Cerca de metade da população brasileira já tem acesso à internet – no fim de 2014, eram 107,7 milhões de internautas, de acordo com a consultoria e-Marketer. Desse total, cerca de 60 milhões já realizaram compras pela Internet. Esses e-consumidores são preponderantemente de classe média e estão mais maduros. É o que atesta Leandro Soares, diretor do MercadoLivre, maior marketplace da América Latina. Segundo ele, um terço dos que têm acesso à Internet “passam” pela plataforma da empresa e possuem o seguinte perfil socioeconômico: 20% são da classe A; 60% da classe B; e 20% das classes C,D e E, conforme a classificação do IBGE.
O consumidor online evoluiu nos hábitos de compra. Essa evolução é medida a partir de quatro estágios, segundo o executivo do MercadoLivre: no primeiro ele realiza operações que não envolvem valores, tais como consulta a extratos e envio de e-mails. No segundo nível, já faz transações simples, como pagamento de contas. No terceiro, ele compra produtos cujos preços podem ser comparados, como livros, CDs e aparelhos celulares. No quarto estágio, o comprador online já se sente seguro e tem habilidades para adquirir produtos que não são comparáveis, como roupas, calçados e produtos de decoração.
“É nesse estágio que o consumidor precisa de um nível de abstração maior e no qual os e-consumidores brasileiros estão chegando agora. Uma prova é que as categorias que mais crescem são as de casa/decoração, calçados/roupas/bolsas, saúde/beleza e esporte/fitness, porque o consumidor vem desenvolvendo o hábito de comprar produtos que não obedecem a um padrão”, explica Soares.
O comprador online brasileiro – um universo que inclui 51% de homens e 49% de mulheres, segundo a consultoria E-bit – tem suas peculiaridades. Celina Ma, gerente de Marketing do MercadoPago, facilitador de pagamento do MercadoLivre, cita pesquisa realizada com usuários deste meio de pagamento dizendo que 75% das pessoas consultadas revelaram abandonar o carrinho quando o valor final da compra tem um acréscimo no preço devido ao frete ou a outras taxas. Para 35% dos entrevistados, o prazo de entrega longo também pode levar à desistência da compra.
Preferência é por compras parceladas
Embora as vendas à vista estejam crescendo, hoje 80% dos consumidores online ainda preferem o parcelamento. No MercadoPago, 27% do usuários parcelam de duas a três vezes as suas compras; 23% de quatro a seis; e 25% dividem em mais de 10 vezes o valor do produto adquirido.
Quanto ao dispositivo de acesso, pesquisa do Instituto Ipsos, encomendada pelo MercadoPago, revelou que, em 2014, 97% das pessoas que fizeram algum tipo de pagamento online utilizaram desktop ou notebook. Outros 21% usaram o celular e 12% tablets. Celina diz que o crescimento das compras por meio dos dispositivos móveis é acelerado e irreversível.
“Refizemos a pesquisa em 2015 e verificamos que o acesso via computador caiu para 93% e o de celulares dobrou, passando a 45%, enquanto o uso do tablet manteve-se estável, em 13%”, revela Celina.
Raquel Abrantes, analista de e-commerce do Sebrae/ RJ, diz que devido à incerteza da economia, o consumidor online – assim como aquele das lojas físicas – está mais observador e cauteloso. Segundo dados da consultoria E-bit, em agosto, pela primeira vez, em 15 anos, o comércio eletrônico nacional apresentou uma retração.
“O consumidor está pesquisando mais, visitando os buscadores e procurando mais vantagens em preços e prazos. E está mais consciente de seus direitos. Um exemplo é o comportamento em relação à Black Friday. Seguindo orientação do Procon e da Câmara E-net, os consumidores estão pesquisando os preços com até dois meses de antecedência para avaliar se no dia da promoção os valores são realmente reduzidos ou se foram aumentados poucos dias antes para simular um desconto na data promocional”, conclui Raquel.
Veículo: Jornal O Globo - RJ