Os estudos do SPC Brasil mostram ainda que há uma inclinação do brasileiro para financiar mercadorias supérfluas, o que, segundo especialistas, pode ser evitado com educação financeira
Um relatório produzido pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) concluiu que a principal utilidade do crédito oferecido ao consumidor brasileiro é a satisfação de desejos de consumo de curto prazo como roupas e sapatos, eletrônicos e eletrodomésticos.
Além disso, os estudos mostram que há uma inclinação maior do brasileiro para financiar mercadorias supérfluas. O relatório do SPC foi gerado a partir da análise de quatro pesquisas sobre o perfil do consumo do brasileiro divulgadas pela empresa ao longo de 2014.
De fato, uma pesquisa sobre o comportamento dos adimplentes e inadimplentes mostrou que 17% dos consumidores em idade adulta, o que representa cerca de 23 milhões de pessoas, se encaixam no perfil imediatista, ou seja, de consumidores inclinados a viver o presente, sem se preocupar com o futuro financeiro e sem o hábito de planejar ou poupar. O estudo ainda conclui que a principal utilidade do crédito oferecido ao consumidor brasileiro é a satisfação de desejos de consumo de curto prazo como roupas e sapatos (63% do total), eletrônicos (58%) e eletrodomésticos (44%).
De acordo com o planejador financeiro Jansen Costa, os dados do SPC Brasil evidenciam que o brasileiro pensa muito no curto prazo, focando no valor de parcelas mensais e não no valor total da compra realizada.
Já Reinaldo Domingos, educador financeiro, explica que o caráter consumista é uma marca do Brasil, mas que a eficiência do marketing publicitário, aliada à facilidade e rapidez de acesso e uso de diversas modalidades de crédito, ajudam o brasileiro à comprar cada vez mais aleatoriamente. Para a economista chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, os dados mostram que a relação do brasileiro com o crédito não é a melhor.
"É necessário entender que o crédito é um fomento para a economia pessoal, ou seja, serve para financiar coisas que geralmente não conseguimos pagar à vista. Mas o que se vê hoje é que a maioria das pessoas usa o crédito com coisas que poderia pagar juntando dinheiro, por exemplo. Esse tipo de consumo é preocupante porque leva à inadimplência, pois não existe qualquer tipo de planejamento ou preocupação com o futuro", explica.
A economista comenta ainda que o consumidor precisa aprender a lidar melhor com bancos, entendendo que ele é um cliente e que a instituição tem obrigação de esclarecer qualquer dúvida.
Costa concorda, afirmando que os bancos poderiam ser mais transparentes quanto às taxas cobradas.
Educação financeira
Os conselhos dados pelos especialistas já são conhecidos: é preciso planejar as finanças, tendo em mente o orçamento disponível tanto em curto prazo quanto em longo.
Entretanto, isso é um problema, porque no Brasil não existe um tipo de orientação financeira estruturada, explica Domingos. "A educação financeira é uma ciência humana, que lida com hábitos e costumes e esse consumo impulsivo só pode ser inibido se houver uma mudança do modelo mental consumista. O modelo ideal deve ter sempre um projeto de vida, com sonhos e objetivos claros. Se não, o consumidor vai continuar comprando de forma errada", afirma o educador.
Costa conta ainda que a educação financeira é um conhecimento que falta em todas as classes sociais e reconhece sua importância no Brasil. "Poupar dinheiro para pagar à vista tem que fazer sentido na cabeça do consumidor e isso só acontece com educação", explica o especialista.
Veículo: DCI