Indústrias tentam manter fatia de mercado com menos aporte

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A indústria brasileira deve atravessar mais um ano de baixo investimento. Os poucos aportes previstos para 2016 vão no sentido da manutenção de fatia de mercado e ganho de produtividade para enfrentar a concorrência mais acirrada dentro e fora do País.

"Começamos a ver as empresas mais preocupadas em aumentar a produtividade, isso aparece no aumento do percentual de industriais que investiu e planeja destinar recursos para melhoria de processos", observa o gerente de pesquisa da CNI, Renato da Fonseca.

De acordo com pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), apenas 64% dos industriais brasileiros pretendem realizar investimentos em 2016. No ano passado, 74% declarou ter feito aportes, o menor percentual visto desde o início da série histórica em 2010.

Segundo Fonseca, as empresas que conseguirem manter os investimentos para aprimorar o processo produtivo vão sobreviver a crise e apresentar retomada mais rápida. Diferente do visto em anos anteriores, quando a demanda em alta levou a indústria a concentrar aportes na expansão da capacidade produtiva, o foco agora é se manter em um mercado menor e mais competitivo.

"Os aportes previstos na pesquisa da CNI não significam que as empresas esperam alta nas vendas este ano. Esse é um investimento defensivo, para evitar uma perda maior de participação de mercado", diz ele.

Balança comercial

Para o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Nelson Marconi, as empresas que aproveitarem o atual cenário para investir em aumento de produtividade terão melhores condições de competir com importados, ao mesmo tempo que poderão exportar também.

"O setor externo pode ser o alento da indústria este ano, mas isso não deve ser suficiente para vermos uma recuperação do nível de investimento, porque as empresas continuam com um alto índice de capacidade ociosa", pondera Marconi.

Para ele as indústrias extrativa e de papel e celulose devem apresentar melhor desempenho em 2016, ajudados pelo setor externo. Internamente, Fonseca, da CNI, cita a indústria química como um dos setores cuja expectativa de aportes é um pouco melhor que a média geral. A indústria farmacêutica e de alimentos também podem se manter em melhor patamar nos próximos meses.

"O investimento produtivo nos últimos anos foi muito voltado ao mercado interno, mas já vemos um crescimento no percentual de empresas que dizem que vão investir para exportar e há redução de indústrias que planejam atender apenas a demanda doméstica", comenta o porta-voz da CNI.

Ao mesmo tempo existe uma torcida dos industriais de conseguir substituir os importados - devido ao aumento do dólar sobre o real, o que acabou encarecendo os produtos fabricados fora do País -, embora o movimento ainda esteja apenas no campo das expectativas.

"A situação enfrentada pela indústria na substituição de importados é parecida com o visto em exportação. Competir ficou mais fácil desde 2015 com a desvalorização do real, mas ainda é preciso avançar em produtividade", observa.

A defasagem tecnológica dos produtos brasileiros é outro problema a ser enfrentado pelas fabricantes para manter ou ampliar as vendas, destaca o professor do Insper, Otto Nogami.

"Além do investimento necessário no processo produtivo, os empresários precisam investir em inovação de produto para agregar tecnologia e ter qualidade para fazer frente aos concorrentes. O preço mais competitivo será consequência desse processo", defende ele.

Pequeno porte

A necessidade de manter e fazer aportes em inovação não fica restrita às indústrias de grande porte, lembra Nogami. Para ele, sem investimentos para aumentar a competitividade, as empresas menores não vão conseguir se manter.

Avaliação similar é feita pelo presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi), Joseph Couri. "É necessário investir para modernizar as fábricas, mas o que temos visto nos nossos levantamentos mensais é um número cada vez maior de empresas fechando as portas. As indústrias estão sem caixa e para as micro e pequenas esse cenário é ainda pior, porque não há acesso ao crédito", diz.

No levantamento do Simpi, a média do indicador de intenção de investimento no ano passado foi de 29 pontos, abaixo dos 100 pontos que equivalem a estabilidade. Números próximos de 200 pontos sinalizam alta.

"O faturamento das empresas está em queda e os custos continuam subindo por causa da inflação. Isso claramente afeta o caixa dessas empresas, mas os empresários precisam entender que crises são cíclicas e é necessário formar reservas de capital para enfrentar momentos como o vivido atualmente", defende Nogami, do Insper.

O professor afirma que a reserva de recursos financeiros se faz mais necessária para empresas de menor porte, já que elas geralmente não têm acesso a linhas de crédito e, quando têm, pagam mais caro que as grandes indústrias e têm prazos menores para liquidação.

 



Veículo: Jornal DCI


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