Comerciantes do Estado vivem clima de pessimismo para o final de ano.
A um mês das festas de fim de ano, período em que tradicionalmente o comércio mais fatura, indicadores apurados por diferentes fontes coincidem ao revelar o pessimismo de consumidores e comerciantes no Estado do Pará. Um exemplo é a Intenção de Consumo das Famílias (ICF), medida pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que fechou outubro com o segundo pior nível no Estado, desde o início da série histórica, em janeiro de 2010.
Em queda livre desde dezembro de 2014, o indicador no Estado registrou em outubro a média de 91,5 pontos, sendo superior somente ao resultado do mês de setembro passado, quando apontou o índice de 89,2 pontos. Segundo os dados da CNC, foi o quinto mês consecutivo que a intenção de consumo das famílias paraenses ficou abaixo de 100 pontos, o que indica um cenário inédito de percepção de extrema insatisfação com a situação econômica atual. Para efeito de comparação, há 12 meses, em outubro do ano passado, o ICF no Estado estava em 130,3 pontos.
"Essa queda é resultado da continuidade do quadro de deterioração do País nos últimos 12 meses, com aceleração da inflação, enfraquecimento da atividade econômica e aumento da incerteza política. Pela primeira vez, desde 2004, nós vamos ter um Natal sem crescimento de vendas, segundo a previsão da CNC diante desse cenário. A previsão varia por Estado, mas a média da queda nacional é em torno de 4%. Ou seja, as vendas desse Natal cairão, pelo menos, 4% em relação ao mesmo período do ano passado, sendo mais intensa em alguns Estados", avalia a assessora econômica Juliana Serapio, da equipe CNC.
"O mais grave no momento e que melhor justifica essa situação é a questão do emprego. Um ano em que a taxa de desemprego aumentou muito e a geração de vagas não está acontecendo, as pessoas não estão inclinadas a gastar, nem mesmo em datas comemorativas, porque não tem garantia alguma de salário e de emprego", completa.
A situação descrita pela economista pode ser atestada pelos números do Ministério do Trabalho e Emprego, que apontam o Pará como um dos Estados mais afetados pela crise econômica nacional. Entre janeiro e setembro desse ano, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o Estado perdeu mais de 10,6 mil postos de trabalho, o que corresponde a alarmante média de quase 40 vagas de trabalho fechadas por dia.
Esse quadro jamais visto no Estado ratifica as projeções do Portal Trabalho Hoje, feitas com exclusividade para O LIBERAL, no último mês de julho, que apontam a redução no Estado de 26.398 empregos celetistas até o fim de 2015. Ainda nessa projeção de um inédito saldo negativo de empregos formais ao fim do ano, os especialistas em economia do trabalho ressaltaram que o número de postos fechados poderia oscilar em razão da intensificação das contratações nesse segundo semestre, até setembro, período em que as empresas começam a preparar a produção para as festas de fim de ano.
No entanto, ao contrário dessa expectativa, o que se confirmou foi o pessimismo dos empresários do comércio. Levantamento realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) para mapear a intenção de contratação de trabalhadores temporários pelo comércio varejista no final do ano, aponta que 88% dos empresários consultados em todo o Brasil, inclusive no interior e na capital do Pará, não contrataram nos últimos três meses e não pretendem contratar funcionários para o final do ano. Para os economistas do SPC Brasil, a baixa intenção de contratação está ligada ao pessimismo com as vendas.
De acordo com o levantamento, 44% dos empresários acreditam que as vendas em 2015 serão piores do que as registradas em 2014, devido, principalmente, ao cenário econômico menos favorável (29%), ao desemprego (20%) e à diminuição do poder de compra com a inflação (16%). Um dado que corrobora a baixa perspectiva, é que para 50% dos comerciantes consultados o faturamento dos últimos três meses foi mais fraco que o esperado.
"As contratações temporárias sempre foram uma boa oportunidade para o jovem que está procurando o primeiro emprego ou para quem está desempregado e quer se reposicionar no mercado de trabalho. Neste ano, porém, a crise econômica derrubou a expectativa de faturamento dos varejistas e por isso poucos comerciantes pretendem contratar nos próximos meses", defendeu o presidente da CNDL, Honório Pinheiro.
Ao invés das tradicionais contratações temporárias nessa época, o comércio varejista do Pará tem investido no enxugamento do quadro de funcionários.
Em setembro, o setor foi responsável pela redução de 351 postos de trabalho, um recorde para o mês, o que corresponde a cerca de uma demissão a cada duas horas. Não por menos, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio do Pará (ICEC), calculado pela CNC, também apontou um dos mais baixos resultados da história. Caiu de 117,9 pontos em setembro de 2014 para 89,0 pontos em setembro desse ano. Segundo a pesquisa, a queda se deve, principalmente, às análises relacionadas a investimentos, como contratações de funcionários e aumento dos estoques, onde foram verificadas as menores pontuações.
Outro ponto que acera o pessimismo dos consumidores e comerciantes paraenses é o cenário de um Natal sob a sombra da maior inflação registrada no Estado nos últimos dez anos, com risco eminente de chegar em dezembro a dois dígitos. Os dados mais recentes da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) registrou em Belém alta de 0,63% em outubro, resultando a variação acumulada no ano de 7,06% e de 8,79% ao longos dos últimos doze meses.
"Ainda estão previstos reajustes nos preços dos combustíveis e da energia elétrica até o fim do ano, que impactam diretamente no bolso dos consumidores da região Norte, sobretudo, nos produtos da Cesta Básica, que já é a mais cara do Brasil, na comparação com a das outras regiões. Há anos não tínhamos inflação desse tamanho no Brasil. Imagino que a inflação da cesta básica na região chegue acima de 11% em dezembro, quase o dobro do que se espera pelo plano econômico, que o patamar é 6,5%", analisa o diretor-executivo da GfK, Marco Aurélio Lima, consultoria responsável pelo índice Abrasmercado, que acompanha as oscilações de preços e gastos familiares em lojas de supermercados.
Veículo: Jornal O Liberal - PA