A suíça Roche acertou a compra, por US$ 46,8 bilhões em dinheiro, dos 44% da pioneira de biotecnologia Genentech que ainda não possui, pondo um fim a prolongada disputa entre as companhias. O acordo, que avalia a totalidade da Genentech em mais de US$ 100 bilhões, ressalta até que ponto as farmacêuticas estão dispostas a chegar para respaldar as fracas linhas de desenvolvimento de novas drogas.
O acordo, fechado a US$ 95 a ação, leva para a Roche as vendas integrais dos altamente lucrativos remédios para câncer da Genentech, bem como sua promissora pesquisa e desenvolvimento de remédios. O negócio, uma oferta de aquisição aprovada pelo conselho de administração da Genentech, oferece US$ 95 por ação para os 44% da Genentech. Esta é a mais recente de uma explosão de mega-negócios entre farmacêuticas, na esteira do anúncio da Merck, na segunda-feira, de que comprará Schering-Plough, e da aquisição pendente da Wyeth pela Pfizer.
O conselho de administração da Genentech recusou a oferta amigável inicial da Roche, de US$ 89 a ação, de julho. A Roche surpreendeu com uma proposta reduzida de US$ 86,50 a ação em 30 de janeiro, dirigida aos acionistas. A seguir, a fabricante da Suíça elevou sua oferta para US$ 93 a ação, na sexta-feira. A Roche disse que captou um financiamento de US$ 36 bilhões e que pode conseguir o resto por meio de endividamento ou com o caixa disponível. O presidente do conselho de administração da Roche, Franz B. Humer, disse que a iniciativa tirará proveito do "sólido valor da marca Genentech no mercado dos EUA".
O Avastin, tratamento de câncer, campeão de vendas da Genentech, é um dos medicamentos de biotecnologia mais vendidos no mundo. A exemplo de outros medicamentos de biotecnologia, é produzido usando células vivas - um processo mais complicado e mais oneroso do que as drogas tradicionais, o que torna as de biotecnologia mais caras. O Avastin pode custar US$ 50 mil por ano.
No momento em que o governo dos EUA tenta ajudar no controle de preços de medicamentos com prescrição médica a consolidação poderá se tornar algo auspicioso para a indústria, disse Damien Conover, analista de ações do Morningstar. Os investidores, porém, continuaram preocupados sobre com a cultura na Genentech, que é conhecida por sua pesquisa de ponta e como um lugar em que os cientistas podem ter sucesso. "Este é o aspecto que considero negativo", disse Conover. "Muitos cientistas permanecerão por causa da consolidação com a Roche, mas muitas pessoas empreendedoras poderão se decidir a sair".
A Roche informou que mudanças administrativas potenciais permanecem sob discussão, o que deixa sem resposta perguntas sobre o papel futuro do executivo-chefe da Genentech, Arthur D. Levinson. Ele entrou na companhia em 1980 na condição de cientista sênior e galgou posições até ser nomeado para o cargo atual, em 1995. Nesta função, ajudou a transformar a companhia numa potência farmacêutica de sucesso.
A área de pesquisa e desenvolvimento inicial funcionarão como um centro independente dentro da Roche, a partir do campus da Genentech, no sul de San Francisco. A Genentech, fundada em 1976, tem atuado estreitamente com a Roche por duas décadas, que adquiriu sua primeira participação na empresa em 1990.
Veículo: Valor Econômico