A Argentina aprovou ontem para comercialização o algodão com genes combinados resistente a inseto e herbicida e ampliou sua vantagem tecnológica no campo em relação ao Brasil. Conforme avaliação de especialistas, a tecnologia já colocada à disposição dos agricultores no país vizinho ainda não está nem em pauta para votação em 2009 na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), instituição responsável pelas deliberações de transgênicos no Brasil. A defasagem tecnológica do algodão transgênico brasileiro é apontada por pesquisadores e produtores como o principal entrave para ampliar o uso da tecnologia.
Na safra 2007/08, a única opção do produtor era o algodão BT, da Monsanto, resistente a um tipo de lagarta e liberado em 2005. As variedades da Bayer CropScience, tolerante ao glifosinato de amônio e a de propriedade da Monsanto do Brasil, tolerante ao glifosato, só foram aprovadas em agosto e setembro de 2008, respectivamente. No último ano, o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA) estima que foram cultivados cerca de 215 mil hectares de algodão transgênico. O número equivale a 19,7% da área total do País, avaliada em 1,1 milhão de hectares pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Para Alda Lerayer, diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), embora o cultivo de transgênicos esteja crescendo no País, os resultados poderiam ser melhores. "As tecnologias brasileiras estão defasadas e desestimulam o plantio por causa das dificuldade com o manejo e ineficiência em relação à outros tipos de pragas", explica. Segundo disse, as variedades de algodão aprovadas no ´Brasil em 2008, já estavam à disposição dos agricultores argentinos há um bom tempo. Segundo disse, os problemas causados por ambientalistas foi um dos fatores que contribuíram para que essa defasagem se intensificasse.
"Os transgênicos são um instrumento tecnológico vital para o algodão brasileiro. Eles são imprescindíveis para reduzir custos e impactos ambientais", destacou Andrew Macdonald, consultor da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). Segundo disse, a Índia, um dos principais concorrentes do Brasil, conseguiu mudar seu status de importador para exportador em três anos graças aos organismos geneticamente modificados (OGMs). "Atualmente, cerca de 65% da área plantada lá é ocupada por transgênicos", revelou. "Estamos com 10 anos de defasagem em relação ao resto do mundo", completa o consultor.
Segundo Alda explicou, o pagamento de royalties não é problema para os produtores. "Eles não se incomodam em pagar desde que tenham um bom custo benefício". Ela explica que no caso do algodão, várias pragas podem atingir a lavoura. Por esse motivo, explica que quanto mais genes combinados na planta, melhores serão os resultados. A diretora do CIB revelou que não há nenhuma variedade com genes combinados em pauta para votação na CTNBio. Segundo informou, o tempo médio de liberação após a pauta é de seis meses. "Se essa tecnologia for apresentada em junho deste ano, só estará disponível em janeiro ou fevereiro de 2010". Macdonald acrescenta que é preciso ampliar o ritmo de aprovações para aumentar a competitividade da agricultura nacional. "Precisamos de melhores condições para concorrer melhor contra a Índia".
Segundo a diretora do CIB, o país vizinho também está à frente do Brasil em culturas como o milho. "Sem dúvida nenhuma eles estão na nossa frente em tecnologia. No milho, por exemplo, já possuem muitas variedades com genes combinados, enquanto a primeira foi aprovada por aqui no início do ano passado"
Veículo: Gazeta Mercantil