Crise de crédito faz Nilza atrasar pagamentos

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Com o caixa afetado pela seca de crédito decorrente da crise financeira internacional, a Indústria de Alimentos Nilza está atrasando o pagamento de produtores de leite e outros fornecedores nas regiões de Campo Belo e Itamonte, no sul de Minas Gerais, e na de Ribeirão Preto (SP), onde tem fábricas. A empresa também encerrou as operações na unidade de Campo Belo e demitiu 140 pessoas. Essa fábrica mais a planta de Itamonte passaram para as mãos da Nilza há cerca de 10 meses, quando a empresa comprou a Montelac após uma disputa com a Parmalat. 

 

"Eles alegam [a Nilza] que não têm dinheiro para pagar", afirma Márcio Marcos Carvalhal Júnior, produtor de Itamonte e tesoureiro do Sindicato dos Produtores Rurais da cidade. Ele entregava mil litros de leite por dia à unidade da Nilza em Itamonte, mas deixou de fazê-lo por conta dos atrasos e agora está fornecendo o produto para a Danone processar em Poços de Caldas (MG). Segundo ele, a Nilza quitou 68% do pagamento referente a novembro, mas não pagou no mês seguinte. 

 

A Nilza admite atrasos nos pagamentos a fornecedores, mas, segundo o diretor de marketing José Maurício Furtado, a situação foi normalizada com a maioria deles, cerca de 78%. Ele afirma que os casos de produtores que não receberam o pagamento em dezembro são "pontuais". E diz que a expectativa é que, na metade de março, a empresa tenha "zerado todas as posições", isto é, conseguido quitar débitos com fornecedores. 

 

De acordo com Furtado, a capacidade de pagamento da Nilza foi afetada a partir de outubro, com o agravamento da crise financeira internacional. "Linhas de crédito não foram renovadas e a empresa perdeu R$ 20 milhões a R$ 25 milhões de capital de giro", afirma. 

 

Nesse cenário, a Nilza decidiu escalonar o pagamento de seus fornecedores de leite, cerca de 3.200 nas regiões onde atua. Mas em dezembro, "um mês curto, com poucos dias de faturamento" por causa das festas, a situação se agravou e a empresa começou a adiar pagamentos, admite Furtado. 

 

Não foi apenas em Itamonte que a Nilza perdeu fornecedores por atraso de pagamento. Uma pecuarista de Campo Belo, que prefere não se identificar, também passou a vender leite para a Danone depois que não recebeu o valor referente ao mês de dezembro da Nilza. Do pagamento de novembro, assim como seu colega de Itamonte, ela recebeu 68%. Ela entregava 4 mil litros de leite por dia à fábrica que teve as operações encerradas. 

 

O diretor da Nilza desvincula o fechamento de Campo Belo dos problemas financeiros da empresa. Segundo ele, o fechamento da planta já estava nos planos da Nilza quando a empresa adquiriu a Montelac. A razão é que a distância entre as duas - 280 quilômetros - é considerada pequena. "Temos um projeto futuro para a unidade", afirma, sem detalhes. 

 

Com o fechamento de Campo Belo, a Nilza está processando 600 mil litros de leite por dia em Itamonte. Já em Ribeirão, onde a capacidade é de 850 mil litros, o processamento é de 750 mil litros, diz Furtado. Mas, fontes do mercado afirmam que o processamento em Ribeirão teria caído à metade. 

 

A Nilza atribui as dificuldades sobretudo à seca de crédito, mas especialistas do setor afirmam que a compra da Montelac por R$ 130 milhões, seguida pela crise no setor de leite, quando os preços despencaram, precipitou os problemas da Nilza que estaria alavancada e tentava ganhar "share" no mercado. Furtado, contudo, nega alavancagem e que a empresa tenha recorrido à estratégia de "comprar market share" por meio de redução de preços. 

 

Segundo ele, as linhas de crédito continuam "represadas". Assim, para gerar caixa e pagar dívidas a empresa busca se reestruturar com redução de despesas operacionais e ganho de eficiência. 

 

Com uma participação de 35% da BNDESPar em seu capital, a Nilza também estaria buscando um sócio para equacionar os problemas financeiros, dizem fontes do setor. Questionado sobre o tema, Furtado disse que não comentaria. 

 

Esta não é a primeira crise da Nilza. Quando era cooperativa, até o fim de 2005, viveu momentos de graves dificuldades financeiras e teve de passar por uma reestruturação, o que culminou com a venda da fábrica de Ribeirão e da marca Nilza para o empresário Adhemar de Barros Neto, ex-acionista da Lacta. Em 2006, ele criou a Indústria de Alimentos Nilza e em 2008 entrou numa disputa com a Parmalat para ter a Montelac. A empresa mineira já tinha firmado memorando de entendimentos com a Parmalat, para venda de seus ativos por R$ 100 milhões, mas desistiu e vendeu para a Nilza, o que gerou disputa judicial. 

 


Veículo: Valor Econômico


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