Bacalhau, frutas secas, azeites, vinhos e espumantes foram impactados.
Quem costuma elaborar uma ceia de Natal recheada de produtos importados deve preparar o bolso para preços até 30% maiores este ano. A estimativa é da Associação Brasileira de Exportadores e Importadores de Bebidas e Alimentos (ABBA). O dólar subiu 60% desde outubro do ano passado, chegou a ultrapassar a barreira dos R$ 4, e pesou sobre as importações de bacalhau, frutas secas, azeites, vinhos, espumantes e até do panetone nacional, já que o preço do trigo é cotado na moeda americana. No Rio, o presidente da Associação de Supermercados do Estado (Asserj), Fábio de Queiroz, diz que esses produtos já estão, em média, 20% mais caros, e que o repasse ao consumidor carioca só não está maior, porque o mercado local é bastante concorrido, e os varejistas acirraram as negociações com os fornecedores para evitar aumentos mais altos.
— Seria mentira dizer que não haverá repasse ao consumidor. Uma tática dos supermercados contra a crise, para não deixar de vender, é oferecer o máximo de opções que caibam em todos os bolsos, sejam nacionais ou importados. O que importa é vender — ressalta Queiroz.
Queda nas vendas
De acordo com o presidente da ABBA, Adilson Carvalhal Junior, a venda de bebidas e alimentos importados deve cair cerca de 10% neste ano, em relação a 2014:
— O consumidor vai migrar para um produto que cabe no seu bolso, pois a inflação disparou e corroeu a renda.
Temendo afastar o cliente, que já tem reduzido suas compras a níveis históricos, alguns varejistas do Rio, no entanto, garantem ter optado por reduzir a margem de lucro e amenizar o repasse da alta do dólar para no máximo 10%, como é o caso da delicatessen Deli Delícia, com unidades na Barra da Tijuca e em Botafogo.
— Em média, os importados ficaram 30% mais caros para nós. Nos vinhos, o acréscimo chegou a 40%. Estou baixando minha margem e repassando só entre 5% e 10% para não perder venda. Nossos clientes costumam viajar para o exterior e já estão vendo que no freeshop não vale mais a pena comprar. Por isso, ainda acredito que terei um bom fim de ano — conta André Pedrosa, gerente comercial da rede.
O Zona Sul adotou tática semelhante, explica Pietrangelo Leta, vice-presidente comercial da rede:
— Como os importados são estratégicos, representando 16% do nosso faturamento, para não perder a competitividade e manter o volume de vendas vamos abrir mão da margem, até porque eles já sofreram reajustes ao longo do ano.
Preços travados
Quem fechou preço com os fornecedores no primeiro semestre, com o dólar abaixo dos R$ 3,50 também garante que o repasse não deve chegar a 10%, como é o caso do Prezunic, que promete vender sem novos reajustes damasco seco, uvas passas e bacalhau do porto. Já os vinhos importados devem ter acréscimo de 8% nos preços. Otimista, o diretor comercial do Prezunic, Alex Ribeiro, estima que o volume de vendas dos produto típicos de Natal deve crescer 5% neste fim de ano, em comparação a 2014. De acordo com Ribeiro, a tabela da indústria nacional de panetones também chegou com preços de 10% a 15% maiores do que no ano passado para a rede. Em 2014, o aumento havia ficado em 5%.
Maria Fortini, de 53 anos, já percebeu aumento no preço dos azeites de importados. Mesmo assim, não abre mão de levar para casa o que acredita ter mais qualidade:
— Sempre tem alguma marca em promoção. Não abro mão de um importado e, no caso dos azeites, nossas terras não são boas para o cultivo de olivas e o sabor é muito diferente.
Enfeites mais custosos
A alta do dólar também pesou sobre os enfeites de Natal, que são 100% importados da China. A Caçula, uma das maiores varejistas do setor no Rio, vai reajustar os preços em até 35%. Nos últimos anos, o aumento não passava de 10%, conta o gerente de compras da rede, Francisco Lopes Rodrigues.
— Enquanto em 2014 fechamos nossas compras com os chineses a um câmbio a R$ 2,20, este ano o valor passou para R$ 3,15. Então, reduzimos em 30% a compra de enfeites de Natal. Não vamos faturar mais do que no ano passado.
Segundo Gustavo Dedivitis, presidente da Associação Brasileira de Importadores, Produtores e Distribuidores de Bens de Consumo (Abcon), esta é a maior crise vivida pelo setor pelo menos nos últimos 15 anos. Segundo ele, em média, o faturamento dos associados já caiu 50% este ano, levando muitas importadoras a fechar as portas. Número que tende a aumentar em janeiro:
— Após o pagamento do 13° aos funcionários, será uma quebradeira total.
O problema, explica ele , é que os produtos encareceram e, como os consumidores não compram, muitas empresas estão com os estoques encalhados e mal conseguem pagar os chineses.
Televisores, eletroportáteis e eletrônicos da linha branca, compostos em boa parte por componentes importados, também já estão mais caros. E, diferentemente dos anos anteriores, quando as vendas do último trimestre cresciam entre 15% e 20%, o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula, estima que serão vendidos 30% menos televisores, 17% menos produtos da linha branca e 14% menos portáteis.
Veículo: Jornal O Liberal - PA