Categoria recuou 28,7% em outubro contra um ano antes, influenciada pela baixa confiança dos brasileiros, que têm reduzido a demanda por veículos e eletrodomésticos, e não sinaliza melhora.
A atividade industrial encolheu na passagem de setembro para outubro e em relação ao décimo mês de 2014. No período, segundo especialistas, chama a atenção a forte queda na produção de bens de consumo duráveis, que tradicionalmente cresce nessa época.
"Quando se observa a série histórica das categorias, essa mudança no perfil da atividade fica muito clara. No período entre julho e outubro, principalmente, é possível ver sempre uma alta da produção em função do atendimento à demanda para o final do ano. Mas, em 2015, o setor fugiu desse padrão, ainda refletindo estoques elevados", observa o gerente de coordenação de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), André Macedo.
De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal, divulgada ontem pelo IBGE, a indústria, em geral, encolheu 11,2% em outubro na comparação com igual mês do ano passado. O IBGE destaca que, neste ano, o mês de outubro teve dois dias úteis a menos. No ano, a atividade industrial acumula retração de 7,8% contra o o mesmo período de 2014.
As categorias de bens de capital e de consumo duráveis lideram as perdas em todas as bases de comparação. Em bens de capital, a principal influência negativa partiu de equipamentos de transporte (-30,2%). Já na categoria bens duráveis, a produção de automóveis (-17,6%) e eletrodomésticos (-21,9%) tiveram maior peso.
Segundo Macedo, a piora no desempenho em bens duráveis pode ser explicada pela baixa confiança dos brasileiros no futuro. Sem perspectiva de mudança no cenário macroeconômico, a demanda por bens duráveis tem caído, em movimento similar ao visto em bens de capital.
"A mesma lógica de que a confiança em nível mais baixo inibe os investimentos por parte dos empresários - que explica parte da retração em bens de capital - é semelhante em bens de consumo. As famílias, em função da renda menor e do aumento da taxa de desemprego, tem adiado o consumo de bens duráveis."
Para ele, enquanto a confiança estiver baixa, a tendência de queda vista nos últimos meses não deve mudar.
Na avaliação do economista da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira, além da baixa confiança dos brasileiros, o fato dos bens duráveis não serem de necessidade básica, torna a categoria ainda mais vulnerável a oscilações na demanda.
"Diferentemente dos bens semiduráveis, quando o consumidor está com a renda menor ou menos confiante, ele não compra bens duráveis", lembra. O economista destaca ainda que o cenário político tem sido um fator contra a melhora da confiança do brasileiro e deve continuar influenciando a economia no próximos meses.
"A política está efetivamente mexendo com as expectativas dos agentes [investidores e consumidores]. Como não conseguimos formar um cenário claro quanto a política e as decisões econômicas fundamentais para o País, os agentes ficam mais conservadores, agravando ainda mais a situação da indústria", afirma ele.
Silveira acrescenta que "se o processo de impeachment caminhar, serão mais quatro meses de paralisação das decisões políticas e econômicas e, o que hoje está ruim, vai piorar como a situação da indústria".
O economista se refere a decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que aceitou o pedido de abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, na noite de quarta-feira (2). Na visão do economista, processo acrescenta mais incerteza ao cenário político do País e piora o clima de confiança.
Extrativista
Outros fatores devem pressionar o indicador de atividade no curto prazo. Em novembro, a indústria extrativista, que tem importante influência, deve refletir a queda na produção de petróleo e gás, devido a greve de petroleiros da Petrobras. A companhia deixou de produzir 2,29 milhões de barris de petróleo e 48,4 milhões de metros cúbicos de gás natural, no mês passado, informou a estatal recentemente. A pesquisa também pode ser impactada pela paralisação das atividades da Samarco, em Minas Gerais, após o rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração em Mariana (MG). "É difícil prever o impacto no setor como um todo", afirmou.
Veículo: Jornal DCI