Produtores de leite cobram medidas do governo para barrar importações

Leia em 2min 40s

A recente avalanche de importação de produtos lácteos argentinos pode virar um estopim para um novo atrito entre os principais sócios do Mercosul. Os produtores brasileiros de leite pressionam o governo a adotar barreiras tarifárias e não-tarifárias para evitar a inundação do mercado interno.
 
 

A Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) informou ontem ter solicitado ao governo a imposição de licenças não-automáticas e a negociação de um acordo de preços mínimos aos lácteos argentinos. A CNA suspeita de triangulação nas vendas do vizinho, estimuladas por excedentes que passaram a ser novamente subsidiados pela União Europeia e também do produto da Nova Zelândia. Atraídas por preços mais baixos praticados pelos platinos, as indústrias brasileiras compraram US$ 22 milhões em lácteos no exterior - 82% da Argentina. A média mensal de 2008 ficou em US$ 9,9 milhões. 

 

"A triangulação não é reprovada pela OMC [Organização Mundial do Comércio], mas é uma prática desleal de comércio. Na década de 90, eles fizeram isso", diz a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (DEM-TO). "O excesso de paciência com argentinos e alguns vizinhos da América do Sul tem prejudicado a produção e a economia, mas tudo tem limite". Segundo ela, a Argentina não teria produção suficiente para abastecer ao mesmo tempo seu mercado interno, a Venezuela e ainda exportar em grande quantidade ao Brasil. Em jogo, estão o interesse de 800 mil produtores nacionais, responsáveis por 28 bilhões de litros de leite. 

 

"Se a Argentina está exportando mais para a Venezuela e tanto mais para o Brasil, de onde está saindo esse leite?", questiona o presidente da Comissão de Leite da CNA, Rodrigo Alvim. 
Abreu afirma que uma opção para os argentinos seria apoiar a elevação de 27% para 30% a Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul. "Seria uma forma de a Argentina demonstrar que não há triangulação". Isso porque o produto europeu (41,8%) e o neozelandês (30,9%) pagam tarifa antidumping para entrar no Brasil. 

 

Na avaliação da CNA, que afirma ter apoio de parte do governo para adotar as medidas, o uso de licença não-automática para produtos lácteos seria uma "forma de fiscalizar" se tem ocorrido importações para a reidratação de leite em pó, uma prática vedada no Brasil. "É um instrumento duro para negociar a elevação da TEC", argumenta a senadora. A imposição de preços mínimos, que vigoraram até fevereiro de 2008, seria mais demorada, levando dois anos, avalia. Isso porque exigiria a abertura de uma investigação contra grandes exportadores de lácteos. 

 

O produto argentino tem chegado ao Brasil a R$ 0,41 por litro, segundo a CNA. No Brasil, o produtor recebe R$ 0,59. Outra forma de baratear os custos de produção seria isentar de PIS-Cofins as rações e o sal mineral da alimentação animal. "Isso poderia levar os importadores a comprar produto brasileiro", diz Kátia Abreu. Segundo ela, o custo cairia entre R$ 0,04 a R$ 0,06 por litro. Outra forma de "ação rápida" contra "importações abusivas" defendida pela CNA é um arrocho na fiscalização do produto importado. "Não será com corpo mole que vamos resolver", cobra a senadora. 

 

Veículo: Valor Econômico


Veja também

Entressafra derruba preços da laranja no mercado spot de SP

O início da entressafra da laranja em São Paulo derrubou os preços da fruta ao menor patamar em qua...

Veja mais
Crise de crédito faz Nilza atrasar pagamentos

Com o caixa afetado pela seca de crédito decorrente da crise financeira internacional, a Indústria de Alim...

Veja mais
Brasília planeja elevar preço mínimo do trigo

Preocupado em estimular o plantio da nova safra de trigo para evitar eventuais complicações com o abasteci...

Veja mais
Aumenta importação de lácteos

As importações brasileiras de lácteos cresceram 39,5% em valores, no último ano, atingindo U...

Veja mais
Setor de embalagens tem receita 9% maior, de R$ 36 bilhões

A indústria de embalagens registrou receita líquida de vendas de R$ 36,640 bilhões em 2008, o que r...

Veja mais
Nine Dragons lucra 69% menos

A Nine Dragons Paper, maior fabricante de papel para a fabricação de caixas para embalagem da China, infor...

Veja mais
Distribuição de remédios

Apesar da restrição de crédito e prazos de pagamento reduzidos em até 15 dias, o atacado far...

Veja mais
Comércio teme que substituição tributária leve a inflação forçada

A entrada de novos produtos no regime de substituição tributária está deixando o varejo paul...

Veja mais
Quando o varejo é inteligente

O mundo está cada vez mais consciente a respeito do meio ambiente e os varejistas não são exce&cced...

Veja mais