Vestuário, do sonho ao pesadelo

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Muito tem se discutido sobre uma padronização de medidas para o vestuário, pois grande parte dos consumidores não consegue adquirir roupas em tamanhos iguais e de diferentes marcas. Desde 1995, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) oferece uma norma de medidas do corpo humano, as quais têm sido confundidas com medidas para roupas. As medidas de corpo são aquelas que a modelista utiliza como referência para elaborar seus moldes e muitas vezes a roupa no cabide apresentará um tamanho menor devido à estrutura do tecido, caso de malhas ou materiais com elastano. Há também as roupas que se apresentam bem maiores que o corpo a vestir. Uma bermuda tipo skatista, por exemplo, tem a cintura maior, porque a moda exige que a peça fique caída no quadril.

 

A norma ABNT NBR 13377:1995 não tem atendido o mercado, por isso está em revisão. Em paralelo há um estudo sobre a vestibilidade, que compreende as medidas utilizadas para o desenvolvimento da peça do vestuário. Essas medidas correspondem às do corpo e não às de roupa, as quais consideram características de elasticidade e alongamento do tecido, bem como alterações de resistência mecânica da fibra constituinte de acordo com a umidade do corpo (a exemplo da viscose, que perde resistência a tração quando úmida). Mercadologicamente, levam-se em conta o estilo, a tendência, o público-alvo, etc.

 

As medidas de corpo que indicam a vestibilidade variam de um tipo de peça para outro. Estão diretamente ligadas aos pontos do corpo que determinam o caimento daquela roupa. Para um vestido, por exemplo, os pontos mais críticos são o busto e o quadril, porém, se o modelo for acinturado, será preciso indicar a medida da cintura. A vestibilidade não limita a criatividade do estilista e permite melhor adequação da roupa ao corpo do consumidor.

 

Para uma calça, as medidas do corpo que orientam o consumidor são cintura e quadril. Opcionalmente, pode ser indicada a estatura do corpo. Isso otimiza o consumo da matéria-prima, por um lado, e dificulta a logística, por outro, pois a cada referência de cintura/quadril podemos ter diferentes comprimentos de perna, o que acaba triplicando os estoques nas lojas. Já para roupas infantis a vestibilidade usa como referência, na maioria das peças, a estatura, medida que revela mais sobre o desenvolvimento do corpo da criança do que a idade.

 

Além da indicação das medidas de corpo, é estabelecido um tamanho nominal (P, M, G ou 42, 44, 46...). Atualmente no Brasil temos apenas essa indicação e o problema para o consumidor é enorme, pois para cada marca ele encontra uma referência nominal diferente, obrigando-o a provar antes de comprar ou mesmo impedindo a compra de presentes por falta de uma referência precisa. O tamanho nominal tornou-se ferramenta de marketing. Muitas confecções, para agradar a consumidora que deseja se sentir mais magra, nomeiam tamanhos maiores como fossem pequenos ou médios. Essa mesma consumidora fica feliz ao comprar uma roupa tamanho 14 para seu filhinho de oito anos.

 

Para muitos confeccionistas e lojistas, a compra de roupas ocorre no provador e pela forma de atendimento, porém eles não avaliam as vendas perdidas quando o cliente não tem tempo para provar ou sofre de claustrofobia. E na prova da roupa há o risco de rasgos, manchas de maquiagem e suor. Também os internautas enfrentam dificuldade para comprar via site, diante de medidas imprecisas.

 

Enfim, a solução para a indicação de tamanhos não reside numa norma que contemple o sonho (ou talvez pesadelo) de incluir todas as medidas do corpo do brasileiro em um padrão que não atenderia a ninguém. Com a alternativa da vestibilidade, teríamos a adequação do vestuário a diferentes tipos de corpo, dependendo do nicho de mercado de cada confecção.(Maria Adelina Pereira, engenheira, é gestora do Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário)

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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