mais a dívida, o que sinaliza para interrupção nas operações da empresa, pelo menos momentaneamente. O Jornal do Comércio tentou contato com a indústria mas não conseguiu retorno para confirmar a informação. “A notícia que se tem é de que estão tentando alugar, vender ou buscar investidores”, comenta Bonfanti. “O mais provável é que a partir da semana que vem outra empresa assuma a planta”, diz, ressaltando, no entanto, que para a Fetag o importante é o pagamento dos produtores e não os negócios da empresa. Ainda assim, não deixa de demonstrar preocupação com situação, que pode ser mais severa do que aparenta.
Só em relação aos agricultores vinculados à Santa Rita, o problema não pode ser minimizado. Muitas das famílias que forneciam matéria-prima para a empresa estão com dificuldades para entregar a produção de leite (que é diária e tem custo elevado) para outras fábricas. “Depois do final de dezembro, alguns estão entregando para outras empresas, mas outros tantos enfrentam dificuldades”, salienta. Em geral, os produtores entregam o leite para receberem o valor correspondente apenas 45 dias depois. “Então, é uma situação muito delicada mesmo e vai gerar um passivo social muito grande”, constata.
A Fetag estima que, em todo o Estado, em torno de 20 mil produtores têm valores a receber pela comercialização do leite. O presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado (Sindilat-RS), Alexandre Guerra, afirma que “esta falta de pagamento pelo leite recebido dos produtores é um caso específico e não pode ser generalizado”. Para Guerra, a estagnação do mercado é sazonal. “É natural no fim do ano acontecer uma redução de vendas e, consequentemente, de preços. Nesse período, os supermercados estão envolvidos com as promoções de produtos natalinos, mas a situação deve se normalizar já em fevereiro.”
Veículo: Jornal do Comércio - RS