Com estoques altos e concorrência com o cereal americano, tendência é de preços estáveis
Os estoques altos de milho e a concorrência com o cereal americano devem fazer com que 2015 seja um ano não muito favorável à cultura em Minas Gerais e demais regiões produtoras do país. A tendência, no curto e médio prazos, é de preços estáveis sem fatores de sustentação que possam sinalizar altas. Em Minas Gerais, a saca de 60 quilos é negociada entre R$ 24 e R$ 25 desde meados de novembro, valor que deve permanecer até o início da colheita da primeira safra do cereal, que começa em fevereiro.
De acordo com o zootecnista e analista de Scot Consultoria, Rafael Ribeiro de Lima Filho, a oferta mundial de milho supera a demanda, por isso, não existe, atualmente, espaço para altas.
"O cenário no país e no mundo é de grande disponibilidade do grão, isto porque tivemos uma segunda safra brasileira muito maior e houve também aumento da produção norte-americana. Devido a esses fatores, o mercado do milho deve manter a estabilidade por enquanto", explicou.
Ainda segundo o consultor, fatores climáticos - já que as chuvas estão abaixo do esperado para o período - e o atraso no plantio da soja, poderão contribuir para a redução dos estoques e para a valorização dos preços do cereal.
"O atraso na semeadura da soja reduziu ainda mais a janela de plantio do milho segunda safra. Isso influencia na tomada de decisão dos produtores, que podem optar por não cultivar o cereal na safrinha ou migrar para culturas mais resistentes ao período tradicional de seca. Outro fator que durante a colheita poderá contribuir para a valorização são os efeitos climáticos e também a redução da produção na safra de verão no país, já que muitos agricultores ampliaram o plantio da soja e reduziram o de milho", explicou.
Para o superintendente de Política e Economia Agrícola da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), João Ricardo Albanez, os estoques brasileiros de milho são significativos.
"Iniciamos a safra 2014/15 com um estoque de passagem de 19,4 milhões de toneladas, volume superior ao do início da safra anterior, 15,5 milhões de toneladas, que já era considerado alto. Para se ter ideia, o volume armazenado representa 24,6% da produção do cereal em 2013/14. Em anos anteriores, os estoques eram bem menores. Na safra 2009/10, a armazenagem era de 5,5 milhões de toneladas, em 2010/11 de 5,9 milhões de toneladas, em 2011/12 em torno de 5,5 milhões de toneladas e em 2012/13 de 8,2 milhões de toneladas", disse Albanez.
China - Para o superintendente, a sinalização da China em abrir o mercado para o milho e para as carnes brasileiras seria uma das saídas para que ocorresse a redução dos estoques. A possibilidade foi abordada durante o encontro da presidente Dilma Rousseff, no início de janeiro, com o vice-presidente da China, Li Yuanchao, que prometeu agilizar o processo para a entrada de carne brasileira no mercado asiático. No encontro, o representante chinês também comentou que o país concluiu os estudos para a liberação das importações chinesas de milho brasileiro.
"Não sabemos ainda quando as medidas poderão ser adotadas, mas quando ocorrer, serão importantes para o país e para Minas Gerais. Se a China entrar no mercado, vai permitir o maior escoamento do milho e com o dólar valorizado os produtos brasileiros estão mais competitivos".
De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção brasileira de milho na primeira safra será de 29,2 milhões de toneladas, queda de 7,5%. Ao contrário do país, Minas Gerais deve colher no período 6 milhões de toneladas do cereal, o que representará um incremento de 5,8% sobre a igual safra anterior. No Estado, o aumento virá da produtividade, estimada em 6 toneladas por hectare e 14,7% superior a registrada anteriormente. A área cultivada com o milho, 1,01 milhão de hectares, está 7,8% inferior a utilizada em igual safra anterior.
Veículo: Diário do Comércio - MG